A Companhia de Habitação do Paraná (Cohapar) completa 40 anos de fundação neste 14 de maio (sábado) com a marca de mais de 167 mil moradias construídas em 3.400 empreendimentos, que estão em 383 dos 399 municípios do Estado. Se todas essas casas fossem colocadas no mesmo espaço, elas formariam o segundo município mais populoso do Estado, com mais de 600 mil habitantes.
O cálculo leva em conta dados do Censo 2000 do IBGE, que mostra que residências de famílias com renda mensal de até três salários mínimos mensais que vivem no Sul do Brasil abrigam em média 3,6 moradores. Essa é a faixa de renda da população atendida pela Cohapar.
“Os números mostram o papel fundamental desempenhado pela Cohapar no desenvolvimento da habitação popular no Paraná”, analisa o presidente Luiz Claudio Romanelli.
A Cohapar foi fundada em 14 de maio 1965 no governo de Algacir Guimarães, pela Lei Estadual nº 5.113, sucedendo a Caixa de Habitação Popular do Estado do Paraná.
Desde sua fundação como uma sociedade de economia mista, a Cohapar surgiu com a finalidade de integrar o Paraná no Sistema Financeiro da Habitação, operando com recursos do Banco Nacional da Habitação. Após a extinção do BNH, em 1986, a Caixa Econômica Federal tornou-se o principal parceiro financeiro da Cohapar.
“A Cohapar é uma referência de competência, qualidade e agilidade entre as companhias habitacionais de todo o Brasil”, diz o vice-presidente de Desenvolvimento Urbano e Governamental da Caixa Econômica Federal, Aser Cortines Peixoto Filho.
No início uma empresa pequena, com poucos funcionários, executora de projetos definidos pelo BNH, a Cohapar tornou-se em 40 anos uma das maiores e mais respeitadas empresas do gênero do País. É reconhecida como referência em soluções inovadoras para a habitação popular dentro e fora do Brasil.
Evolução - Em 40 anos, muita coisa mudou no principal produto da Companhia de Habitação do Paraná – a casa. Das moradias padronizadas dos grandes conjuntos das décadas de 1960 e 1970, cujos projetos eram estabelecidos em série pelo extinto Banco Nacional da Habitação (BNH), aos dias de hoje, em que a Cohapar oferece diversas opções de projeto para o morador escolher o que mais lhe agrada e satisfaz suas necessidades, um longo caminho foi percorrido.
“Nos anos do BNH, era fácil reconhecer um conjunto habitacional. Eles eram iguais do Norte ao Sul do Brasil”, diz a diretora de Projetos da Cohapar, a arquiteta Rosângela Curra Kosak. “Hoje, buscamos oferecer liberdade de escolha às famílias. Os projetos diversificados estabelecem uma ligação maior entre o morador e sua casa. Oferecer moradia não é simplesmente construir casas, mas também resgatar a dignidade da família que irá viver nela”, explica Rosângela.
Também os métodos construtivos evoluíram. Se nos primeiros anos grandes empreiteiras eram responsáveis pelas obras, hoje a Cohapar adota a Gestão Comunitária, em que os futuros moradores formam uma associação para contratar a mão-de-obra e comprar o material de construção, sob a supervisão de técnicos e engenheiros da empresa.
“A Gestão Comunitária é um avanço na forma de administrar, porque possibilita a gestão dos recursos pela comunidade, garantindo sua aplicação adequada e uma melhor relação na aquisição dos materiais e na execução dos serviços, com a participação direta das famílias em todas as fases da obra”, diz o diretor de Obras da Cohapar, Ascelide José Parizotto.
A Cohapar entra no Século 21 como uma das principais companhias de habitação do País. A empresa conta com 351 funcionários em seu quadro próprio — 126 deles têm curso superior. Está entre as empresas públicas paranaenses pioneiras na adoção do pregão presencial, usado nas compras de material de construção do programa Casa do Zelador. O sistema garante aquisições mais rápidas e mais econômicas e é utilizado também na aquisição de itens de expediente e escritório.
