O governador Roberto Requião lamentou nesta quarta-feira (13) a morte da médica pediatra e fundadora da Pastoral da Criança Zilda Arns Neumann. Ela é uma das vítimas do terremoto que atingiu o Haiti, no Caribe. A Pastoral foi criada em 1983 em Florestópolis, cidade próxima a Londrina. Hoje, a entidade reúne mais de 240 mil voluntários, que acompanham o desenvolvimento de 1,6 milhão de crianças e idosos no Brasil e em mais de 20 países.
Requião decretou luto oficial por três dias no Paraná e irá sugerir ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva a criação do prêmio Zilda Arns, uma forma de homenagear a memória da fundadora da Pastoral da Criança e incentivar e reconhecer iniciativas em defesa da vida de mães e crianças. “A ideia é perpetuar as ações de proteção à vida nas classes mais pobres, seguindo o exemplo que Zilda Arns nos lega”, explicou Requião.
Para o governador, a morte de Zilda Arns é “uma perda irreparável”. Na nota oficial que divulgou nesta quarta-feira, Requião demonstrou a sua gratidão pelas parcerias que desenvolveu com Zilda Arns. “Há mortes verdadeiramente irreparáveis. O mundo perde uma mulher notável e o Paraná vê-se privado de uma parceira na luta em defesa da vida. Para nós, foi um privilégio trabalhar com Zilda Arns”, afirmou.
A médica estava em missão humanitária no Haiti, e foi uma das vítimas do violento terremoto que destruiu boa parte do país caribenho. “Zilda estava na frente de batalha para salvar a vida das mulheres e crianças em um dos países mais pobres do mundo. A solidariedade, o amor ao próximo, a extrema dedicação aos desamparados sacrificaram a sua vida”, observou Requião.
TRABALHO CONJUNTO – A Pastoral da Criança e da Pessoa Idosa mantinha diversas parcerias com o Governo do Paraná. No início do 2003, o Estado colocou 399 funcionários públicos à disposição da entidade — um em cada município paranaense. O objetivo era ajudar na expansão do atendimento da Pastoral no Paraná. Além disso, o Governo e a Pastoral assinaram diversos convênios para repasse de recursos à entidade. Boa parte do dinheiro foi aplicada na capacitação de líderes e voluntários.
Em 2007, a Copel tornou-se a primeira empresa do setor elétrico brasileiro a se aliar à Pastoral. Com isso, tornou-se possível contribuir com a entidade autorizando débitos cobrados junto com a conta de luz.
Desde março de 2009, a Pastoral da Criança participa do programa Paraná em Ação. Equipes da entidade fazem a divulgação da feira de serviços públicos gratuitos em comunidades pobres, para que a população possa usar os serviços colocados à sua disposição.
Em outubro do ano passado, o Governo do Paraná homenageou Zilda Arns, que passou a batizar o Centro de Atendimento Integrado ao Adolescente e à Criança de Florestópolis — cidade onde surgiu a semente da Pastoral da Criança, em 1983.
BIOGRAFIA — Zilda Arns tinha 73 anos. Era médica pediatra e sanitarista. Fundou e era coordenadora nacional da Pastoral da Criança, ligada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Ela nasceu no dia 25 de agosto de 1934, em Forquilhinha, Santa Catarina.
Filha de Gabriel Arns e Helena Steiner Arns, era irmã de Dom Paulo Evaristo Arns, cardeal arcebispo emérito de São Paulo e um dos pivôs na luta pela redemocratização do Brasil e das denúncias de tortura de presos políticos nas décadas de 1970 e 80.
Viúva desde 1978, Zilda Arns era mãe de cinco filhos — Rubens (médico veterinário), Nelson (médico), Heloísa (psicóloga), Rogério (administrador de empresas) e Silvia (administradora de empresas).
