Expansão da agricultura orgânica no Paraná segue tendência mundial

O setor pretende desenvolver uma atividade economicamente viável, ambientalmente correta e socialmente justa
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12/02/2009 - 16:46
Editoria
O crescimento da agricultura orgânica no Paraná segue a tendência mundial, na produção de alimentos em parceria com a natureza e na busca de alimentação cada vez mais saudável. O setor pretende desenvolver uma atividade economicamente viável, ambientalmente correta e socialmente justa. “O aspecto econômico pode ser promovido por meio da diversificação e da agregação de valor e, por ser um sistema pouco mecanizado, utiliza muita mão-de-obra”, explica o engenheiro agrônomo Maurício Tadeu Lunardon, do Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria de Agricultura e do Abastecimento. Lunardon foi responsável pela elaboração da análise conjuntural da agricultura orgânica do Estado referente à safra 2008/09. “Na agroecologia, o meio ambiente é respeitado, pois se tem cuidados especiais com a manutenção da biodiversidade e também no uso do solo e da água”, completa. Segundo informações do Deral, o mercado de orgânicos movimenta cerca de US$ 40 bilhões (R$ 89,2 bilhões) ao ano, no mundo. Estima-se que a área sob manejo orgânico seja de 26,5 milhões de hectares. Alguns países destacam-se na produção e comercialização de produtos orgânicos como os Estados Unidos, Alemanha, Japão e o Reino Unido. EXPORTAÇÃO – No Brasil, em 2006, segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, cerca de 20 mil agricultores trabalhavam diretamente com a agricultura orgânica, produzindo em torno de 6,5 milhões de hectares de área cultivada. Desta área, 5,7 milhões de hectares são ocupados com explorações extrativistas. O Brasil ocupava a quinta posição, em 2004, entre os países produtores e exporta cerca de 70% do que produz. Porém, a participação de produtos orgânicos na pauta do agronegócio e da balança comercial brasileira ainda é pouco expressiva. A região Centro-Oeste destaca-se por possuir áreas de pastagens sob manejo orgânico. Em termos de produção, o principal Estado produtor é São Paulo - frutas e hortaliças, mas também cana-de-açúcar, que é transformada em açúcar mascavo e destinada ao mercado externo. O Nordeste brasileiro se destaca na produção de frutas tropicais irrigadas, pequenos animais e mel. Na região Norte, predominam os sistemas agroflorestais e o extrativismo de palmito e castanha. “Quando o critério analisado é o número de produtores por região, destaca-se o Sul, onde o cultivo orgânico é realizado em pequenas propriedades, de caráter familiar e que produzem grande diversidade de produtos, especialmente frutas e hortaliças”, explica Lunardon. PARANÁ – No Paraná, a agricultura orgânica é desenvolvida predominantemente em pequenas propriedades e de caráter familiar. No âmbito nacional, o Estado se destaca em número de produtores, com 5.300 agricultores. Esta característica se deve ao grande número de assentamentos rurais, reservas indígenas e comunidades quilombolas, que seguem preceitos da agroecologia. Outra característica da atividade no Paraná é o nível de organização, com as inúmeras ONGs que trabalham no setor e estão reunidas em um Fórum Estadual. Além disso, em 2007, foi instituída a Câmara Setorial de Agricultura Orgânica do Paraná, que de forma paritária congrega entidades governamentais e da sociedade civil organizada, que de forma comum, discutem e buscam soluções aos chamados gargalos que dificultam o desenvolvimento da agricultura orgânica no Estado. “A produção de hortaliças orgânicas concentra-se em tornos das grandes cidades, com destaques para Curitiba e Londrina. Encontramos ainda pólos de produção de açúcar-mascavo nas regiões de Jacarezinho e Francisco Beltrão. A região norte do Estado se sobressai na produção de café orgânico e frutas tropicais”, diz Lunardon, destacando também que a produção de frutas orgânicas é crescente tanto para o caqui, na região de Curitiba, como de banana no Litoral do Estado. As culturas de trigo e milho também começam a ganhar mais espaço junto ao setor, com a tendência de intensificação, acompanhando ainda o plantio da soja. A tecnologia de produção orgânica preconiza a rotação de culturas. CRESCIMENTO – Na avaliação do Deral, o setor de alimentos orgânicos tende a se fortalecer. “A agricultura orgânica, que surgiu como alternativa, hoje é considerada, por muitos, uma necessidade. No Paraná, 86% das propriedades rurais têm área inferior a 50 hectares, por isso é importante incentivar atividades que permitem obter maior rentabilidade por área”, explica Lunardon. Neste aspecto, olericultura, fruticultura, agricultura orgânica e ecoturismo são opções melhores que o cultivo tradicional de grãos, que exige escala de produção, diz o relatório do Deral. Outro fator que aponta boas perspectivas de crescimento ao setor diz respeito à legislação ambiental, que também contribui a favor da agricultura orgânica. “Em áreas de mananciais, ou de proteção ambiental, a prática da agricultura convencional, que utiliza agrotóxico, é dificultada, ou até mesmo proibida”, completa o engenheiro agrônomo. Porém, para que ocorra crescimento firme e constante, é preciso resolver alguns problemas inerentes à produção orgânica. Um deles é a necessidade de conclusão da regulamentação da Lei 10.831, de 23 de dezembro de 2003, referente ao setor, para melhor ordenar e propiciar credibilidade à certificação do setor.