Entidades do movimento negro fazem manifesto para a aprovação da política de cotas na UFPR

O projeto será votado nos próximos dias 6 e 7, pelo Conselho de Ensino e Pesquisa da Universidade Federal do Paraná
Publicação
03/05/2004 - 00:00
Integrantes do movimento negro do Paraná se reuniram na manhã desta segunda-feira (03) na Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos para assinar um manifesto solicitando a aprovação da política de cotas para estudantes afro-descendentes na Universidade Federal do Paraná (UFPR). O projeto será votado, nos próximos dias 6 e 7, pelo Conselho de Ensino e Pesquisa da universidade. “A nossa luta é para que a política de cotas seja implementada, por isso, nessa semana estamos mobilizando todo o pessoal. Pretendemos fazer uma vigília que irá reunir todos os alunos que tem o sonho de entrar na Universidade Federal do Paraná. O nosso objetivo é sensibilizar os conselheiros em relação à política de cotas”, declarou Jaime Tadeu da Silva, um dos integrantes da Associação Cultural de Negritude e Ação Popular dos Agentes da Pastoral de Negros (Acnap). A coordenadora do projeto Adebori – Permanência de Negros no Ensino Superior – e presidente do Instituto de Pesquisa da Afrodescendência, Marcilene Garcia de Souza, explica que 22% da população do Paraná são negros. “Em 2000, a Universidade Federal da Bahia junto com a do Paraná, realizaram uma pesquisa e constataram que a UFPR teve um dos piores dados nacionais de calouros negros daquele ano. Das 4.200 aprovados, apenas 38 eram negros”. Segundo a procuradora geral da UFPR, Dora Lúcia de Lima Bertúlio, a comunidade negra realiza diversos trabalhos de inclusão racial e social mas o problema maior ainda é o preconceito. “Todos os movimentos negros nacionais têm trabalhado intensamente no sentido de fazer melhorias na qualidade do ensino médio e fundamental e de promover a discussão das relações raciais dentro das escolas. O fato da população negra não estar nas universidades deve-se principalmente à discriminação racial que essa população sofre no decorrer de sua vida”, conta ela. Por essas e outras dificuldades, estas entidades afirmam que a política de cotas não seria definitiva mas sim uma solução emergencial para o problema racial. “Esse programa deve durar uns 10 anos”, afirma o professor da Unibrasil, Evandro Piza. O professor acredita que, com o tempo, os negros vão se destacar e o número de evasão escolar irá diminuir. Projeto – O projeto de política de cotas na Universidade Federal do Paraná consiste na reserva de 20% das vagas para afrodescendentes. “No caso da Federal, cerca de 800 alunos seriam beneficiados pelo programa”, diz o professor Piza. Segundo ele, o programa não vai tratar somente de cotas mas também da discussão de vários problemas relacionados à discriminação racial. “Além disso, também estamos estudando uma forma de garantir um acompanhamento, uma comissão avaliadora e, a manutenção do aluno na universidade”. Curso pré-vestibular para afrodescendentes – Outro projeto que já existe há três anos e com a política de cotas, deve ser ampliado é o curso pré-vestibular para afrodescendentes promovido pela Associação Cultural de Negritude a Ação Popular. O valor total dos seis meses de cursos é de R$ 150,00 e o pré-requisito básico para participar do curso é ser afrodescendente. O projeto que se chama Ka- naombo atende, aproximadamente, 100 alunos, selecionados por meio de uma prova classificatória. “Tivemos uma ótima experiência em 2002 e 2003 e nesse ano continuaremos trabalhando para que nossos alunos consigam passar no vestibular da UFPR”, declara Jaime Tadeu da Silva, da ACNAP. Mais informações sobre o cursinho podem ser obtidas pelo telefone (41) 349-6710 ou 349-2162. Os interessados em participar das manifestações para a aprovação do projeto de cotas para pode se informar através do Instituto de Pesquisa Afrodescendência. O telefone é (41) 233-6125.