Economista mexicano propõe nova arquitetura financeira

Segundo o economista, o México será prejudicado pela sua visão neoliberal, que beneficia grandes empresas e não investe em produção agrícola
Publicação
08/12/2008 - 12:45
Editoria
O economista e jornalista mexicano Mario di Constanzo explicou a situação do seu país frente à crise, que começou no sistema financeiro norte-americano. Constanzo falou no seminário internacional “Crise – Rumos e Verdades”, nesta segunda feira (8). “As autoridades mexicanas afirmaram recentemente que, se os Estados Unidos tiverem uma pneumonia, o México terá uma gripe. No entanto, a história e nossos números mostram justamente o contrário, o crescimento esperado do país para 2008 é de 1,8%, o mais baixo de toda a América Latina”, disse. Constanzo expôs suas propostas, já apresentadas ao Congresso mexicano, para atenuar os efeitos da crise. “Como se apresenta, o processo será longo e doloroso, com impacto nas nossas famílias, mas o governo terá, antes de tudo, que se pautar pela visão de bem-estar social”, afirmou. Ele defendeu que o governo mexicano deve investir em obras públicas, gerando emprego, na produção agrícola, para diminuir as importações de alimentos, e a construir refinarias de petróleo, dando independência energética ao país. O governo também deve congelar momentaneamente os preços de certos produtos, para frear as perdas salariais, financiar pequenas, médias empresas e comércio, com a contrapartida que não demitam, além de instituir pensão alimentícia para todos os maiores de 65 anos e dar bolsas de estudo para estudantes universitários. “O que precisamos entender é que essa crise não é a da quebra dos bancos de investimentos oriunda de um problema entre credores e devedores. Ela foi formada por uma especulação financeira irresponsável de banqueiros e supervisores e por governantes que não souberam dar um basta nisso. A solução não virá do mercado ou através de bilhões investidos pelos governos nesse próprio sistema, será preciso uma nova arquitetura financeira baseada na produção e competitividade, com mais regulação e transparência no mercado financeiro”, disse. IMPACTO – Segundo Constanzo, os recentes indicadores de preços no país demonstram que a população mexicana já sofre impacto em sua renda. “Avisamos desde 2006, durante as últimas eleições, que devido à patente fragilidade americana deveríamos nos proteger. Produtos de consumo básico como feijão, lentilhas e ovos já tiveram aumentos de mais de 100%, além disso, os preços da gasolina, diesel, gás e energia elétrica também não param de subir. O resultado disso é que os salários já perderam cerca de 70% do seu valor”, informou. A situação se agrava, de acordo com o economista, porque o governo não está tomando as medidas necessárias para proteger a economia. “Gastamos, nesta crise, US$ 15 bilhões para proteger as grandes empresas. No entanto, nossos regimes fiscais causam a erosão das rendas públicas, já que algumas empresas multinacionais chegam a pagar apenas 2% do seu faturamento, enquanto empresários nativos pagam entre 28% e 75% das suas rendas. A criação do chamado Imposto Empresarial, uma taxa única para as empresas, golpeou ainda mais as pequenas e médias empresas”, afirmou. FRAGILIDADE – O viés neoliberal presente no país, na visão de Constanzo, o expõe mais ainda às fragilidades externas. “O governo se recusa a construir refinarias de petróleo. O México, que é o quarto maior produtor mundial, compra gasolina americana que chega a um preço 21% maior que no estado do Texas. O nosso déficit comercial, que aumentou US$ 14 bilhões no último ano, chegou a US$ 68 bilhões, devido às importações de gasolina e alimentos”. “O desemprego mexicano chegou a 4,1% em outubro, maior taxa em seis anos. Cerca de 1,4 milhão de pessoas já estão com problemas para pagar suas contas do cartão de crédito. Esses juros, que chegam a 80% ao ano, se deve à concentração do mercado bancário em somente três instituições. Na Espanha, por exemplo, os juros são de 25%”, relatou o mexicano. O país ainda sofre com a diminuição da remessa de dólares dos seus imigrantes. “Elas representam a segunda maior entrada dessa moeda no país, com cerca de US$ 20 bilhões por ano. Essa conta secou, os mexicanos perdem seus empregos, e alguns estão até voltando”, lembrou Constanzo.

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