Ferroeste é modelo para instalação de ferrovia pública na região do Codesul

A instalação da Ferrosul, uma ferrovia pública para os quatro estados-membros do Codesul, foi discutida nesta quarta-feira (18) pelos governadores Roberto Requião (PR), André Puccinelli (MS), Ieda Crusius (RS) e Luiz Henrique da Silveira (SC) durante encontro em Campo Grande (MS)
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18/11/2009 - 16:39
Editoria
A instalação da Ferrosul, uma ferrovia pública de propriedade dos quatro estados-membros do Conselho de Desenvolvimento e Integração Sul (Codesul), foi discutida pelos governadores Roberto Requião (Paraná), André Puccinelli (Mato Grosso do Sul), Ieda Crusius (Rio Grande do Sul) e Luiz Henrique da Silveira (Santa Catarina) durante encontro em Campo Grande (MS), nesta quarta-feira (18). O projeto teve como modelo a Ferroeste, ferrovia pública paranaense que planeja construir novos ramais e recuperar aqueles já existentes de forma a interligar os estados da região Sul. “A Ferrosul seria gerida de modo compartilhado pelos quatro estados, com a finalidade de conferir, planejar e gerir ferrovias e sistemas logísticos”, afirmou o presidente da Ferroeste, Samuel Gomes. Para estruturar a proposta de implantação do projeto, será criado um grupo de trabalho no prazo de 30 dias. O governador André Puccinelli (MS), destacou que a ferrovia passará pela área mais produtiva do Mato Grosso do Sul, na região de Maracajú. A malha passaria por Dourados, Novo Mundo, entraria no Paraná por Guairá, chegaria a Cascavel e iria ao Porto de Paranaguá – um trecho de 510 quilômetros. “Ao termos a possibilidade de escoamento da nossa safra ao Porto de Paranaguá por ferrovia, os produtos, como soja, milho, girassol e feijão, se tornarão mais competitivos”, argumentou. A vantagem do transporte mais barato por ferrovia, a longa distância, também foi destacada pelo governador Luiz Henrique (SC). “É um crime que o Brasil tenha abandonado o sistema ferroviário. A sua retomada, integrando a malha nos quatro estados da região Sul, que formam a grande zona produtora de grãos e de carne frigorificada, vai representar grande salto de desenvolvimento para todo o País”, salientou. A ferrovia também vai beneficiar o Rio Grande do Sul, ajudando o estado a resolver um grande problema, conforme contou a governadora Ieda Crusius. “A malha passaria por uma região muito necessitada do nosso estado, que vem sofrendo com secas e, por suas dificuldades, perdendo população”, disse. Ieda apresentou, junto aos deputados daquele estado, moção de apoio a instalação da Ferrosul Samuel Gomes destacou que a Ferrosul promove a integração econômica também com o restante do Brasil, de forma a gerar desenvolvimento em todo o País. Isto porque, segundo ele, as linhas da Ferrosul vão possibilitar ao Governo Federal concluir o projeto da ferrovia Norte – Sul. “Hoje, a ferrovia federal é Norte – Sudeste porque é planejada para chegar até São Paulo, com ramal passando por Porto Murtinho (MS) até Rio Paraguai (MS). Portanto, não inclui o Sul”, disse. O projeto seria estratégico para todo o país também porque “permitira avanço de produtividade sem revolução tecnológica”, afirmou Samuel se referindo à avaliação do economista Carlos Lessa. “Seria possível (o avanço na produtividade) apenas adequando a matriz às necessidades do País, com a construção de ferrovias e hidrovias interligadas de forma inteligente”, afirmou. Dessa forma, se reduziria o custo do transporte e, consequentemente, da produção, oportunizando a industrialização do interior, salientou o presidente da Ferroeste. “Temos cerca de 70% da população brasileira vivendo em uma faixa de 200 quilômetros do Litoral, onde estão as grandes cidades e os consumidores, portanto, com concentração de indústrias e de cadeia industrial. Para desconcentrar essa produção, é preciso reduzir drasticamente o preço do transporte”. Isto porque, na avaliação de Samuel, as medidas de incentivo a descentralização da produção industrial adotadas pelos governos “são anuladas pelo custo absurdo do transporte, que se soma, no caso do Paraná, ao roubo do pedágio”. “Uma ferrovia pública eficiente, lucrativa, com governança corporativa, metas e balanço auditado, transfere seus ganhos de produtividade para a economia, e não para os donos das ferrovias”, argumentou, ao criticar as ferrovias privadas. O projeto da Ferroeste prevê malha ligando Cascavel (PR) a Foz do Iguaçu (PR) e a Maracajú (MS), passando também por Chapecó (SC) e o Porto de Paranaguá (PR). “Queremos que esta realidade sócio-econômica e logística da expansão da Ferroeste tenha uma institucionalidade adequada, que essas ferrovias a serem construídas ou recuperadas sejam pensadas do ponto de vista dos interesses da região, incluindo os portos do Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina”, salientou Samuel. Para isso, explicou, as linhas terão estrutura moderna, ao contrário da maioria das ferrovias construídas no Brasil, que datam do século 19 e, portanto, são de bitola estreita. “As novas serão em bitola larga, a exemplo do planejamento do Governo Federal. Elas têm 1,60 metro entre os trilhos e, portanto, alta qualidade e capacidade”, frisou. Segundo Samuel, a Ferroeste seria incorporada a Ferrosul, em um projeto único. Para desenvolver este trabalho, será criado um grupo composto por representantes dos quatro estados que integram o Codesul. Eles deverão avaliar “a estrutura organizacional e operacional, a forma legal, a composição acionária e a origem dos recursos para a constituição e operação da nova empresa”, conforme diz o documento assinado pelos governadores. PARLASUL – O projeto tem o apoio do Parlasul, órgão que agrega as assembleias legislativas do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul. “Uma ferrovia ligando os quatro estados vai escoar a safra, ligar os portos, e pode possibilitar, no futuro, o transporte de passageiros. Estamos pensando no progresso, no desenvolvimento dos estados, e também do turismo”, destacou o presidente do Parlasul, o deputado Maurício Picarelli. Picarelli entregou aos governadores documento que atesta o apoio das quatro assembleias, assinado por seus respectivos presidentes. O texto argumenta que a “perversa matriz de transporte” brasileira constitui-se em “um verdadeiro entrave ao desenvolvimento social e econômico do País”, e que “a infraestrutura de transporte existente na região Sul é onerosa e insuficiente para dar conta dos altos volumes de importação e exportação”. Sendo assim, defende que “a expansão da ferrovia reduz custos logísticos, de produção e escoamento, o que é fundamental para uma área produtora, como a região Sul”.

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