A sociedade organizada e o poder público precisam discutir as novas perspectivas para a reforma agrária e os interesses do agronegócio. Este foi o pedido dos participantes do debate “O processo da reforma agrária no Brasil”, realizado nesta segunda-feira (30), em Curitiba. O evento, promovido pela Secretaria do Trabalho, Emprego e Promoção Social, faz parte de uma série de palestras que abordam temas ligados aos movimentos populares, sindicais e sociais do Paraná.
“Nosso objetivo é dar oportunidade para que todos reflitam sobre assuntos muitas vezes polêmicos, mas com grande impacto no nosso dia a dia. Hoje é comemorado o Dia Nacional do Estatuto da Terra e o Dia Mundial Contra a Pena de Morte. Quantos trabalhadores não morreram na luta por um pedaço de chão para plantar e colher? Quantos ainda serão mortos? Todos nós, morando na cidade ou no campo, temos opiniões e o Governo do Paraná abre espaço para este debate”, explica o diretor-geral da Secretaria, Fernando Peppes.
De acordo com o presidente da Associação Brasileira de Reforma Agrária, Plínio de Arruda Sampaio, as mudanças recentes no cenário mundial obrigam uma reorganização de ideias e entendimentos sobre o tema. “A crise financeira vai dar o ritmo da reforma agrária no Brasil. Este é o momento de pensar nas possibilidades e desafios. A mudança deve ser estrutural, porque nosso sistema atual não está suficientemente concentrado para realizar as alterações necessárias”, defende.
Para Sampaio, o primeiro passo é fazer com que o país mude de posição na Divisão Mundial do Trabalho. “Hoje temos uma economia industrial, que sabemos que não deu certo. Acredito que precisamos nos transformar em uma economia primária avançada, sendo grandes produtores de commodities para os países ricos. Temos que investir na exportação massiva e global de petróleo – com o Pré-Sal – além de soja, álcool, carne e madeira”, ressalta ele.
“Não temos estrutura para esta mudança e hoje a reforma agrária é feita pelo agronegócio mundial, que arrebenta os dois principais pressupostos dos movimentos sociais: Primeiro, que o governo brasileiro é a favor da reforma. Isto é falso porque vemos a criminalização das ações dos movimentos sociais. Depois, tínhamos a ideia que os camponeses querem terra. Hoje isto não é mais verdade, porque com o êxodo rural eles querem emprego, educação e oportunidades nos grandes centros urbanos”, completa.
O líder do Movimento Social pela Libertação dos Sem-Terra, Bruno Maranhão, reforça que os movimentos sociais é que devem estar à frente do processo de reforma. “O movimento de massa organizado tem que unificar bandeiras. É preciso seguir junto com o objetivo de realizar a reforma agrária na perspectiva de reforma popular, com o sentido de transformação em direção ao futuro”, adverte ele.
Maranhão faz uma crítica severa aos grandes latifundiários, políticos e representantes do agronegócio. “O agronegócio é a modernização do escravismo colonial. O índice de produtividade do Brasil, que é algo em torno de 76%, é muito pouco e obedece a interesses de uma minoria. Por isso, quando falamos em reforma agrária, neste sentido mais popular, falamos em socialismo”, disse.
Evento discute reforma agrária e agronegócio
Participantes do debate “O processo da reforma agrária no Brasil”, realizado nesta segunda-feira (30), em Curitiba, pedem que sociedade organizada e poder público reflitam sobre esses temas
Publicação
30/11/2009 - 16:58
30/11/2009 - 16:58
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