Em debate, economistas respondem perguntas de telespectadores do México

Franklin Serrano, Yuri Gromyko e Michael Liebig participam do seminário internacional “Crise — Rumos e Verdades”, promovido pelo Governo do Paraná
Publicação
09/12/2008 - 19:44
Editoria
O economista Franklin Serrano, professor-adjunto da UFRJ, o diretor do Instituto de Estudos Avançados da Academia de Ciências da Rússia, Yuri Gromyko, e o analista de estratégia e política internacional Michael Liebig, editor do site alemão www.solon-line.de, falaram de integração latino-americana, a natureza da crise, seus efeitos na Rússia, fundos soberanos e controle de capitais durante debate nesta terça-feira (9) no seminário internacional “Crise — Rumos e Verdades”. Serrano, Gromyko e Liebig responderam a perguntas de moradores de Guadalajara (México), São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Ivaiporã e outras cidades do interior do Paraná, que assistem o seminário pela TV Paraná Educativa. Leia os principais trechos do debate. INTEGRAÇÃO DA AMÉRICA DO SUL Franklin Serrano, professor-adjunto da UFRJ — “O projeto de integração da América do Sul reforça a autonomia dos nossos governos, dos nossos povos diante desse projeto de reorganização do mundo. Infelizmente, algumas economias dependem muito dos preços das matérias-primas e do petróleo (...), tem a remessa dos trabalhadores imigrantes nos Estados Unidos e o financiamento externo — em vários países, apesar dos governos mais populares, não houve medida de controle dos fluxos dos capitais. Nestes casos, a crise reverteu o ciclo internacional do crescimento das exportações. A queda do preço do petróleo, das commodities, e as dificuldades de financiar a balança de pagamento enfraquecem esses países.” A CRISE NA RÚSSIA Yuri Gromyko, diretor do Instituto de Estudos Avançados da Academia de Ciências da Rússia — “O que foi feito e declarado durante as entrevistas na televisão é que o Banco Central pagou, para poupar as ações das empresas, cerca de 5 bilhões de rublos, algo como 200 milhões de dólares. Essa reação, em primeiro lugar, está ligada à depreciação das ações. Portanto, o Banco Central, ao dar dinheiro para que outros grandes bancos comprassem essas ações, evitou que elas fossem compradas por empresas estrangeiras. Durante as crises, temos processos muito interessantes, porque muitos oligarcas deixaram de ser oligarcas.” O PIOR JÁ PASSOU? Franklin Serrano — “Não sabemos ainda (se o capital já investido pelos estados é suficiente para conter a crise); só saberemos disso depois que a crise acabar, qual a magnitude das intervenções, porque muitas delas são aberturas de crédito e anúncios de que o Banco Central está disposto a comprar títulos ou participação acionária de empresas e bancos que estão em dificuldade. Se tudo dá certo, no final se gasta menos do que se anunciou; se dá errado, se gasta mais. O ponto mais importante não é o montante, mas a predisposição de dizer que ninguém importante vai quebrar por causa disso. O cálculo exato, em geral, creio que não acabou. Pode ter uma nova rodada se continuar essa complicação de não se ajudar as empresas automobilísticas. O capital ainda não foi suficiente, mas está na direção certa.” FUNDOS SOBERAMOS Yuri Gromyko — “Este tipo de fundo independente deve ser uma instituição especial para a prosperidade e a possibilidade de mudar a estrutura de produção. É necessário ter fundos independentes que possam estimular ações de desenvolvimento, novas formas de gerenciamento da produção.” A NATUREZA DA CRISE Michael Liebig, analista de estratégia e política internacional, editor do site alemão www.solon-line.de — “A crise tem natureza dupla. Os avanços tecnológicos estão basicamente exauridos, e um novo conjunto de tecnologias básicas precisa ser gerado. Mas isso é só um lado. O outro é a distância que existe entre os ativos gerais da economia e os agregados financeiros. Essa desvinculação entre os dois é, na minha opinião, a causa principal da crise. Os mecanismos foram criados visando, em especial, a securitização estruturada que é, na verdade, o esquema de pirâmide em escala mundial. Se isso vai levar a uma nova forma de organização econômica, não sei. O fato é que o capitalismo é o primeiro sistema econômico de mudança tecnológica continua. Mudança é a natureza do capitalismo — falo do capitalismo focado na economia real.” CONTROLE DE CAPITAIS Franklin Serrano — “É possível diminuir muitos os impactos negativos da especulação, mas não creio que seja necessário e viável, pelo menos a curto prazo, um novo arranjo da arquitetura do sistema financeiro internacional. Como o sistema internacional favorece muito os EUA e alguns países mais ricos, é muito difícil mudar imediatamente, é perda de tempo esperar por isso. Mas pode-se fazer mudanças nacionais e regionais imediatamente, que também melhoram muito as coisas. Cooperação entre bancos centrais e políticas de controle maior nos fluxos de capitais podem ser feitos. Não tem que controlar tudo primeiro, cada país pode fazer sua parte. Controle de capital pode ser feito meramente com impostos diferenciados sobre certos tipos de transações.”