Em 1959, Zilda concluiu o curso de Medicina em Curitiba. Começou a vida profissional como médica pediatra do Hospital de Crianças Cezar Pernetta, em Curitiba. Ali, trabalhou entre 1955 e 64 atendendo bebês menores de um ano. Foi também diretora técnica da Associação Filantrópica Sara Lattes e chefe da divisão de Proteção Social do Departamento da Criança da Secretaria de Saúde Pública do Paraná.
Antes de começar a coordenar a Pastoral da Criança, cuidou em 1980 da campanha da vacina Sabin, durante a primeira epidemia de poliomielite no Estado. Dois anos depois, uma comunidade de bóias-frias de Florestópolis, no Paraná foi escolhida para a experiência piloto da implantação do projeto de Zilda, por apresentar índices alarmantes de mortalidade infantil – 127 por mil nascidos vivos.
Depois de fazer um treinamento na John Hopkins University, nos EUA, ela foi convidada em 1983 pela CNBB e pela Unicef para fazer, com a Igreja Católica, um trabalho pela sobrevivência infantil, tornando-se coordenadora nacional da Pastoral da Criança.
Desde 1978, Zilda Arns recebeu diversas menções especiais e títulos de cidadã honorária. Foi indicada ao Prêmio Nobel da Paz três vezes seguidas e recebeu 19 prêmios entre 1988 e 2002, entre eles a menção especial pela concedida pela Unicef-Brasil à personalidade brasileira de destaque no trabalho em prol da saúde da criança.
Também venceu o Prêmio Internacional da Organização Pan-americana de Saúde em Administração Sanitária, em 1994, e recebeu o título de Heroína da Saúde Pública das Américas, em 2002.
A Pastoral da Criança mobilizou e capacitou mais de 240 mil voluntários, que atuam em 40.853 comunidades em 4.016 municípios. A entidade acompanha hoje quase 95 mil gestantes e mais de 1,6 milhão de crianças pobres menores de seis anos.
Zilda Arns promovia a capacitação dos voluntários e sua transformação em agentes sanitários, trabalhando nas comunidades onde moram. Treinados, os agentes se tornam líderes comunitários aptos a colocar em prática ações básicas de saúde e acompanhar as famílias que estão sob sua responsabilidade. O aumento da qualidade de vida evita que surjam doenças e problemas de saúde.
(BOX)
Em nota oficial, governador lamenta morte da fundadora da Pastoral da Criança
O governador Roberto Requião divulgou nesta quarta-feira (13) nota oficial em que lamenta a morte de Zilda Arns Neumann no terremoto que atingiu o Haiti e destruiu a capital Porto Príncipe, na terça-feira (12). Requião decretou luto oficial de três dias.
Zilda Arns era coordenadora internacional da Pastoral da Criança e viajou para o Haiti no domingo (10). Ela participaria da Conferência Nacional dos Religiosos do Caribe e teria encontro com representantes de organizações não-governamentais e com o arcebispo de Porto Príncipe.
Leia a íntegra da nota.
“À tragédia haitiana, soma-se um terrível acontecimento: a morte de Zilda Arns. Há mortes verdadeiramente irreparáveis, insupríveis. Assim é o desaparecimento da mulher que criou um dos mais fantásticos programas de defesa da mãe e do filho, a Pastoral da Criança.
“A morte colhe Zilda Arns em plena atividade, na frente da batalha para salvar a vida das mulheres e crianças em um dos países mais pobres do mundo. A solidariedade, o amor ao próximo, a extrema dedicação aos desamparados sacrificaram a sua vida.
“O mundo perde uma mulher notável e o Paraná vê-se privado de uma parceira na luta em defesa da vida. Para nós, do Governo do Paraná, foi um privilégio trabalhar com Zilda Arns.”
“É uma perda irreparável”, diz
Requião sobre morte de Zilda Arns
Governador decretou luto oficial por três dias no Paraná e irá sugerir ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva a criação do prêmio Zilda Arns
Publicação
13/01/2010 - 15:22
13/01/2010 - 15:22
Editoria