Idealistas se aventuram em ferrovia desativada

Viagem foi numa “Maria-Fumaça 310”, uma aventura de 140 quilômetros até Porto União, Santa Catarina, cidade gêmea de União da Vitória
Publicação
01/06/2010 - 18:34
Editoria
Um grupo de idealistas simpatizantes do trem – entre eles o presidente da Ferroeste, Samuel Gomes, e o presidente da Associação Amigos do Trem (AAT), Marcelo Roveda –, embarcou recentemente na “Maria-Fumaça 310”, na estação ferroviária de Três Barras, no Oeste catarinense, para uma aventura: realizar a viagem exploratória de 140 quilômetros até Porto União, Santa Catarina, cidade gêmea de União da Vitória, no Paraná, por uma ferrovia desativada. Normalmente a antiga locomotiva faz apenas o tradicional passeio turístico de 12 quilômetros de Porto União/União da Vitória à estação de Engenheiro Mello (SC).
A viagem da “310” teve dois motivos: comemorar o ano do centenário da Ferrovia do Contestado – que foi desativada na década de 1990, logo depois da privatização da Rede Ferroviária Federal (RFFSA) e vistoriar um dos trechos da linha que passará a fazer parte do passeio da maria-fumaça na Ferrovia do Contestado. “É a consolidação do turismo ferroviário na região, comemora o presidente da AAT. O atual trajeto (12 Km), realizado sempre no último domingo de cada mês, será ampliado, informa. Um projeto turístico para estender o passeio até Matos Costa (SC), no tronco sul da ferrovia, e até Irineópolis (SC), no ramal oposto, já está em andamento. No total serão recuperados 82 quilômetros de trilhos.
Segundo o presidente da Ferroeste, Samuel Gomes, “o projeto de revitalização da Ferrovia do Contestado é um belo fruto deste admirável grupo de ferroviários e amantes do trem de União da Vitória e de Porto União, ou melhor, da paranaense-catarinense Porto União da Vitória, cujo bom trabalho o governo do Paraná considera de grande importância social e cultural”. Associações de municípios do Norte (AmplaNorte), Meio Oeste (Ammoc) e Alto Vale do Peixe (Amarp) de Santa Catarina e também do Sudoeste (Amsop) e Sul (Ansulpar) do Paraná apóiam o projeto, assim como empresários, produtores e operadores de turismo que atuam naquelas regiões dos dois Estados. “Essa união de catarinenses e paranaenses”, observa Samuel Gomes, “fortalece a necessidade da criação da Ferrosul”.
FERROSUL
A mobilização político-social da região pela volta do trem não se resume ao passeio da maria-fumaça. O que a população e os municípios do Oeste catarinense querem é a reativação da Ferrovia do Contestado, uma estrada de ferro que une o município catarinense de Mafra e o município gaúcho de Marcelino Ramos, com 613 quilômetros, e que atualmente é concessão da América Latina Logística.
Também defendem a criação da Ferrosul (a partir da Ferroeste), ferrovia que será de propriedade dos quatro Estados do Codesul e que terá como propósito planejar, construir e operar ferrovias no Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, além de interligar o Sul com a Ferrovia Norte-Sul e com os demais países da América do Sul.
Marcelo Roveda, da AAT, explica que a Ferrosul está “inserida no contexto das reivindicações da região” e lembra que foi a Ferroeste, através de seu presidente Samuel Gomes, “que liderou a luta que está frutificando na criação da Ferrosul, uma empresa que vem ao encontro do nosso projeto porque nós também queremos o retorno à nossa região do transporte de carga”.
Roveda informou ainda que já foram realizadas três audiências públicas, em Porto União e Herval do Oeste, com o objetivo de se discutir a criação da Ferrosul, a reativação da Ferrovia do Contestado e a construção da Ferrovia da Integração, a Leste-Oeste, que ligará o Porto de Itajaí a Dionísio Cerqueira, obra que está incluída no PAC do governo federal.
Segundo o presidente da Ferroeste, Samuel Gomes, “o Brasil precisa de transporte ferroviário barato e apoio a regiões menos desenvolvidas. Para isso, o Estado deve assumir um protagonismo indispensável. Monopólios naturais, como são as ferrovias, não podem ser deixados ao livre jogo das forças do mercado, sob pena dos grandes pisarem os pequenos e a economia nacional perder em eficiência e competitividade”.
CONTESTADO
Marcelo Roveda, da AAT, lembra que a ampliação do projeto turístico da “Maria-Fumaça 310” também é de grande interesse para toda a população do Sudoeste do Paraná. “É por isso que uma equipe de jornalismo da TV Educativa (RTVE), de Curitiba, esteve conosco acompanhando o passeio turístico em comemoração ao centenário da Ferrovia do Contestado”, ressaltou. “Além disso”, acrescenta “duas emendas parlamentares, uma do deputado federal Airton Roveda (PR/PR), no valor de R$ 300 mil, e outra do deputado Ângelo Vanhoni (PT/PR), no valor de R$ 200 mil, foram destinadas para a implementação do projeto turístico da Ferrovia do Contestado”.
Os recursos de meio milhão de reais serão investidos na recuperação dos dois troncos ferroviários que ligam Porto União/União da Vitória a Matos Costa e a Irineópolis, que precisam, entre outras reformas, da troca de dormentes para voltarem a operar com segurança o trem turístico. A licitação para contratar as obras já está em fase de homologação na prefeitura de Porto União, informa Marcelo Roveda. Ele acredita que até o final do mês de setembro o serviço esteja concluído para a vistoria da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres).
Numa segunda fase, segundo o presidente da Associação, o projeto prevê a reativação o trecho da Ferrovia do Contestado que vai de União da Vitória/Porto União, passando por Canoinhas, em Santa Catarina, até o município de Três Barras (SC), num trajeto de 140 quilômetros. Foi neste trecho que a viagem exploratória foi realizada dia 25 de abril para a produção de um relatório das condições do traçado.
O projeto turístico da Ferrovia do Contestado opera atualmente com dois vagões, que ainda guardam as mesmas características do ano de 1915, e um terceiro está sendo reformado. Além disso, a Associação Amigos do Trem estará recebendo, em maio, quatro vagões, do Exército Brasileiro. Os vagões serão doados, com a autorização do comando da 5ª Região Militar (Curitiba), e com a intermediação do Departamento de Engenharia e Construção do Exército, à Associação Amigos do Trem, pelo Batalhão Ferroviário de Lages. Outros seis vagões, que eram da antiga RFFSA, hoje na posse do Exército, em comodato, também serão repassados ao projeto. Ao todo vão ser dez vagões.