História do Paraná é rica, mas ainda pouco conhecida, diz arqueólogo

“Há muitos anos estamos propondo que o governo tome uma atitude para recuperar este patrimônio. Hoje isto está acontecendo”, afirma Igor Chmyz
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16/10/2008 - 16:37
Editoria
O arqueólogo Igor Chmyz, da Universidade Federal do Paraná, afirmou na noite desta quarta-feira (15), durante a abertura do Seminário Internacional Indígenas, Missionários e Espanhóis: o Paraná no Contexto da Bacia do Prata, que “a história do Paraná é muito rica, mas ainda pouco conhecida”. “Está havendo vontade política para que o conhecimento da história se torne uma realidade. Há muitos anos estamos propondo que o governo tome uma atitude no sentido de recuperar este patrimônio. Hoje isto está acontecendo”, afirmou. O Seminário, promovido pela Secretaria da Cultura do Paraná, pretende passar o conhecimento de pesquisadores e especialistas sobre a ocupação do território estadual por indígenas, missionários e espanhóis nos séculos 16 e 17, incentivando a elaboração de pesquisas na área a partir do debate de idéias e projetos. Até a sexta-feira (17), serão diversas palestras, que acontecem no Auditório Brasílio Itiberê (rua Cruz Machado 138, Curitiba). HISTÓRIA – Igor lembrou fatos importantes da ocupação do território paranaense que começou a partir do Tratado de Tordesilhas, no século 16, quando houve divisão do território brasileiro entre Portugal e Espanha. Praticamente todo o Paraná pertencia à Espanha. A Portugal, cabia a faixa litorânea – região Leste. Os espanhóis começaram a tomar posse desse território a partir da região Oeste, com a criação de vilas. “No Paraná, foram três: duas no Rio Paraná e uma no Médio Rio Ivaí”, contou Igor. No século seguinte vieram para o Paraná os jesuítas, sob a égide da Coroa Espanhola, e começaram a fundar vilas conhecidas como reduções. De acordo com o arqueólogo, foram mais de dez no Estado, como nos rios Paranapanema, Tibagi, Ivaí, Piquiri e Iguaçu. “As vilas eram apenas a presença física deles. A influência que eles exerciam era muito maior. Aldeias indígenas que ficavam mais a Leste estavam sob a influência jesuítica”, disse Igor. Do lado português também houve movimento jesuítico, com a fundação das casas de missões, como em Paranaguá e Superagüi. “Curitiba foi uma vila fundada por portugueses em território espanhol”, frisou. De acordo com o pesquisador, havia antagonismo entre jesuítas e militares e civis espanhóis em relação aos índios. Os militares e os civis usavam os índios como mão-de-obra escrava, e os jesuítas se relacionavam com eles para fins de cristianização, portanto, estes índios não podiam ser escravizados. “Então havia este problema, porque os jesuítas estavam tirando a força de trabalho dos espanhóis”, comentou Igor. Aos poucos, o movimento das reduções jesuíticas foi diminuindo e elas se desfizeram, levando a um enorme êxodo. Em seguida, caiu o movimento dos espanhóis. Igor disse que, sobre este fim, há relatos dos próprios jesuítas, que descrevem também a organização das vilas. “Os locais em que eles atuavam estão repletos de evidências arqueológicas do cotidiano, detalhes que não foram relatados. O arqueólogo, com sua metodologia, recupera e complementa a história”, disse. Segundo Igor, algumas das evidências históricas foram destruídas. As casas das vilas e as reduções eram construídas com terra, algumas com telhas, que eles mesmos produziam, outras com palha. Nas vilas, as casas eram separadas por ruas, havia praça central e igreja, deixando claro que havia planejamento. “Com o fim das reduções e vilas, as casas ruíram, mas ficaram os muros. Podia se ver a malha urbana. O problema é que aqueles que se apossaram dessas terras começaram a plantar com arado, o que foi destruindo as evidências”, salientou. O arqueólogo contou que os acervos foram descobertos principalmente nas décadas de 1980 e 1990, quando foram feitas escavações, como em Santo Inácio, onde se recuperou um extenso material, que será usado pela Secretaria da Cultura na exposição a ser realizada no ano que vem. “Há objetos produzidos pelos índios, outros metálicos trazidos da Europa e outros que provavelmente foram produzidos no local, apontando que havia fundição, necessária para o trabalho agrícola”, frisou Igor.