Fotografias e memórias de duas comunidades da Lapa em livro

Edição será lançada nesta quinta-feira, na sede do BRDE, em Curitiba
Publicação
12/11/2008 - 12:30
Editoria
Será lançado nesta quinta-feira (13), às 19 horas, no Espaço Cultural – BRDE, o livro “Comunidades do Feixo e da Restinga – Herança dos Afro-Descendentes da Lapa”, de Fernanda Maria de Castro Paula. A obra é o registro das lembranças de seus antigos moradores e fotos produzidas pela autora e por jovens residentes nesses locais. Junto com o lançamento do livro será feita uma exposição fotográfica que seguirá para a cidade de Grenoble, França, com abertura marcada para 10 de dezembro, no Le Local Produits Équitables ET Solidaires. “Comunidades do Feixo e da Restinga – Herança dos Afro-Descendentes da Lapa” é o resultado final de um trabalho que teve início em 2006, com oficinas fotográficas de Fernanda de Castro Paula, Jorge Ota e Miriam Asanome. Treze adolescentes da região participaram das aulas feitas nos fins de semana, no salão paroquial da Igreja Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, no Feixo. As 56 páginas de “Comunidades do Feixo e da Restinga – Herança dos Afro-Descendentes da Lapa”, trazem imagens diversas, conforme o olhar de cada adolescente. Paisagens, colheita de batatas, festa no quartel, desfile cívico, batizado, benzimento, trecho de rua onde os jovens se encontram – tudo foi motivo para as lentes dos iniciantes. “Foi interessante observar a evolução dos participantes. A cada encontro que fazíamos para análise e edição das imagens, havia sempre uma surpresa. Eles traziam um material diferente, rico, bastante significativo”, comenta Fernanda. Afros-descendentes - a particularidade do trabalho está na origem dos adolescentes autores das imagens são todos afros-descendentes. Esta foi a proposta de “Comunidades do Feixo e da Restinga”: resgatar a memória de duas localidades que têm raízes históricas fincadas no Brasil escravocrata, mas que permanecem à mercê do tempo e do esquecimento, pela falta de interesse dos historiadores. Na apresentação do livro, Fernanda de Castro Paula diz que o projeto “nasceu da necessidade de registro da memória dos afros-descendentes do Paraná, nessa região específica próxima à cidade da Lapa”. Deixa claro, porém, que esta é uma contribuição à memória e não corresponde “aos padrões de uma pesquisa acadêmica”, disse. Tanto o Feixe como a Restinga, distantes 63 quilômetros da capital, estão assentadas num território onde, há um século, fazia parte da Fazenda Santa Amélia. As terras eram imensas. O fazendeiro Hipólito Alves de Araújo, inspirado pelo movimento abolicionista, em 1880, libertou os negros que ali viviam oito anos antes da Lei Áurea, ocorrida em 1888. A decisão foi acompanhada da doação de extensa área de terras a esses libertos que ali trabalhavam. Essa é a origem das duas comunidades. Com o incentivo do governo em povoar o interior do estado, levas de imigrantes europeus ganharam as melhores terras, e com isso os ex-escravos foram sendo transferidos para outros lugares ao mesmo tempo que passaram a trabalhar para os novos colonos. Alemães, italianos e poloneses foram os beneficiados. Com o tempo as várias etnias se misturaram. Apesar disso, ainda é possível distinguir as famílias descendentes dos primeiros moradores. A concentração de afros-descendentes na região é um resquício das raízes históricas. Como diz Fernanda em seu livro, “as histórias transmitidas oralmente, especialmente no que se refere à Fazenda Amélia, a doação das terras aos negros, a formação de famílias entre si e ao entrelaçamento com outros grupos tendem ao desaparecimento se não for feito o registro dessas memórias. E, sem passado, é impossível a uma sociedade entender e lapidar o rosto do presente e projetar o futuro”.

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