Dieese revela que 92,5% dos trabalhadores do Paraná tiveram aumento real de salários

Este é o quarto ano consecutivo em que mais de 70% das negociações analisadas pelo Dieese conseguem repor seu poder aquisitivo; o índice nacional foi de 87,7%
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17/03/2008 - 18:30
Editoria
Pesquisa divulgada nesta segunda-feira (17) pelo SAS-Dieese – Sistema de Acompanhamento de Salários do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos, revela que 92,5% das categorias de trabalhadores do Paraná tiveram aumento real de salário em 2007. O índice nacional foi de 87,7%. Este é o quarto ano consecutivo em que mais de 70% das negociações analisadas pelo Dieese conseguem repor seu poder aquisitivo quando o reajuste obtido é comparado ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), calculado pelo IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, parâmetro tradicionalmente utilizado nas reivindicações salariais. Desde a criação do SAS-Dieese, em 1996, esse é o mais longo período em que predominam negociações que asseguram aumentos reais de salário. Entre 1996 e 2003, apenas por duas vezes essa proporção superou a casa dos 50%. A mesma pequisa revela que 98,1% dos trabalhadores paranaenses asseguraram, no mínimo, a incorporação das perdas ocorridas desde a data-base anterior, resultado semelhante ao observado em 2006. O índice nacional foi de 96% das 715 negociações salariais analisadas pelo Sistema de Acompanhamento de Salários. Sandro Silva, economista do Dieese de Curitiba, atribuiu a boa performance do Paraná a recuperação da agricultura e do agronegócio. “Tivemos dois anos dificeis – 2005 e 2006 – com quebra de safra e preços baixos. Mas, em 2007, houve uma recuperação do setor. Não tivemos quebra de safra e os preços chegaram num patamar melhor”, afirma. Segundo ele, a pesquisa não analisou os efeitos do Piso Salarial Regional, “mas acredito que, com certeza, deve ter contribuído nas negociações salariais no Paraná”. Pesquisa nacional - Dos 715 documentos considerados, praticamente 88% - 627 deles - conquistaram aumento real de salário, ou seja, tiveram reajuste superior à variação do INPC registrada entre a negociação anterior e a data-base de 2007. O percentual é bastante próximo ao apurado em 2006 (86%), mas é o melhor resultado de toda a série. O levantamento apurou ainda reajuste igual ao INPC, em 59 documentos, e em 29 casos, a variação foi inferior à inflação. Apesar deste desempenho positivo, a magnitude dos ganhos reais reduziu-se em comparação com o ano anterior. Em 2006, 70% dos reajustes traziam um aumento real que superava em mais de 1% o INPC. No ano passado, porém, aproximadamente 60% das negociações apontavam o mesmo ganho. Também houve queda nos reajustes que superaram 3% de aumento: de 14% para 6% (Tabela 2). Na análise segundo os setores da economia, o comportamento verificado em 2007 foi diferente do ocorrido no ano anterior. Nas categorias profissionais vinculadas ao setor industrial, os resultados de 94% dos documentos superaram o INPC-IBGE. Em 2006, menos de 90% das categorias do setor conquistaram resultado equivalente. No Comércio, a proporção das negociações com ganhos reais reduziu-se de 91%, em 2006, para 85%, no ano passado. No setor Serviços foi notado o pior desempenho, com 81% das negociações com ganho real, 12% iguais ao INPC e 7% abaixo da inflação. Em 2006, as perdas ocorreram em 4% dos documentos do setor. Com relação às diferentes datas-base, houve relativa homogeneidade. Os meses de julho e novembro merecem destaque, pois no primeiro 100% das negociações garantiram ganhos reais, e em novembro, 98 % obtiveram resultado favorável. Em outubro foi verificada a pior situação. Utilizando-se o ICV-Dieese como parâmetro de comparação dos reajustes, não existem alterações significativas no comportamento das negociações salariais. A ampliação do poder de compra se dá em 93,5% das negociações (668 documentos); apenas 1% (ou sete casos) dos reajustes se igualou ao ICV-DIEESE acumulado desde a última data-base, e em 5,5% dos casos (40 registros) o percentual negociado foi insuficiente para reverter as perdas inflacionárias. O ano de 2007 ficará marcado como mais um período de conquistas para os trabalhadores brasileiros no campo da negociação salarial. Esses resultados favoráveis decorrem da configuração de um ambiente propício à negociação coletiva dado, entre outros fatores, pela estabilidade inflacionária, pelo crescimento econômico e pela queda nas taxas de desemprego, além da ação sindical. O comportamento econômico dos últimos anos permite notar que há uma estreita relação entre inflação e resultados das negociações salariais: à medida que o INPC-IBGE acumulado se reduz, aumenta a proporção de negociações com reajustes iguais ou superiores a esse índice. Entre 2003 e 2004, por exemplo, momento de mudança no padrão de comportamento dos reajustes salariais, o INPC-IBGE médio cai de 17,4% para 6,6% e o percentual de reajustes iguais ou acima desse índice salta de 42% para 81%. Em 2005, quando o INPC-IBGE médio correspondeu a 6%, quase 90% das negociações asseguraram resultados positivos. Em 2006 e 2007, com inflação média acumulada inferior a 4%, quase a totalidade das negociações assegurou percentuais de reajustes idênticos ou superiores ao INPC-IBGE. O mesmo não pode ser dito com relação ao comportamento do PIB. Quando são comparados os ganhos reais obtidos pelos trabalhadores nos últimos quatro anos com a taxa de crescimento do PIB referente ao ano anterior percebe-se que somente em 2004 – quando o PIB do ano anterior correspondeu a apenas 1,1% – foi significativa a proporção de negociações que resultaram em aumentos reais iguais ou superiores a esse indicador. Mesmo assim, esse percentual representou menos da metade do total de registros analisados (44%). Nos anos posteriores, quando a variação do PIB oscilou entre 3% e 6%, foi insignificante o percentual de negociações que conquistaram aumentos reais de mesma magnitude. Em 2005, considerando o crescimento de 5,7% do PIB do ano anterior, verifica-se que nenhuma das 658 negociações então analisadas obteve ganhos reais nessa proporção. Já em 2006, quando se leva em conta o incremento de 3,2% do PIB de 2005, percebe-se que cerca de 10% das negociações coletivas garantiram aumentos reais iguais ou superiores a esse patamar. Em 2007, menos de 3% dos aumentos reais registrados equivaleram ou superaram a taxa de crescimento do PIB de 2006, que correspondeu a 3,8%. Esses dados indicam que, embora o crescimento econômico seja extremamente favorável e crie um ambiente propício às negociações coletivas de trabalho, seus bons resultados ainda não foram incorporados aos salários dos trabalhadores. É neste momento que se deve pautar a necessidade de repartição dos ganhos de produtividade, através da qual os trabalhadores terão a oportunidade de elevar o patamar salarial vigente, profundamente rebaixado nas últimas três décadas. Ressalte-se que o PIB – indicador que expressa o crescimento médio da atividade econômica nacional – pode ser tomado como referência para as reivindicações por aumentos reais dos salários, como previsto nas regras de reajuste do Salário Mínimo oficial, conquistadas pelas Centrais Sindicais e atualmente em vigor.

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