É muito comum encontrarmos na História críticas duras das elites aos que geram conflito e questionamentos. Segregam-nos, tentam de todas as formas isolá-los da sociedade, se possível gostariam de vê-los mortos, queimados em fogueiras, presos ou taxados de loucos e jogados em hospícios, como aconteceu com muitos críticos brilhantes na História.
E se o crítico é do povo e não tem nenhum título de posse ou da academia, então, Deus me livre, denigrem e diminuem o seu tamanho de forma mais discriminatória ainda. Em alguns casos, criminalizando o crítico, como nos ensina Juarez Cirino dos Santos em suas obras sobre o Direito Penal. Na verdade, as elites querem o silêncio e tentam impor um script de como é um comportamento amoldado de normalidade para continuarem fazendo do Estado apenas aquilo que Klaus Offe nos disse: Querem o Estado apenas como articulador da acumulação privada. Mas devemos ter outros olhos para os críticos criadores de conflito.
Lendo o livro “A verdade e as formas jurídicas”, de Michel Foucault, que tanto nos ensinou sobre as formas de como as elites impõem comportamentos para a obediência a um tipo de sistema produtivo dominante injusto, nos traz novos ensinamentos ao dizer que na teoria de conhecimento de Friedrich Nietzche a verdade e o conhecimento estão próximos da luta e do conflito do poder, próximos dos que geram o conflito, pois ali está a revelação da verdade e do conhecimento, através do contraditório e não na normalidade imposta.
E ao ler a Encíclica Centesimus Annus, do Papa João Paulo II, para comemorar os 100 anos da Encíclica Rerum Novarum, do Papa Leão XIII, que tanto tinha influenciado a humanidade na construção de relações de trabalho mais humanas depois de sua publicação em 1892, vemos a Igreja com sua nova Encíclica Centesimus Annus em 1992, mudando seus paradigmas reconhecendo a importância do conflito na busca da justiça social, na revelação da verdade e do conhecimento.
Os geradores do conflito são geradores da verdade e do conhecimento, como Friedrich Nietzsche e tantos outros pensadores haviam afirmado, bem como a Igreja. Digo isso para afirmar que quando se conflita questionando o processo de privatização, que tirou capacidade de investimento do Estado, privilegiando poucos, processo que deixou mal e inseriu equivocadamente o Brasil no mercado internacional nos vulnerabilizando nas crises cambiais e nos colocando em condições de segunda classe na divisão internacional do trabalho, estes questionamentos conflituosos geram a verdade e o conhecimento.
Quando se conflita questionando os custos na implantação do pedágio, as conseqüências do uso de transgênicos, os equívocos em não ter se investido em ciência e tecnologia nos transformado em exportadores de commodityes, que nos penalizou ainda mais com a Lei Kandir, estes questionamentos conflituosos geram a verdade e o conhecimento.
Quando se coloca em questionamentos conflituosos as políticas que deram crédito e renúncia fiscal para poucos, deixando a agricultura familiar ao abandono, gerando urbanização, violência e falta de moradia nas cidades e concentração da terra no campo, estes questionamentos conflituosos geram a verdade e o conhecimento. Assim temos que apreender que o conflito, na busca da justiça, social é um componente importante na geração da verdade e do conhecimento. Querer domá-lo, reprimi-lo, marginalizá-lo, discriminá-lo são atos de agressão, porque não dizer de ignorância, dos que se privilegiaram com tudo isso que foi feito no Brasil e no Paraná.
Daqueles que sempre organizaram um Estado para poucos que ajudou na acumulação privada de alguns e não para todos. Autodidata de inúmeras áreas do conhecimento, sempre admirei os cidadãos do povo que geram conflito. Alguns sem posses ou sem títulos acadêmicos, que através do conflito, na busca da justiça social, nos traz a verdade e o conhecimento. Às vezes passam pela vida, ajudando muitas vidas, sem reconhecimento e sem desfilar nas colunas.
Fico feliz que a democracia continuada está permitindo que os cidadãos do povo, geradores de conflito, estejam virando presidentes, governadores e parlamentares. E só na democracia que isso é possível. E é por isso que o Brasil e o Paraná estão melhorando para todos. E não só para alguns.
Geraldo Serathiuk - Delegado Regional do Trabalho do Paraná
Data: 16/01/07 - "O gerador de conflito e a Teoria do Conhecimento" - Artigo assinado pelo delegado regional do Trabalho do Paraná, Geraldo Serathiuk
Artigo assinado pelo delegado regional do Trabalho do Paraná, Geraldo Serathiuk
Publicação
16/01/2007 - 16:10
16/01/2007 - 16:10
Editoria