O ex-ministro da Fazenda argentino Aldo Ferrer propôs a criação de uma empresa sul-americana de energia nuclear, para consolidar a integração dos países sul-americanos, com reflexos diretos no desenvolvimento do setor industrial do continente. Ferrer falou na abertura da programação da manhã desta quarta-feira (10), do seminário “Crise – Rumos e Verdades”, promovido em Curitiba, pelo Governo do Paraná.
“As tecnologias que se aplicam na energia nuclear são para todo o conjunto da atividade produtiva. Precisamos de iniciativas fortes para avançar na integração da infra-estrutura, da ciência e da tecnologia”, afirmou. Ferrer é economista, diretor da cadeira de Estratégia Econômica Internacional da Universidade de Buenos Aires e diretor da Enarsa, estatal de energia da Argentina.
O economista reforçou que este é o momento de os países sul-americanos aproveitarem as experiências argentinas e brasileiras e pensarem na consolidação de uma grande empresa de geração de energia nuclear. “Uma grande política nuclear no Mercosul seria um grande avanço.” Ele disse que os países sul-americanos devem construir os seus próprios caminhos para sair da crise por meio de políticas desenvolvimentistas, para fortalecer o Estado com o foco em investimentos na industrialização, em ciência e em tecnologia.
“Não há desenvolvimento sem transformação produtiva, sem ciência e tecnologia. Não é possível realizar esse processo de transformação se estamos presos à especialização e produção de produtos primários”, salientou.
IDÉIAS – Além da criação da política nuclear na América do Sul, Ferrer apresentou sugestões para o fortalecimento das economias. “O que vai acontecer nos nossos países no futuro próximo, vai depender mais do que nós fizermos que das ações dos outros”, .
O economista, que foi um dos conselheiros do governo Néstor Kirchner, defende a organização de Estados transparentes, sociais e democráticos, que sejam capazes de ordenar a economia, gerar e distribuir riquezas. “Temos que ter políticas de câmbio que privilegiem a produção nacional aos produtos que vêm de fora e mobilizar recursos próprios para serem aplicados no território nacional”.
De acordo com Ferrer, apesar de os países da América do Sul não possuírem poder decisivo para mudar a realidade internacional, podem ajudar com boas idéias e orientações. Ferrer diz que cada país tem que assumir a sua responsabilidade. “Não podemos delegar ao mundo decisões de caráter nacional como a reforma do Estado, investimentos em educação, coesão social e a criação de condições de rentabilidade adequada.”.
“Cada um dos nossos países, e todos juntos, tem a capacidade fundamental para estar no mundo de uma maneira diferente. Não no modelo subordinado centro-periferia, mas como nações transformadas, industriais, justas e capazes de ter uma relação simétrica e intensa e profunda com o resto do mundo”, declarou.