Desafio do Brasil é conduzir a exploração do petróleo, aponta César Benjamin

Cientista político César Benjamin citou experiências fracassadas de nações que tiveram grandes jazidas de petróleo, como México e Indonésia
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22/10/2009 - 19:40
Editoria
O grande desafio do Brasil é a forma como o País vai conduzir a exploração do petróleo na camada pré-sal nos próximos anos, disse nesta quinta-feira (22), em Curitiba, o jornalista e cientista político César Benjamin. “Nós estamos discutindo hoje o pré-sal graças a uma decisão tomada por Getúlio Vargas em 1953, com a criação da Petrobras. O mundo está cheio de experiências fracassadas de nações que já foram detentoras de grandes jazidas de petróleo, como México e Indonésia. O pré-sal nos desafia a fazer um novo plano de metas, como o que o Juscelino fez na década de 1950. Para isto o País terá que enfrentar uma série de questões”, disse. “A Indonésia esgotou suas reservas quando o petróleo era vendido a dois dólares o barril. Agora é um importador de petróleo. Nenhum desses dois países deixou de ser subdesenvolvido, ou deixou de ter uma grande parcela de sua população na pobreza. Temos também experiências bem sucedidas, como a da Noruega, que quando descobriu suas jazidas passou dois anos debatendo intensamente. O país acertou no uso do petróleo, melhorou as condições de vida das pessoas, projetou essa riqueza para as gerações futuras”, destacou Benjamin, durante o seminário “Pré-Sal – o Brasil no caminho certo”, em Curitiba. César Benjamin ressaltou a importância de valorizar o planejamento a longo prazo para a exploração do petróleo brasileiro. “Nós queremos ser México ou Noruega?”, questionou. “A produtividade em cada campo de petróleo segue uma curva em formato de sino, com um ápice e um declínio na produção. O debate atual é descobrir se este pico de produção já ocorreu, ou se ocorrerá em 2015 ou 2020”, afirmou. “Não há mais grandes campos de petróleo sendo descobertos de maneira razoavelmente rotineira. Por isto, a descoberta de uma nova província petrolífera pela Petrobras é absolutamente excepcional. Isso altera a posição do Brasil no mundo e nos força a tomar hoje decisões que serão cruciais para a formação do que será o Brasil em 20, 30, 40 anos”, falou. Benjamin destacou que a associação de uma legislação mais simples e um novo plano de metas, com uma parceria entre Petrobras e BNDES, é umas das soluções para estimular o crescimento da indústria brasileira. “Esse passo irá mudar o patamar da nossa indústria, pressionando também nosso sistema educacional a melhorar para qualificar os estudantes”, ressaltou. César Benjamin salientou que o fato de o petróleo estar a 7 mil metros abaixo do nível do mar vai incentivar o Brasil a montar uma longa cadeia produtiva, com muita capacidade técnica para extraí-lo. “Esta dificuldade nos coloca o desafio de um salto de modernização da indústria brasileira, em um conjunto enorme de setores, que demanda trabalho qualificado. Sabemos que no mundo contemporâneo as sociedades que ganham status são as que alocam sua população em trabalho qualificado”, disse. “A regulação do petróleo adotada em 1997 quebrou o monopólio da Petrobras e exigiu a realização de leilões em que as empresas vencedoras têm um prazo para colocar o campo em produção. A lei brasileira hoje é um monumento à estupidez. Como o Brasil já é auto-suficiente, isto significa exportar o óleo, dos quais as empresas passam a ser donas pagando apenas um imposto ao Estado brasileiro. A lei simplesmente proíbe o Brasil de planejar o uso de um recurso estratégico e não-renovável”, criticou Benjamin. Segundo Benjamin, o Brasil precisa tomar medidas de segurança em relação aos campos de petróleo. “Vários deles estão situados em regiões onde a soberania brasileira não é reconhecida por vários países, inclusive os Estados Unidos. Este é um primeiro motivo para entregarmos a exploração à Petrobras. É um risco nós assinarmos contratos de 30 anos com empresas que têm sua sede em países que não reconhecem a soberania brasileira nestas regiões”, opinou. Para Benjamin é necessário ao Brasil retomar a capacidade de ditar o ritmo desta exploração. “A nossa pauta de exportações está vivendo um período de reprimarização, como hoje representam a soja, o minério de ferro e o óleo cru. Ao meu ver o Brasil não deve se precipitar e se tornar um exportador de petróleo cru. O que nós precisamos fazer é aplicar o trabalho brasileiro no petróleo brasileiro, para que o Brasil produza os 3 mil derivados do petróleo, e tenha uma economia mais diversificada e poderosa, com uma mão-de-obra qualificada”, defendeu. A exportação de petróleo, segundo ele, não é necessariamente boa, já que os dólares advindos dessa venda são utilizados na compra de títulos do tesouro americano, que rendem juro zero. “Não valerá mais a pena ficar com o petróleo, que é um bem não renovável, finito, estratégico e só tende a se valorizar no mercado internacional?”, questionou. “O Governo do Paraná vem se destacando no cenário nacional como um governo que coloca sempre as grandes questões em alto nível, e promove um debate absolutamente necessário para o futuro do Brasil, um debate que mostra que estamos todos no mesmo barco e buscando o melhor para o País”, afirmou.

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