Ficar sem comer, arrancar as rodas do caminhão: motoristas sofrem para pagar pedágio


Alto custo das tarifas leva caminhoneiros a improvisar na manutenção e mesmo a passar fome para não serem impedidos de trafegar
Publicação
28/06/2008 - 08:00
Editoria
Caminhoneiros e transportadores são unânimes ao comentar as tarifas de pedágio no Paraná — são absurdamente caras. O impacto nos ganhos de quem vive do transporte rodoviário de cargas acarreta prejuízos sérios — da improvisação nos consertos dos caminhões à retirada de rodas para diminuir o valores pagos, passando pela redução nos gastos com alimentação para garantir o dinheiro necessário para poder trafegar. É uma situação que se repete há dez anos, diz o transportador Antônio Leovan Coradin. Ele traz resíduos de madeira de Antonina desde meados da década de 1980. Coradin conta que já presenciou colegas trabalhando por cerca de uma hora para retirar as rodas dos caminhões que subiriam vazios do litoral. “Tem companheiro meu que vem com bi-trem (caminhão de 7 eixos) do Norte e passa fome no restaurante porque, se comer alguma coisa, não tem dinheiro para pagar o pedágio. Já vi também caminhoneiro tirar rodas de trás e colocar na carroceria para sobrar dinheiro para o almoço”, relata. Um destes profissionais é Pedro Machado Cordeiro. Flagrado sem as rodas, Cordeiro admite que fazia isso para economizar, já que a tarifa está alta demais, principalmente para quem, como ele, roda até Paranaguá. “Subi com o contêiner. Tirar as rodas ajuda a economizar, já que o frete é pouco”, conforma-se. “O dinheiro do pedágio poderia ir para o óleo diesel, para os gastos da família, para a comida. Por causa do pedágio, como mais em restaurantes. Trago a merenda de casa”, conta. Com todas as rodas no lugar, mas improvisando com câmaras de ar para tapar os furos no cano de combustível do caminhão, Jair Michelon desaprova os valores cobrados pelas concessionárias. Para ele, o impacto atinge toda a sociedade. “O pedágio encarece toda a cadeia produtiva — vai para cima do consumidor, que muitas vezes nem se interessa porque acha que só paga quando passeia pelas estradas”, argumenta. “Todo mundo sabe que é necessário investir nas rodovias, mas pagamos muito e não vemos grandes benefícios para os usuários”, reclama. “Se o valor fosse mais justo e as estradas, melhores, eu poderia trabalhar melhor na manutenção do caminhão”, completa. Vindo do Paraguai com uma caga de sucata, Antônio Roberto Princival conta que pega esse tipo de trabalho porque o frete é um pouco mais alto. “Assim, o pedágio come apenas 10% do meu ganho, mas a sucata danifica mais o caminhão e acabo tendo que usar as peças até não ter mais jeito”, lamenta. O aposentado Alceu Schemberger, que completa a renda da família o transportando a safra de grãos até Paranaguá, reclama das perdas que tem com tantas despesas. “Quem carrega a safra trabalha apenas dois meses por ano. O frete é baixo, o pedágio é caro e ainda não temos garantia de boas rodovias”, queixa-se. “Um dia tive o pneu furado e quase precisei escolher entre comer e pagar a tarifa de pedágio”, lembra. TURISTA TAMBÉM RECLAMA — Luiz Cherpinski não é motorista profissional, mas usa as estradas com freqüência, pois tem uma casa no litoral do Paraná. Por conta de uma reforma, tem viajado bastante à praia, mesmo fora da temporada. “Fiquei três dias no litoral na semana passada e a minha alimentação durante esse tempo saiu mais barata que o pedágio que eu paguei na ida e na volta, que me custou 22 reais. Não dá para entender porque é tão caro”, revolta-se. Segundo ele, quem compara o que se cobra no Paraná com o que será pago pelos motoristas na BR-116 — privatizada recentemente pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com tarifas pouco acima de R$ 1 — desconfia de como foram feitos os contratos de concessão no Paraná, na década de 1990. “A impressão que temos é que os contratos foram mal feitos e agora pagamos por isso. E ainda ouvimos que pode piorar, por que as empresas não estariam tendo o lucro estipulado. É incompreensível”, lamenta-se. BOX Pedágio é entrave, diz transportador Um entrave para o crescimento e a ampliação do volume de trabalho. É isso que o pedágio representa para o transportador Alessandro Maoski, que transporta frios e laticínios de uma empresa de Santa Catarina para algumas regiões do Paraná. Maoski trabalha com uma van e gasta cerca de R$ 350 por mês com pedágio, o que representa cerca de 20% a 30% do seu lucro total. “O veículo está ficando pequeno para tanto peso. Fica complicado manter a mecânica em boas condições por causa disso. Já conversamos com a empresa para fazer o transporte com um caminhão, um veículo um pouco maior, mas é mais longo e com rodado duplo – o que pode dobrar o meu gasto com pedágio e inviabilizar o trabalho”, explica.

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