Economistas afirmam necessidade de manter debate sobre crise econômica

Mais de 30 mil acessos foram registrados na página eletrônica criada para veicular para transmitir o seminário internacional Crise – Rumos e Verdades
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11/12/2008 - 17:50
Editoria
O seminário Crise - Rumos e Verdades encerrou nesta quinta-feira (11) com a formulação de propostas que ultrapassam o simples diagnóstico. O seminário reuniu mais de 35 especialistas entre economistas, sociólogos e jornalistas do Brasil e de países como Argentina, México, Itália, Estados Unidos, Rússia, Equador, Inglaterra e Venezuela, que durante quatro dias apresentaram caminhos e, sobretudo, demonstraram a necessidade de discutir a crise econômica atual para superá-la. A solenidade de encerramento contou com a presença dos governadores do Paraná, Roberto Requião; de São Paulo, José Serra; de Santa Catarina, Luiz Henrique da Silveira, e do senador Álvaro Dias, além dos palestrantes, como os professores e economistas Carlos Lessa e Darc Costa. Eles elogiaram e destacaram a iniciativa do governador Requião em sair na frente com a discussão da crise,que está atingindo proporções graves e ameaçadoras às economias em todo o mundo. Os debates foram transmitidos pelo sistema público de comunicação Rádio e Televisão Educativa e a página eletrônica do seminário no endereço www.crise.pr.gov.br registrou cerca de 30 mil acessos até a tarde dessa quinta-feira, o que mostra o interesse que o seminário despertou no público. Outras 1.500 pessoas assistiram ao vivo aos debates pela internet. HISTÓRIA – Para o economista Carlos Lessa, escolhido para resumir o que foi debatido durante o seminário Crise – Rumos e Verdades, “o mundo que virá depois dela funcionará de forma diferente”. Lessa elogiou a iniciativa da TV Paraná Educativa em produzir um DVD sobre os debates e colocar em pauta esse tema tão importante. “A nossa aflição foi ver que a primeira reação do governo brasileiro foi de negar o problema, em vez de prever os rumos que devem ser tomados”, disse o economista. Para ele, o momento é de acordar o Brasil, “de despertar a nação para a gravidade do momento, sendo que não é possível que uma matéria dessa importância não esteja disponível a todos os brasileiros e políticos”. Segundo Lessa, os palestrantes se desdobraram em apresentar várias sugestões que permitiram à platéia avaliar a diversidade e variedade de pensamentos, bem como apresentaram as formas como o Brasil deve enfrentar a crise. “Ficou claro”, disse Lessa, “que há sementes implantadas por essa crise na economia brasileira e cujos resultados poderão ser desgastantes.” Ele sugeriu que a mídia ocupe seu papel de informar as alternativas e não de naturalizar o processo. “Essa é uma crise de implicações sérias assumidas e que apresenta ao mundo uma exposição excessiva de todas as instituições financeiras”, afirmou. Por isso, propôs que a distribuição dos ônus da crise venha a ser um dos temas mais acirrados de um grande debate nacional. Para Lessa, os debates realizados no seminário mostram que houve falência de capacidade da gestão financeira criado pela economia global. DEBATE – Os idealizadores do seminário, cuja idéia foi abraçada pelo governador Roberto Requião, economistas e professores Carlos Lessa e Darc Costa fizeram um “debate final” a respeito das tendências da crise econômica. A preocupação colocada por Lessa foi com a possibilidade de estouro da “bolha tupiniquim”. E Costa manifestou a necessidade de valorizar o trabalho, as pessoas e a base produtiva como forma de enfrentar a crise. Lessa alertou contra os efeitos nefastos que podem se abater sobre a economia diante do crescimento do endividamento das famílias brasileiras, que vem acontecendo desde 2006. As famílias foram induzidas ao crédito, via crédito consignado aos aposentados ou com desconto em folha, o que fez dos aposentados e dos assalariados os devedores ideais, sem riscos para os bancos. Para as famílias, a disponibilidade de crédito foi uma oportunidade para aumentar o patrimônio, já que de outra forma não teriam como adquirir os bens duráveis que sonham e necessitam. O economista calcula que o valor total dos empréstimos, hoje, é equivalente a 40% do Produto Interno Brasileiro (PIB). Os empréstimos foram para desde a compra de automóveis até financiamento de cirurgias plásticas, o que foi uma brutalidade na avaliação de Lessa. Segundo ele, como tudo o que os brasileiros e suas famílias ganham correspondem a 37% do PIB, “portanto a dívida é de um quarto do total dos salários pagos no País”, calculou. O economista Darc Costa viu com otimismo um possível estouro dessa “bolha tupiniquim”, porque na sua visão, os lucros dos bancos e das empresas que foram imensos com esse endividamento das famílias brasileiras poderão não ser aqueles inicialmente almejados. “Será uma oportunidade para o retorno da valorização do trabalho, do lado produtivo da economia”, afirmou. Para Costa, o relevante é que o Brasil olhe para o seu futuro e estimule a construção de uma indústria capaz de atender a América do Sul. Esse seria um gesto de coragem do governo que deve estar consciente que somos capazes de somos capazes de construir um mundo novo, em que a economia não deve ser o fim dos processos e que o País tenha a capacidade de criar os empregos necessários para sua população. “Todo desempregado sabe que o seu maior problema não é só a falta de salário no final do mês, mas o de estar deslocado socialmente”. Lessa finalizou sua participação dizendo que tem uma visão otimista a respeito dos rumos futuros por causa do povo brasileiro, que sobrevive a tudo e procura sempre brechas para sobreviver. “O provo sobrevive à elite brasileira que nunca tomou conhecimento de suas necessidades. Aliás essa postura de não tomar conhecimento das necessidades alheias é postura clássica da elite”, observou.

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