Economista italiano propõe reflexão crítica a respeito da economia mundial

Para o economista, ex-secretário de economia de finanças no governo Romano Prodi, Mario Lettiere, é preciso que os governos redefinam as regras do sistema financeiro
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08/12/2008 - 18:25
Editoria
O economista italiano e ex-secretário de Economia de Finanças no Governo Romano Prodi, Mario Lettieri, propôs uma reflexão crítica a respeito da atual conjuntura econômica mundial, em palestra realizada no segundo dia do seminário internacional “Crise – Rumos e Verdades”, promovido pelo Governo do Estado, em Curitiba. Segundo Prodi é preciso que os governos redefinam as regras do sistema financeiro, levando em consideração não apenas o aspecto econômico, mas o social e ambiental. “Devemos mudar os vários apartheides que movem as políticas. A destruição do ambiente, a pobreza, as guerras locais são fruto de um sistema profundamente injusto, de grande desequilíbrio, onde se consome mais do que se produz. Este consumo excessivo e injusto que estamos falando, teve como conseqüência a atual situação financeira, que certamente não será de breve duração”, opinou. Para Mario Lettieri, o tema de discussão do seminário é de tal importância que deve ser abordado em vários níveis. “A crise que vivemos é global. Não é cíclica, é nova, é diferente e é, também, perversa. Uma crise na qual o capitalismo que nós conhecemos antes não poderá se repetir. Alguns países, entre os quais a Itália e os EUA, estão já tecnicamente em recessão devido a crise do setor automotivo que emprega centenas de milhares de trabalhadores”, frisou o economista. De acordo com Lettieri trata-se de uma situação financeira que, se bem aproveitada, irá permitir mudanças. “Ninguém está em condições de quantificar o alcance da crise, mas podemos definir os efeitos sobre a economia real, sobre os empregos e empresas, rendimentos de famílias e sobre a qualidade de vida dos cidadãos. A especulação financeira foi muito grande. Havia muito que ser feito, mas ao invés isso foi apenas especulado”, argumentou. “O Brasil, no papel que desenvolve no Mercosul e no G20, tem consciência dos problemas postos pela atual crise e as medidas emergenciais propostas nos EUA. A cooperação entre os povos pode ser a solução para o problema”, afirmou. O economista reforçou a necessidade de um modelo mais justo para a população e mais equilibrado entre os vários continentes. “Eu devo dizer que fico escandalizado que temas como pobreza ou da retração financeira é abordada tão pouco na grande imprensa internacional. Pessoalmente, portanto eu entendo que se deva ter um modelo mais equilibrado entre os paises, entre os estados e julgo que esta deva ser a ambição para os trabalhos do G20”. Lettieri explicou que na Itália, a maior indústria automobilística do país, a Fiat, dispensou 50% dos trabalhadores. “Seria um erro pensar que esta crise seria igual àquela que tivemos em tempos recentes. Mas seria também um erro se abordássemos somente o problema das regras e não tivéssemos uma visão de um novo modelo de desenvolvimento compartilhada em vários estados”. “O novo presidente americano fala de um novo modelo de desenvolvimento, de uma nova civilização. Pode-se estar de acordo com ele à medida que esse modelo não diga respeito somente aos modelos norte-americanos, uma coisa impossível no mundo hoje globalizado. Seria erro em todo caso que uma vez superada a crise voltássemos a mesma forma de antes”, disse. Mario Lettieri acrescentou que a iniciativa do governador Roberto Requião permite um livre confronto de diversas posições, “exatamente como deve ser um país livre e democrático”. “Provavelmente, na ultima década poderia ter se evitado um problema deste calibre, se tivéssemos ouvido aqueles poucos estudiosos que avistavam e denunciavam os riscos de uma crise sistêmica global”, reforçou.

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