Como reorganizar uma nova ordem financeira mundial multipolar se os critérios específicos para identificar lideranças mundiais não estão definidos? Esta pergunta foi dirigida ao economista Franklin Serrano, professor-adjunto da UFRJ, o diretor do Instituto de Estudos Avançados da Academia de Ciências da Rússia, Yuri Gromyko, e o analista de estratégia e política internacional Michael Liebig, editor do site alemão www.solon-line.de.
Os participaram nesta terça-feira (9) da mesa “Crise e o Papel da China, EUA, Rússia e Índia” no seminário internacional “Crise – Rumos e Verdades”, promovido pelo Governo do Paraná em Curitiba.
Nas respostas de Gromyko e Liebig, fica evidente a idéia da criação de novas instituições internacionais, de uma nova arquitetura financeira e uma nova ordem multipolar — que já estariam com contornos desenhados. Na contramão, Serrano afirmou não acreditar na necessidade da criação de uma nova ordem, e pediu medidas sérias do governo americano para manter a hegemonia do dólar e fortalecer a moeda americana, com o objetivo de salvar os mercados internacionais.
O medidor do debate, o jornalista e cientista político César Benjamin, lembrou que os padrões internacionais de organização foram, nos séculos passados, definidos após grandes guerras, em conferências convocadas pelas nações vitoriosas. Essa máxima foi repetida após as guerras napoleônicas, com a Conferência de Viena, e depois da Primeira Guerra Mundial, na Conferência de Versales.
Benjamin explicou que o mesmo aconteceu em Breton Woods, em 1944, que definiu a reorganização mundial sob uma nova liderança após a Segunda Grande Guerra. Em 1989, tal ciclo foi quebrado, já que a guerra entre Estados Unidos e União Soviética não aconteceu. “Exatamente por isso, não houve uma conferência e não se finalizou o que era esperado”, disse.
De acordo com o jornalista, nos Estados Unidos da década de 1990, neoconservadores resolveram reorganizar esta ordem financeira. “A política americana, de 1990 até agora, é a visão do mundo sob a ótica de uma potência vencedora de uma guerra que não aconteceu. Como é possível identificar os agentes que possam propor uma nova ordem financeira mundial?”, perguntou.
Para Gromyko, é importante não converter medos em realidade num momento de crise. Ele acredita num mundo multipolar e aposta em peritos externos a grupos como o G-20 que possam elaborar projetos efetivos, pressionados pelos entendimentos das necessidades de cada país. O professor propôs que não sejam discutidas apenas questões sobre finanças, mas a conexão das iniciativas financeiras reais e físicas de produção.
“Para mim, está claro que o próximo passo, depois da Declaração de Modena, tem de ser a criação de grupos especializados em diferentes questões, como problemas de derivativos, de novas produções tecnológicas e sócio-culturais”, disse.
Segundo o professor é preciso estimular interconexões com diferentes grupos que possam preparar alternativas pra serem usadas pelos governos. “É importante o que nós estamos fazendo aqui, no Paraná, bem como o que discutimos em Modena, na Itália. É fundamental organizar as interações entre as regiões. Temos experiências interessantes no oriente, no leste, na Rússia e esta relação, com discussão de comércio e projetos é muito importante”, afirmou Gromyko.
Serrano acredita que a multipolarização — particularmente na América do Sul — começou com a eleição de líderes populares no início do século 21. “Essas economias, mesmo com o progresso que foi feito, ainda dependem muito dos preços das matérias primas e dos preços do petróleo”, falou.
“Todos os países que fizeram a liberalização financeira viram enfraquecidos seus Estados nacionais. A liberalização significa ingressar neste mercado em dólar que vai continuar ainda por um tempo, pelo menos, razoável”, explicou. De acordo com Serrano, o Brasil teve uma linha de crédito aprovada pelo Federal Reserve, o banco central norte-americano. “Porque foi dada ajuda ao Brasil e não a outros países? Com isso, os EUA mantêm um grande poder de barganha”, afirmou.
Para Liebig, os sistemas bipolar, pós-1945, e unipolar, que surge com a queda da União Soviética, fracassaram. “Nos últimos anos, vemos a evolução de uma ordem multipolar que emergiu sem ordenação alguma sob a dialética da globalização”, disse. “Eu tenho absoluta certeza de que os Estados Unidos vão se reerguer, mas não serão mais hegemônicos”, afirmou.
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Publicação
09/12/2008 - 19:54
09/12/2008 - 19:54
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