Um dos desafios a serem vencidos em curto prazo pelo Brasil e outros países da América do Sul no momento atual da crise financeira e econômica é não deixar a recessão se instalar. Essa idéia foi defendida, nesta quinta-feira (11), pelo doutor em Economia e professor associado da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Ricardo Carneiro, durante a programação do último dia do seminário “Crise – Rumos e Verdades”, organizado pelo governo do Paraná e realizado em Curitiba, no Canal da Música.
“A recessão é uma doença grave e quando ela se instala fica mais difícil de combatê-la. Nós temos que preservar o crescimento”, disse o professor, que também é doutor em Ciência Econômica pela Unicamp e pós-doutor pelo Instituto de Estudos Latino-americanos da Universidade de Londres. “Em médio prazo, precisamos financiar o déficit da balança de pagamento, pois esse é um fato que já está voltando à nossa realidade. Também devemos retomar o circuito de crédito, pois o governo entregou liquidez para o sistema, mas o crédito está travado”, observou.
Para Carneiro, um segundo grande desafio a ser enfrentado é acabar com a especulação no setor de câmbio. “Isso significa não deixar que o mercado de derivativos comande a formação da taxa de câmbio no Brasil. Temos que proibir essa atividade especulativa, pois o mercado de derivativos é uma bomba de nêutrons que precisa ser desativada. Precisamos ter o controle de capitais”, analisou. Há hoje derivativos de ativos como ações, commodities (produtos agrícolas, minerais etc.), câmbio, juros e mais uma série de instrumentos mais “sofisticados” criados pelo mercado.
AUTONOMIA – Conforme o professor, as políticas liberais dos últimos tempos não proporcionaram a estabilidade monetária, o que ocorreu, na realidade, no campo de preços. “Não se pode considerar uma economia que tem tal taxa de juros e uma flutuação da taxa de câmbio da natureza como a que temos como sendo algo estável do ponto de vista monetário. Precisamos recuperar a nossa autonomia monetária, pois sujeitamos a nossa economia a uma manipulação dos preços macroeconômicos que respondem aos ciclos de liquidez internacional”, avaliou. “Há a necessidade de estabilizar de fato a moeda, por meio de um conjunto de medidas, inclusive usando o sistema de bancos públicos”, completou.
Carneiro explicou que deve ser trabalhada no país uma política fiscal de grande intensidade atrelada à política social. “É preciso fazer investimentos e manter o orçamento, pois isso cria uma demanda afetiva para a economia e mostra a direção para onde se quer ir”, destacou. “Deve-se descentralizar o investimento e tentar elaborar o orçamento junto com os Estados e municípios, além de reforçar os bancos públicos para que sejam mantidos os projetos de investimentos estratégicos”, acrescentou.
Por fim, o economista alertou que países não crescerão economicamente daqui para frente como fizeram nos últimos anos e previu que haverá uma batalha comercial em breve. “O mundo e as economias centrais vão desacelerar de forma muito intensa. Os países que têm mercados maiores poderão crescer mais rapidamente que os outros”, opinou. Ele afirmou que o Brasil pode apostar no investimento em petróleo como solução para a restrição de divisas e ajudar a vencer a crise. “O país também tem no seu caminho, como pontos positivos, o mercado interno e a integração na América do Sul.”