Economista defende moeda única e Banco Central para América Latina

Economista defende moeda única e Banco Central para América Latina
Propostas foram apresentadas na abertura do ciclo de palestras e debates Diálogos da Fronteira, organizada pela Fundação Parque Tecnológico Itaipu.
Publicação
17/03/2008 - 11:30
O economista e escritor César Benjamin defendeu na noite desta sexta-feira (14), em Foz do Iguaçu, a integração da América Latina com base na constituição de uma moeda contábil única, a amplitude da matriz energética e um plano de desenvolvimento para a Amazônia. Benjamim participou da abertura do ciclo de palestras e debates Diálogos da Fronteira, organizada pela Fundação Parque Tecnológico Itaipu. Segundo Benjamim, as propostas sustentam a idéia central de unificar a economia, a cultura e o que chamou de “conjunto sociológico” regional. Assim, o processo de federalização para formar-se o mega-estado ou bloco independente deve iniciar com a criação do Banco Central da América Latina. A instituição se implantada, conforme o economista, assumirá responsabilidade na emissão de uma única moeda contábil, independente do dólar ou de outros bens monetários. A proposta segue o mesmo modelo implantado na última década pela Europa com a difusão do Euro entre nações que compõem o bloco econômico europeu. “Uma moeda única nos daria geometria ao sistema, autonomia e força nas relações comerciais com outros blocos”, disse. Matriz Energética - Na outra ponta do projeto de integração da América Latina, aparece a ampliação da matriz energética do continente. Nesse contexto, César Benjamim considera Brasil, Bolívia e Venezuela países estratégicos para o sucesso do programa. A região tem espaço geográfico apropriado para a expansão de projetos na área energética, recursos naturais em abundância e excelentes condições climáticas. Benjamim citou a Venezuela como exemplo de potencial energético. O país tem a segunda maior reserva de petróleo do mundo, perdendo apenas para a Rússia, gás em excesso e um grande potencial hidrelétrico. “Dois fundamentos pressupõem o sucesso de qualquer projeto: alimento e energia. A América do Sul, para nossa felicidade, apresenta superávit nesses dois pontos”, afirmou. Considerado a maior fronteira aberta agrícola do mundo, com imensas áreas de terra, o Brasil oferece potencial hidrelétrico, autonomia de reservas de petróleo e capacidade para expansão de outras matrizes energéticas, como o biodiesel. “Somos uma grande casa de força que pode sustentar-se sozinha, sem a interferência de nenhuma outra nação”, frisou. Já a Bolívia, além da capacidade de produção de energia, é apontada como protagonista de um papel muito mais simbólico em todo o processo. Isso porque o país mantém as origens culturais ao conservar, em parte, a identidade da América Latina, com os povos indígenas, juntamente com o avanço tecnológico. “Acho que a idéia de integração passa, inicialmente, por essas três nações que representam a verdadeira face do continente”. Amazônia - O terceiro pilar para a o movimento de unificação da região refere-se à implantação de um projeto ousado e inovador para o desenvolvimento sócio-ambiental da Amazônia. O plano deve estar amparado pela tecnologia através de programas relacionados à biotecnologia, exploração adequada das jazidas de minérios da floresta e pelo gerenciamento das reservas de água, que hoje concentram cerca de 60% da água doce do mundo. Hoje, no entanto, acontece o sentido reverso do progresso. A exploração da Amazônia tem sido feita de maneira errada através do plantio de sementes em grandes áreas de terras, abertas no meio da floresta, cultivo de gado e pela venda ilegal de madeira. “A tecnologia que se usa atualmente é a mesma que se aplicava há 10 mil anos, quando o homem cortava as árvores e cuidava de rebanhos”, afirmou César Benjamim. Segundo o pesquisador, a Amazônia tem recursos estratégicos que podem situar o Brasil na vanguarda da alta tecnologia do século 21. Para isso, precisa-se de investimentos expressivos em pesquisas científicas, além da criação de um plano estratégico para o desenvolvimento econômico, social e ambiental da região. “Precisamos criar uma espécie de Petrobras na Amazônia, que provoque o desenvolvimento tecnológico da região, através de pesquisas em sinergia com os interesses nacionais”.