Há três anos os índios Kaingangs, alunos do Colégio Estadual Indígena Cacique Gregório Kaekchot, de Manoel Ribas, lutaram pelo direito de jogar futebol descalços. Superada essa dificuldade, brigaram contra a falta de recursos para treinar. Também venceram o descrédito dos educadores da própria cidade onde moram, e nesta fase regional da 53ª edição dos Jogos Escolares do Paraná (Jocops), em São João do Ivaí, estão participando com três equipes: futebol masculino B – para jogadores até 14 anos –, masculino A – de 15 a 17 – e futsal feminino B.
No campo, os maiores venceram duas partidas e perderam duas, terminando a competição em terceiro, num grupo de cinco. Os pequenos jogaram contra três adversários e ganharam de dois. Só foram derrotados pelos campeões da cidade de Lunardelli. Porém, a equipe do futsal feminino B é a sensação do grupo indígena. Pela primeira vez nessa modalidade, as meninas superaram as expectativas de toda a comissão técnica.
A diretora do Colégio, Terezinha Amélia Menck Dirkesen, foi surpreendida pelo desempenho: “A gente contava mais com os meninos”, entrega. Em quadra, pés descalços e muita disposição. O esquema tático não é bem definido: “Quatro pegam quatro”, conta o técnico da equipe, Adalton Grasan Cordeiro, explicando que elas têm de correr atrás da adversária que está com a bola.
Para se adaptar ao futsal as meninas treinaram apenas duas semanas. Na aldeia elas contam apenas com um campo de grama. A quadra é ruim e não tem traves. O treinamento é pesado: “Esse time treina contra a nossa equipe de futebol A”, diz a professora de educação física, Vera Lúcia dos Santos Oliveira. E a prática deu certo.
Na primeira fase foram duas vitórias e uma derrota, avançando como segundo lugar do grupo. Pelas semifinais atropelaram o time da casa por 7 a 3. Terminado o jogo, veio a notícia de que a partida da final estava marcada para as 8h da manhã. A atleta Rosilda Crispim, que no mesmo dia havia dito que estava com torcicolo, “mas vou lutar até o fim”, riu e falou para a professora: “Vim de lá quando os galo cantá”, se referindo ao trajeto de 85 quilômetros que teriam de percorrer entre a aldeia Kayngang de Manoel Ribas, onde moram, e São João do Ivaí.
Aliás, sorriso é a coisa mais fácil de ver nos rostos deles. A curiosidade também é grande quando vêem uma máquina fotográfica ou um celular. “Tio, tira foto de nós”, brinca Adriana Crispim, artilheira da equipe com 13 gols na competição. Os olhos delas brilham quando questionadas sobre os anseios dentro da competição: “Nós qué ganhá pra í pra Curitiba”, sonha Adriana.
Na final, rostos pintados indicam que vão pra guerra. Mas bastou a bola rolar para começar o sofrimento. Mostrando superioridade em quadra, as atletas do Colégio Estadual Marechal Floriano Peixoto, de Grandes Rios, abriram 4 a 0 no primeiro tempo, sepultando as esperanças de título das índias. No final, inapeláveis 9 a 2 e o fim do sonho de visitar a capital do Estado para disputar a final dos jogos em julho. “Mas elas já são vencedoras”, diz, emocionada, Terezinha.