O presidente do Ipardes (Instituto Paranaense de Desenvolvimento), José Moraes Neto, prevê para a partir de maio a retomada do crescimento industrial no Paraná, impulsionada pela produção agrícola, que este ano deve atingir 24,9 milhões de toneladas – 11,16% maior que a safra passada - aliada à queda gradativa das taxas de juros e ao fim das restrições de alguns países importadores de carne bovina.
“O aumento da produção agrícola vai capitalizar o agricultor, aumentando a demanda por produtos industriais”, argumenta José Moraes Neto, que atribui o declínio de 6,8% na produção industrial estadual nos primeiros dois meses do ano a uma combinação de fatores, como a ocorrência de distorções climáticas (secas) por três safras consecutivas, o câmbio defasado, o declínio dos preços internacionais das commoditties agrícolas e o aparecimento de problemas fitossanitários, como a febre aftosa e a gripe aviária. “Tudo isso retiraram expressiva capacidade de geração de renda dos ramos ligados direta e indiretamente ao setor primário regional”, acrescentou.
Segundo ele, outro fator negativo foi a intransigente defesa e prática de juros reais elevados pelo Ministério da Fazenda, que contribuiu para a compressão do consumo e dos investimentos privados, e a contenção do “poder de fogo” do dispêndio e das inversões públicas. “Adicionalmente, os juros altos criaram constrangimentos às exportações, decorrentes da produção de uma indesejável sobrevalorização da taxa de câmbio, resultado da impulsão da oferta de dólares no mercado interno, provocada pela atração de capitais externos voláteis e, em menor medida, pelos superávits contabilizados pela balança comercial, em razão do incremento da demanda mundial”, explicou.
A performance negativa da indústria regional no começo de 2006 foi influenciada decisivamente por veículos automotores (-24,6%), máquinas e equipamentos (-18,4%), química (-7,9%), madeira (-7,8%), mobiliário (-7,2%), minerais não-metálicos (-5,7%) e alimentos (- 1%). O economista Gilmar Mendes Lourenço, do Ipardes, informou que a redução da produção de veículos deriva dos impactos da transferência da linha de automóvel Fox Europa da Volkswagen de São José dos Pinhais para São Bernardo dos Campos, em São Paulo, no segundo semestre de 2005, em atendimento à programação da companhia determinada por pressões e negociações de natureza sindical.
Já em relação às máquinas, química (adubos e fertilizantes) e alimentos, os recuos podem ser imputados à crise na agropecuária. “Nos segmentos de mobiliário e minerais não-metálicos, o encolhimento experimentado advém da mais que decenal instabilidade da construção civil, apesar da recente redução de impostos para a cesta básica de insumos. O comportamento depressivo do ramo madeireiro resulta do câmbio não competitivo”.
Mas o presidente do Ipardes faz questão de destacar que, em meio a esse ambiente desanimador para alguns, emergiram desempenhos positivos, como do setor de borracha (22%- produção de pneus), bebidas (19%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (10,7%) e celulose (9%- aquecimento da demanda externa). “Assim, podemos dizer que com a volta à normalidade a indústria paranaense terá desempenho positivo nos próximos meses”, concluiu José Moraes Neto.