Especialistas apontam que segurança pública precisa de atuação sistêmica

Participantes de mesa especial criticaram modelo “reprimir, prender e atacar”
Publicação
28/04/2008 - 14:38
A política de segurança pública deve deixar de lado a repressão violenta e passar a ser vista de forma mais sistêmica, em que sejam garantidos os direitos humanos foi consenso na mesa especial Segurança Pública no Século XXI, coordenada pelo secretário de Segurança Pública do Paraná, Luiz Fernando Delazari, domingo (27), no Fórum Social do Mercosul, em Curitiba. Os convidados foram escolhidos devido às críticas que fazem ao modelo de segurança pública vigente no Brasil e em outros países do Mercosul, conforme ressaltou o secretário Delazari. “Nós os trouxemos a estes debates para sair um pouco do discurso fácil da segurança, em que a solução passa pela compra de armamento, compra de viaturas e contratação de mais profissionais”, disse. Para um dos convidados, o presidente do Instituto de Criminologia e Política Criminal (ICPC), Juarez Cirino dos Santos, uma das vias seria a política de segurança pública democrática. “Não uma política democrática de segurança, uma política de segurança democrática, com ênfase para o tipo de segurança que se promove”, destacou. Segundo ele, devem ser assegurados os direitos que chamou de concretos: a segurança da garantia do direito ao trabalho, de salários dignos e direito à moradia, por exemplo. “Garantindo esses direitos, estaremos incluindo cidadãos na sociedade, diminuindo a violência e promovendo a política de segurança pública democrática”, afirmou. O presidente do ICPC ainda apontou estratégias que devem ser deixadas de lado para que o novo modelo prospere. “Precisamos pensar em uma gestão diferencial da criminalidade, que, por enquanto, faz a criminilização seletiva, exclui as elites de poder econômico e político e se concentra nas camadas sociais subalternas”, comentou. O sociólogo e professor da Universidade Federal do Paraná, Pedro Bodê concordou que a inclusão é uma das melhores estratégias para as políticas de segurança pública. “Afinal, ultimamente não punimos crimes, punimos perfis, estereótipos”, avaliou. GLOBALIZAÇÃO - O poder da globalização para difundir a sensação de insegurança entre as populações dos mais diferentes países foi outro tema abordado nos debates pelo promotor de Justiça, Paulo César Busato. “A globalização traz o fenômeno dos globalizantes e globalizados, que podem ser comparados aos colonizadores e colonizados de antigamente. Mas antes os colonizados eram a força de trabalho. Hoje, os globalizados não o são”, explicou. De acordo com o promotor, agora a sociedade da informação globalizada difunde o medo, que interessa a determinadas pessoas, e não se importa com os globalizados por ele. “As pessoas não são mais uma força de trabalho representativa depois das revoluções industrial e tecnológica. Portanto, a cultura do medo interessa a alguns, porque é justifica determinados gastos e empreendimentos”, acrescentou. EXEMPLO – Para Delazari, o discurso simplista prega o “reprimir, prender e atacar” como se segurança pública fosse uma guerra. “Aliás, se tivesse dado certo nós não teríamos mais problemas de segurança, porque todos os governantes fariam isso, reprimir. Mas isso é um contra-senso, querer transformar uma sociedade violenta com uma repressão violenta”, completou. O secretário acrescentou alguns exemplos do Paraná. “O investimento de 30% do orçamento em educação é política de segurança pública. O Paraná é um distribuidor de renda com políticas tributárias, isenção fiscal com a pequena e microempresa, isso é política de referência pública”, concluiu.