A Ferroeste (Estrada de Ferro Paraná Oeste S/A) e o Exército Brasileiro realizaram em Curitiba, nessa quinta-feira (18), a primeira reunião de planejamento para a construção dos novos ramais da estatal paranaense. O secretário para Assuntos Rodoviários, Rogério W. Tizzot, que abriu os trabalhos do “I Seminário Técnico de Planejamento da Expansão da Ferroeste”, classificou de histórico o encontro que é, segundo ele, “o primeiro grande passo para a expansão da ferrovia” em direção ao Mato Grosso do Sul, Santa Catarina, Foz do Iguaçu e Paranaguá. Atualmente a Ferroeste opera entre Cascavel e Guarapuava.
Sobre o seminário, o presidente da Ferroeste, Samuel Gomes, lembrou que o trecho de 248 quilômetros entre Guarapuava e Cascavel, iniciado em 15 de março de 1991, foi construído por engenheiros militares. “Não fosse o Exército se somar ao Paraná, a ferrovia não teria sido construída”, declarou. Gomes disse ainda que a Ferroeste elegeu 2009 para tirar os novos projetos do papel e que Estados vizinhos já perceberam a sua importância. “É a obra prioritária do Mato Grosso do Sul”.
O general de Exército Ítalo Forte Avena, chefe do Departamento de Engenharia e Construção (DEC), que liderou comitiva de técnicos e engenheiros militares de Brasília, afirmou que vê a ampliação da Ferroeste “como a obra principal” do Exército Brasileiro. Segundo o militar, a obra servirá de modelo para o Brasil tanto na área pública quanto na área privada. Segundo comentou a ferrovia servirá de laboratório para implementar novas tecnologias desenvolvidas pelo Centro de Excelência em Engenharia de Transportes (Centran) do Exército.
AMBIENTE – Além da viabilidade técnica da construção dos novos ramais da ferrovia, a questão ambiental foi considerada prioridade pelos participantes do seminário. O promotor Saint-Clair Honorato Santos, chefe do Centro de Apoio Operacional às Promotorias de Proteção ao Meio Ambiente do Ministério Público do Paraná, afirmou que as questões ambientais com a expansão da Ferroeste podem ser bem equacionadas com a prevenção. O promotor acrescentou ainda que “trabalhar com o Exército é trabalhar com custos reais”.
Também participaram do evento, o desembargador do Tribunal de Justiça Estadual, Alberto Guilherme Luis Gomes, o diretor empresarial do Porto de Paranaguá (Appa), Luiz Alberto de Paula César, e Jefferson Schreiber, do Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento (Lactec). Representando o Sindicato dos Engenheiros (Senge), Paulo Sidinei Carreiro Ferraz, informou que o Conselho Regional de Engenharia (Crea) acaba de aprovar moção de apoio ao projeto de expansão da Ferroeste. Ferraz aproveitou para afirmar que, depois da privatização do setor, “houve involução na participação das ferrovias na matriz de transporte”.
Participaram ainda dos trabalhos técnicos, coordenados pelo diretor da Ferroeste, engenheiro Lino Antonio Campos Gomes, representantes do IAP, do Instituto Militar de Engenharia e do Instituto Militar de Engenharia (IEP) e do DNIT (Departamento Nacional de Infra-estrutura). O geólogo Diclécio Falcade, da Mineropar, presente no seminário, adiantou que o órgão dispõe do mapeamento geológico e do meio físico do Paraná, que é onde os trilhos serão assentados, que servirá de base para a Ferroeste planejar o traçado da ferrovia.
RAMAIS – O projeto da Ferroeste para a expansão da infra-estrutura do modal ferroviário paranaense, segundo o presidente da companhia, Samuel Gomes, “politicamente está resolvido”. Os estudos de viabilização técnica e ambiental dos novos ramais darão base para que o projeto seja financiado. A ampliação, afirma Samuel, “é uma obra do PAC”.
Para entender o projeto de ampliação da ferrovia Cascavel-Guarapuava basta imaginar que o traçado vai ser estendido de Cascavel a Foz do Iguaçu, numa ponta, e de Guarapuava ao Porto de Paranaguá na outra ponta. Além disso, de Cascavel em direção ao Mato Grosso do Sul sairá um braço da ferrovia, passando por Guaíra, até Maracaju, passando por Dourados (MS). Outro braço da estrada de ferro descerá até o Oeste catarinense, em Chapecó, saindo da altura da cidade paranaense de Laranjeiras do Sul. A conexão irá ligar o Sudoeste e Extremo Oeste paranaense, Mato Grosso do Sul, Oeste catarinense e o Paraguai aos portos do Paraná e de Santa Catarina.
HISTÓRICO – A Ferroeste, criada em 15 de março de 1988, é empresa de economia mista, vinculada a Secretaria dos Transportes. O Estado do Paraná é o maior acionista. Construída pelo governo paranaense em parceria com o Exército brasileiro, durante o primeiro mandato do governador Roberto Requião, entre 1991 e 1994, a Ferroeste custou US$ 360 milhões, pagos com recursos do Estado. As obras começaram em 15 de março de 1991. O trecho construído tem 248 quilômetros entre Guarapuava e Cascavel.
Durante o governo Jaime Lerner, a Ferroeste foi privatizada, em leilão realizado em 10 de dezembro de 1996, pelo prazo de 30 anos, renováveis por igual período. O consórcio vencedor constituiu a Ferrovia Paraná S/A – Ferropar e iniciou suas atividades em 1.º de março de 1997. Nos anos seguintes, o consórcio Ferropar, operador do serviço, deixou de fazer os investimentos previstos, não cumpriu as metas de transporte de cargas, nem pagou as parcelas estipuladas no contrato de concessão.
Em 2003, Roberto Requião, em sua nova gestão à frente do governo do Estado, determinou à diretoria da Ferroeste a retomada do controle da ferrovia. O advogado Samuel Gomes, então diretor administrativo, jurídico e financeiro da empresa, ingressou com várias ações em juízo, culminando com a retomada da ferrovia pelo Estado em 18 de dezembro de 2006.