Em 2004, a Cohapar foi avaliada pela Austin Rating, de São Paulo, como empresa de baixo risco de crédito para atuar como agente financeiro de programas habitacionais. O Comitê de Classificação de Risco da Austin atribuiu a nota BBB+, aplicada a empresas que têm “obrigações protegidas por boas margens de cobertura para o pagamento de juros e principal, obrigações suportadas por garantias seguras e risco baixo”.
Ainda em 2004, a Cohapar inaugurou seu sistema de atendimento ao mutuário por Discagem Direta Gratuita (DDG), pelo número 0800 645 00 55.
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Uma bela história
O Xaxim é um dos bairros mais populosos de Curitiba. São quase 55 mil habitantes, segundo o Censo 2000 do IBGE — o equivalente a quase 3,5% dos 1,58 milhão de moradores da capital. Muito diferente do que era 40 anos atrás, em 1965, quando Maria da Conceição Silva, então com 27 anos, mudou-se para a casa que acabara de construir com financiamento da Caixa de Habitação Popular do Estado do Paraná, embrião da Cohapar.
“Na época, isso aqui era zona rural. O ônibus que vinha do Centro parava na rodovia (a BR-116), a alguns quilômetros daqui”, conta Dona Maria. “O que hoje é a Avenida Francisco Derosso era apenas uma ruela de chão, e às vezes tínhamos que correr dos bois que alguns vizinhos criavam e que ficavam soltos”, ela ri, relembrando dos velhos tempos. O tempo passou, o bairro cresceu. E Dona Maria continua lá, feliz. Há 40 anos.
“Minha casa é a quinta que foi construída aqui na rua”, ela conta, ao lado da filha, Marisa Nunes da Silva. Hoje com 41 anos recém-completados, Marisa tinha apenas um ano e vinte e sete dias de vida quando mudou-se para a nova casa.
“Cresci aqui, todas as minhas lembranças de infância tem esta casa na paisagem. Me lembro que tínhamos frutas no quintal, e nadávamos num riacho que passava no final da rua. Às vezes, um boi ou um cavalo invadia o quintal enquanto brincávamos. E a casa nem tranca tinha – usávamos uma tramela para fechar a porta. Aqui sempre foi um lugar seguro”, lembra Marisa. O apego é tanto que ela não quis saber de deixar as raízes – construiu sua casa nos fundos do terreno da mãe.
A relação entre Dona Maria e a Caixa de Habitação Popular começa em 1965. “Eu trabalhava no Banco do Estado e consegui um financiamento de CR$ 350 mil da Caixa, para comprar o terreno e financiar a casa”, diz ela. Dona Maria, que viera aos 11 anos de Teixeira Soares acompanhando a família, que tentava a sorte na capital, dava um novo passo em sua vida. Já casada, ia deixar o aluguel para trás – morava no Uberaba – e ser dona da casa própria.
“Eu mesma comprei as madeiras em São José dos Pinhais e, com a ajuda de dois carpinteiros amigos do meu marido, erguemos a casa”, explica ela. Era uma casa simples, de apenas quatro peças. A água era retirada de um poço aberto pelo marido dela, no quintal. Luz elétrica, ainda não se conhecia no Xaxim daqueles dias – a família iluminava a casa nova usando lampiões.
Passaram-se os anos. A Caixa foi extinta, para dar lugar à Companhia de Habitação do Paraná – o Conjunto Residencial Xaxim, de 60 casas, onde vive Dona Maria, foi o último empreendimento construído antes da mudança. Novos ares também chegavam ao Xaxim. Veio a luz elétrica, o asfalto. Dona Maria ficou viúva – o marido morreu quando ela tinha apenas 33 anos. Por causa disso, ganhou a quitação da casa. Com garra e dedicação, ela continuou trabalhando e, ao mesmo tempo, criando sozinha os filhos.
Com as economias que conseguia guardar, Dona Maria ampliou a casa. Hoje ela tem dois novos banheiros, uma bela cozinha, uma espaçosa lavanderia. Tudo de alvenaria, bem cuidado e decorado com capricho, como gosta Dona Maria. Mas as velhas quatro peças de madeira ainda estão lá, também muito bem cuidadas. “Até pensei em derrubar e fazer tudo de alvenaria. Mas os filhos não deixaram – dizem que a casa de madeira é um pedaço da memória do pai”. E, quem sabe, também um tributo a uma outra história que também completa 40 anos.