Data: 25/09/2007 - “Saúde - as armadilhas do mau debate” - Artigo assinado pelo ex-prefeito de Ponta Grossa, deputado Péricles de Holleben Mello

Artigo assinado pelo ex-prefeito de Ponta Grossa, deputado Péricles de Holleben Mello
Publicação
25/09/2007 - 18:16
Editoria
O debate sobre a colocação de novos leitos de UTI em Ponta Grossa vai, lentamente, entrando nos eixos. O açodamento e a espetaculosidade com que a discussão foi feita por setores da imprensa e por políticos de nossa cidade cedem espaço aos fatos concretos, contra os quais se pode até brigar e fingir que não existem. O que não se consegue é enterrá-los. A polêmica nasceu da promessa do secretário estadual de Saúde, Cláudio Xavier, de implantar 32 novos leitos de UTI na cidade até o ultimo dia 27 de junho. Como o prazo não foi “cumprido”, segue-se que o secretário é um “louco” ou um “mentiroso”, como impunemente foi chamado por alguns detratores. Em artigo publicado na ocasião, eu escrevia que os críticos se apegaram unicamente a questão da data, esquecendo-se de informar a população sobre o fato real (os leitos estão sendo efetivamente providenciados), e completava: “Como é possível colocar 22 novos leitos de UTI (10 já estão comprados) em dois hospitais que ainda não estão prontos? Da mesma forma, não podem ser colocados quatro novos leitos do neonatal da Santa Casa, porque a reforma não está concluída. Dos 7 leitos prometidos para a Santa Casa, 3 já foram entregues. O Hospital Bom Jesus recebeu apenas um dos cinco leitos prometidos devido à falta de área física para os demais”. Ora, essas informações, que já eram verdadeiras sem sombra de dúvida naquela ocasião, foram inteiramente confirmadas na reunião realizada na última terça-feira pela Força-Tarefa designada pelo governador Roberto Requião (da qual fiz parte). Ficou claro que as 10 UTIs do Ponto Socorro Municipal deverão estar em funcionamento em 1º de outubro, já que, como afirma o superintendente do Sistema de Saúde, Gilberto Martins, “o PS está com a estrutura pronta, os equipamentos foram repassados e a Prefeitura já contratou equipe profissional” (grifo nosso). Da mesma forma, no que tange ao Hospital da Criança, diz o superintendente: “Estamos em processo de licitação dos equipamentos do Centro Cirúrgico e somente fizemos a compra agora, porque as obras da reforma terminaram há pouco” (tomei a liberdade de transcrever as duas declarações de jornais locais). Além disso, o Centro Cirúrgico e as UTIs só poderão funcionar depois que o município contratar os profissionais responsáveis pela sua operação. Então, está tudo claro. O secretário Xavier falhou ao precipitar a data para a solução do problema, mas não em sua intenção e ações concretas para resolvê-lo e atender Ponta Grossa. A razão do atraso na entrega dos leitos de UTI não reside, portanto, na “loucura” do secretário, mas inequivocamente no atraso das reformas dos hospitais que receberiam esses leitos e de outras providências do município para o seu funcionamento. Mas, até chegarmos a esse ponto, quanta confusão! Alguém já disse que vivemos na sociedade do espetáculo, na qual as idéias valem não por aquilo que contém de profundo, de original e de transformador, mas apenas pelos resultados pirotécnicos capazes de proporcionar. É bem o caso. O grave prejuízo que representa, especialmente para a população mais pobre, a falta de mais leitos de UTIs em nossa cidade e a questão de saber a quem atribuir o atraso na entrega dos leitos, já elucidada, não devem esconder outro fato de extrema importância: quanto melhor e mais eficiente o atendimento básico de saúde, menor a necessidade de UTIs. É esta a questão que não pode ser obscurecida ao se fazer um debate profundo e transformador sobre a situação da saúde pública em Ponta Grossa. Será esta a questão que a ênfase no atraso do governo do Estado quis obscurecer? *Péricles Mello é deputado estadual (PT) e ex-prefeito de Ponta Grossa