O desafio de desenvolver um projeto em software livre para atender todas as demandas de um órgão do porte do Departamento Estadual de Trânsito (Detran-Pr), que envolve o gerenciamento de uma rede de serviços e processos relativos a 3,5 milhões de condutores e igual número de veículos registrados no Estado, reflete os avanços tecnológicos conquistados pela Celepar-Informática do Paraná nos últimos 3,5 anos.
Os produtos desenvolvidos pela Celepar foi o grande destaque do Fórum Internacional de Software Livre – FISL 7.0 que terminou domingo (24) em Porto Alegre com a participação de mais de 3 mil usuários e desenvolvedores de 18 países.
As palestras apresentadas pelos diretores e técnicos da empresa foram algumas das mais concorridas do evento. “A Celepar é atualmente uma das principais referências em desenvolvimento de software livre no Brasil e no mundo”, disse Gustavo Pacheco, representante do projeto BrOffice, ao abrir a palestra do presidente da Celepar, Marcos Mazoni.
Durante a apresentação da Rede Internacional de Administrações Públicas para Software Livre, que reúne governos municipais, estaduais e federais de diversos países de todos os continentes, também não faltaram referências às soluções desenvolvidas pela companhia paranaense.
João Anizio Torres Dantas, presidente da Agência de Tecnologia da Informação de Sergipe (Agetis), destacou a parceria daquele Estado com a Celepar. Atualmente, o Estado nordestino já utiliza o sistema Boletim de Ocorrências Unificado (BOU) desenvolvido para a Polícia Civil do Paraná e pretende utilizar os recursos que a Celepar desenvolveu para as áreas da educação, saúde e trânsito.
Da mesma forma, o gerente de inovações tecnológicas do Ministério do Planejamento, Gestão e Orçamento, Corinto Meffe, ao defender a necessidade do Brasil definir uma estratégia unificada sobre tecnologia da informação para a administração pública, destacou como modelo de cooperação o decreto do Governo do Paraná que, através de uma Licença Pública Geral-GPL, disponibilizou todos os sistemas de titularidade dos órgãos estaduais paranaenses para uso e desenvolvimento de quem deles quiser fazer uso.
Caso Detran – O projeto Detran é o modelo mais consistente de utilização de software livre pela Celepar. Esses sistemas incorporam uma série de ferramentas com arquitetura pré-definida e componentes reutilizáveis, códigos e padrões desenvolvidos em programas de código aberto. Reunidos na Plataforma de Desenvolvimento de Sistemas Pinhão Paraná (framework), o modelo implantado pela estatal paranaense tem possibilitado maior produtividade em sua fábrica de software.
A complexidade e a dimensão do sistema Detran-Pr envolve o gerenciamento de 99 Ciretrans (circunscrições de trânsito), com uma média de 70 mil processos/mes de condutores e veículos, 150 mil exames, 120 guias e transações de veículos. No total, foram realizados 180 casos de uso durante o período de testes do sistema de habilitação que já está implantado em seis ciretrans. A previsão é de que até julho todas as 99 unidades do Detran-PR estarão integradas num único sistema.
O caso Detran é emblemático. Segundo o presidente da Celepar, Marcos Mazoni, os serviços de informática que até 2003 eram executados anteriormente por uma empresa terceirizada, custavam ao governo R$ 27 milhões/mês, além de um valor igual somente com a impressão de carteiras de habilitação, R$ 4 milhões com utilização de banco de dados em software proprietário e mais R$ 1 milhão/ano somente com a manutenção desse sistema. “Tudo isto, sem que tivéssemos acesso aos códigos-fonte, o que tornava impossível a manutenção dos sistemas”, destacou Mazoni. Todos esses serviços são realizados agora pela Celepar, cujas soluções em software livre tem possibilitado não somente a economia de uma considerável soma de recursos públicos, mas também autonomia tecnológica e a garantia da continuidade dos serviços.
Mas esse caso não é o único. Outros sistemas de alta complexidade são desenvolvidos em software livre para diversos órgãos, em especial nas áreas da Administração, Fazenda Pública, Saúde e Educação. São centenas de sistemas, sítios na internet, serviços de mensagens curtas via celular, voz sobre IP (VoIP) e, para breve, transmissão de sinal digital de TV e rádio, que a Celepar vem desenvolvendo utilizando tecnologia software livre.
Para atender a toda essa demanda a empresa investiu na contratação e capacitação de técnicos, ampliou seu parque de computadores, reestruturou a área de suporte tecnológico, redefiniu seu modelo de gestão e está abrindo escritórios regionais nas principais regiões administrativas do Estado.
Outros sistemas - O salão Von Neumann do Centro de Eventos da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul foi pequeno para abrigar o grande número de usuários e desenvolvedores que foram atraídos para duas outras palestras dos técnicos e diretores da Celepar.
O diretor de Operações Nivaldo Cunha, o assessor de projetos Fabiano Mormul e o analista Márcio Kabke Pinheiro trataram de várias soluções desenvolvidas para o Governo do Estado. O sistema Expresso - correio eletrônico, catálogo, agenda e gerenciador de fluxos administrativos (workflow) - conta atualmente com mais de 50 mil usuários somente dentro do governo paranaense. Até o próximo mês esse número chegará a 120 mil contas, já que todos os professores da rede estadual também ganharão uma conta de e-mail. A capacidade do sistema pode ser medida pela média de usuários simultâneos, cerca de 2,5 mil.
Outro importante projeto é o Programa Paraná Digital, que em breve deverá instalar cerca de 45 mil computadores com acesso à Internet e um pacote de programas educativos nas 2.100 escolas paranaenses. Uma parceria com a Universidade Federal do Paraná (UFPr), e a utilização de software livre viabilizou o projeto. A UFPr desenvolveu um sistema de computador multiterminal onde quatro pessoas utilizam um mesmo gabinete sem perda de agilidade, reduziu consideravelmente os custos do programa. A utilização de um banco de dados desenvolvido em software livre - o PostgreSQL - na maioria dos sistemas feitos pela Celepar, também chamou a atenção em outra concorrida palestra dos técnicos da Rodrigo Hjort e João Eduardo Mikos.
Para Marcos Mazoni, a Celepar sai do FISL 7.0 com a convicção cada vez mais forte de que a opção feita pelo governo paranaense pelo software livre e a aposta no fortalecimento da empresa pública, além de correta ainda vai render muitos frutos para o desenvolvimento do Estado.