A integração e o fortalecimento dos países da América do Sul foi o assunto do painel de debates que abriu a programação desta quarta-feira (10) do seminário “Crise: Rumos e Verdades”, organizado pelo Governo do Paraná. As diferenças internas dos países, dificuldades na criação de uma moeda única, problemas diplomáticos e alternativas para evitar a recessão mundial foram debatidas por economistas e autoridades do Brasil, Equador, Venezuela, Argentina.
Participaram das discussões o ex-ministro argentino Aldo Ferrer; o presidente do Banco Central da Venezuela, José Felix Ribas; o representante do Banco Central do Equador, Marco Naranjo Chiriboga; o secretário de planejamento do Paraná, Ênio Verri; e o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Carlos Medeiros. A intermediação da mesa ficou por conta do jornalista Beto Almeida.
Veja alguns dos principais pontos do debate final do painel:
Aldo Ferrer – ex-ministro da Argentina
“Eu diria que estamos aqui diante deste desafio de construir as políticas nacionais adequadas à realidade de cada um dos nossos países e, em cima dessas bases, estabelecer os mecanismos que nos permitam reforçá-los reciprocamente no terreno comercial dos investimentos, no ajuste das posições feitas pelos organismos internacionais.”
“Acredito que ganhamos muito na América do Sul e na América Latina em termos diplomáticos e em termos políticos ao adotarmos posições comuns, como a alternativa Mercosul. Sem dúvida alguma houve progressos notáveis, mas ainda resta muito a fazer.”
“Volto a insistir: quanto mais eficazes forem nossas políticas nacionais de levar adiante o potencial dos nossos países, melhor será a integração. A integração acontece em vários planos e terá que ser eqüitativa, com regras que nos permitam participar do intercâmbio, do progresso tecnológico, e acontece em uma esfera transnacional em um posicionamento conjunto. É nessa terceira esfera, que acontece no plano diplomático, onde conseguimos as melhores conquistas”.
Marco Jaranjo Chiriboga – representante do Banco Central Equador
“Temos a possibilidade de um grande mercado na América latina. Um grande mercado sul-americano que permita substituir o mercado do Norte que com a crise pode vir a se perder.”
“As crises são, na América Latina e na América do Sul, grandes possibilidades de criação de mercados e de ampliação de mercados, de substituição de importações com bases na conformação de um mercado mais amplo”.
“E nesse sentido me parece importante termos a infraestrutura, porque existem vários projetos entre o Brasil e o Equador, entre o Equador e a Venezuela, que também dinamizariam a estrutura interna. Como por exemplo a estrada Manta-Manaus, que permitiria ao Brasil uma saída para o Oceano Pacífico e os mercados do Extremo Oriente”.
Carlos Medeiros – professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro
“Gostaria de fazer um comentário sobre a questão de uma moeda regional. Eu sou bastante cauteloso quanto a isso. A experiência de uma moeda regional como o euro tem gerado, sobretudo agora, uma grande preocupação por parte das economias mais débeis da Europa. A Espanha, a Itália, crescem a taxas reduzidas e um dos elementos principais é a amarração que a política monetária exerce sobre as economias de menor grau de produtividade”.
“Portanto eu seria muito cauteloso em relação a uma moeda regional, devido aos efeitos que ela provoca em áreas assimétricas do ponto de vista do grau de investimento. Eu sou favorável a outros elementos de cooperação macroeconômicos, de fundo de reservas, mecanismos de financiamento regional que operassem com taxas diferenciadas. Assim poderiam de fato criar mecanismos indutores para uma redução das assimetrias e eventualmente se pudesse discutir a questão da moeda. Mas ela não deve de forma alguma pautar o universo do processo de integração”.
Ênio Verri – secretário de Planejamento do Paraná
“Nós temos que tomar cuidado porque o objetivo da integração, especialmente no momento de crise, é a redução de assimetrias. Mesmo com toda a preocupação política de um país como o Brasil, ele pode reproduzir uma imagem menor do papel dos EUA em um processo de organização, mas ele pode ser aquele que impõe sobre os pequenos uma realidade. Parece-me que não é esse o objetivo quando se fala em um processo de integração da América do Sul”.
“Ao mesmo tempo, é importante perceber que essa crise abre uma grande oportunidade para nós da América do Sul. Historicamente, toda vez que os países desenvolvidos têm uma crise, salvo raras exceções, eles ficam preocupados com a crise deles e nos dão um tempo para poder crescer e dar um salto de qualidade. Portanto temos que pensar longe.”
“Fazer investimentos que nos permitam em longo prazo um novo referencial dentro da disputa mundial. Nesse sentido me parece que sair daqui com uma clara idéia do que é essa crise, seus possíveis efeitos e tendo uma oportunidade de aprofundar a integração de nossos países e a regionalização de nossas políticas faria a grande diferença para o futuro do nosso povo”.
José Felix Ribas - presidente do Banco Central da Venezuela
“A integração necessita de propostas nacionais. No caso da Venezuela, nós não vamos conseguir a revolução da nossa sociedade se não se fizer um processo de transformação na região. Eu acredito que haja necessidade do processo de união dos países, dos povos, baseado na necessidade do desenvolvimento de nossas economias. Um outro elemento importante é o resgate de um desenvolvimento endógeno, favorecendo nossas capacidades produtivas internas”.