Educação também se constrói com ciência e tecnologia

Presidente da Fundação Araucária, José Tarcisio Pires Trindade, afirma que a ciência e a tecnologia devem servir para melhorar a convivência das pessoas e sua relação com o meio ambiente
Publicação
21/03/2007 - 16:34
Quando discorremos sobre o progresso científico (resultado da construção do conhecimento), quando falamos sobre a ciência e a tecnologia que a humanidade construiu, ficamos maravilhados com muitos de seus resultados. Ao homem da ciência, entretanto, cabe a indagação: se tantas maravilhas trouxeram a ciência e a técnica, por que a humanidade chegou a um ponto de temer seu futuro e duvidar de sua permanência na Terra? Ocorre que tanto uma como outra, a ciência e a tecnologia, foram sistematicamente apropriadas, predominantemente, por aqueles que perseguiram o lucro insaciável devorando os recursos naturais de modo irrefreável, esgotando todas as formas de exploração do trabalho humano. Estamos vivendo um momento crucial para a humanidade, um momento de necessária mudança de rumo, um momento em que a inovação possível com a ciência e a tecnologia que o homem constrói seja direcionada para um novo patamar que rompa com o ciclo de exploração para o lucro (seja dos recursos naturais, seja do trabalho humano), para um novo e virtuoso ciclo que mire a harmonia entre os homens e entre os homens e a natureza. Ciência, tecnologia e inovação, tríade invocada em documentos, planos, metas e discursos, não pode ter sobrevivência ou referência em si mesma. Ciência, tecnologia e inovação estão inseridas em modos de visão de mundo. E em nossa visão de mundo elas não podem e não devem servir para a manutenção do modus vivendi atual. No nosso modo de entender não cabe o uso da técnica e da ciência para a conservação de um mundo que vem sendo construído de maneira a retirar o homem de sua rota de vivência digna e solidária. A manutenção do atual estado de coisas é de um horizonte sombrio, fruto do uso do conhecimento acumulado pela humanidade em favor da exploração desenfreada dos recursos naturais em benefício de poucos e que, na continuidade desse ritmo, não será de benefício para ninguém, já que coloca em risco a própria sobrevivência no planeta. A ocasião me sugere citar o governador Roberto Requião, que em seu discurso no lançamento do Plano de Desenvolvimento Econômico Educacional, ao falar da educação afirmou que ela deve ser uma arma de mudança na “busca da fraternidade, da igualdade, com a perseguição da utopia de um mundo solidário, seguro, que respeite e preserve o meio em que se vive, que faça da Terra um lugar bom de se viver, feliz e justo”. E educação também se constrói com ciência e tecnologia. Prezados colegas professores, homens da ciência, homens políticos, seres humanos simplesmente, o desafio que temos pela frente é enorme e devemos ser ousados, devemos ser questionadores, devemos ser inquietantes, devemos ser inconformados, pois a ciência e a tecnologia não estão com o rumo traçado tal qual um caminho sem volta. Devemos pensar na produção da ciência e da tecnologia como instrumentos que modifiquem a trajetória atual: em primeiro lugar, na construção de uma nação soberana, rompendo com a dominação, com o atraso, com a subserviência e o atrelamento ao pensamento dominante, que nos trouxe até aqui numa situação de desigualdade e desarmonia, onde a boa vivência de poucos tem significado a quase não sobrevivência da maioria. Em segundo lugar, utilizando todo o conhecimento humano, que é fruto do trabalho coletivo e solidário de gerações, para o bem da humanidade, para a sobrevivência digna de todos os homens do nosso planeta. Conclamo a todos a trabalhar nesse espírito em nossas tarefas diárias, em nossos afazeres acadêmicos, em nossas decisões que vão indicar que caminho nossa produção científica deve seguir. A Fundação Araucária, como parte do sistema de ciência e tecnologia do Paraná e do País, construída pelo esforço da comunidade científica, deve estar cada vez mais inserida neste debate. E o momento que estamos vivendo é muito propício, resultante de um trabalho profícuo destes últimos quatro anos, que alçou a Fundação Araucária a um patamar de visibilidade, confiança e respeito perante a comunidade cientifica paranaense e brasileira. Trabalho este apoiado pelo governador do Estado, Roberto Requião, com a participação efetiva do ex-secretário de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, professor Aldair Rizzi, seguido do trabalho da atual secretária, professora Lygia Pupatto, a quem nesta ocasião aproveito para parabenizar, assim como os diretores que estiveram à frente da Fundação neste período: seu presidente, professor Jorge Bounassar; seu diretor, professor Osmar Muzilli, e seu diretor administrativo, professor Fernando Gimenez. Quero cumprimentar também a comunidade científica paranaense que não tem medido esforços, com seu trabalho que dá suporte ao funcionamento da Fundação por meio de seus comitês assessores e consultorias que realizam de modo voluntário e competente. Aos servidores da Fundação pelo trabalho ágil e de qualidade que desenvolvem no atendimento, orientação e gestão dos projetos submetidos. Agradeço a confiança em mim depositada pela secretária Lygia Pupatto, pela indicação, e ao Conselho Superior da Fundação pela confirmação de nosso nome para o cargo. Espero corresponder às expectativas não medindo esforços para que a Fundação Araucária, ao apoiar os projetos para o desenvolvimento da ciência, da tecnologia e da inovação, seja parte do instrumento para as mudanças necessárias que transforme o Paraná em um Estado solidário e fraterno, colaborando assim com a formação de uma sociedade brasileira autônoma como nação detentora de um conhecimento libertário e inovador para a vivência harmoniosa entre homens e entre estes e o meio em que vivem. * José Tarcisio Pires Trindade (professor licenciado do Departamento de Informática da Universidade Estadual de Maringá) é presidente da Fundação Araucária, com doutorado em Engenharia de Sistemas e Computação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro/COPPE, com um ano de especialização no Politécnico de Milão (Itália).