Data: 13/09/2006 - Artigo assinado pela engenheira cartógrafa e analista de sistemas de informações geográficas da Celepar – Informática do Paraná, Cyntia Mara Costa - “Software Livre ou Comercial?”

Artigo assinado pela engenheira cartógrafa e analista de sistemas de
informações geográficas da Celepar – Informática do Paraná, Cyntia Mara Costa
Publicação
13/09/2006 - 17:25
Editoria
“Software Livre ou Comercial?” Este espaço poderia ser utilizado para apresentar características técnicas, componentes, funcionalidades e outras informações relevantes sobre software livre para Geo. Poderia também divulgar comparativos de desempenho, operações em relação aos produtos proprietários, citar centenas de endereços eletrônicos e nomes de programas. Optei por abordar um outro caminho, com duas direções opostas: os preconceitos que envolvem este tema e as soluções “de verdade” desenvolvidas com a tecnologia livre. Não nasci no mundo livre, pelo contrário atuo na área de cartografia digital/SIG desde os anos 80. Treinei e operei praticamente todos os programas de mercado. Portanto, toda a minha formação e conhecimento vêm do mundo proprietário. Em determinado momento, no ano de 2003, o Governo do Estado do Paraná implantou a política de software livre nas instituições estaduais. “O que é isto? Não existe. Não funciona. É coisa para nerds. Definitivamente, não é para GEO...” Estas eram e são, as afirmações mais comuns. Mas, como pela própria formação, aliada ao fato de que todos que escolhemos a área de geoprocessamento, somos um pouco desbravadores por natureza e aceitamos desafios com facilidades, o software livre representou mais uma etapa nesta empreitada. O começo realmente não é fácil. Os preconceitos nos impedem de pensarmos de uma nova forma, de mudarmos nossos paradigmas. “...Não há custo. É só baixar da Internet. Pode não funcionar. Joga-se toda a plataforma proprietária existente. Incendeiam-se as as bases de dados e arquivos produzidos. Começar tudo de novo! Não dá...”. A realidade, porém, é bem diferente. Encontramos em plataforma livre programas disponíveis para as diversas etapas das atividades de GEO/SIG. Entrada de dados? Tem. Edição? Projeções? Internet? Cliente-Servidor? Sistemas Gerenciadores de Banco de Dados Espaciais? Metadados Espaciais? Tratamento de Imagens? Padrões para interoperabilidade? Programas para GPS? Tem e tem. Todas ferramentas com as quais sonhamos estão ao nosso alcance, sem custos e sem limitações. Podemos selecionar, criar, produzir tudo o que um dia pensamos que poderia ser realizado se, e somente se, tivéssemos um bom software. “...Bem, então temos software livre disponível e acessível para todas as etapas do GEO?” Sim. As dúvidas continuam: “...Mas não sabemos trabalhar com SO livre. Além disso, temos milhares de feições em arquivos em formato proprietário, dados em SGBDE proprietário, funcionalidades desenvolvidas, equipes treinadas e trabalhando com software proprietário, além de programas adquiridos”... É neste ponto que temos, talvez, o fato mais surprendente. O software livre realmente é livre. Permite-nos trabalhar nos mais diversos ambientes: computadores livres e proprietários, simultaneamente: solução livre x dados em formatos proprietários; bancos de dados livres x bancos de dados proprietários. O mundo livre não nos engessa. Não nos escraviza. Possibilita-nos usufruir o que de melhor temos nos dois mundos e viver em harmonia. Criar e buscar melhores soluções. Desenvolver e disseminar a nossa área. Precisamos é experimentar. Usar. Tentar. Arregaçar as mangas e deixar definitivamente para trás os pilotos de programas que se intitulam profissionais e mantém reféns em seus computadores dados e informações, aguardando os vultuosos investimentos para a área. Aliás, estes "investimentos” defendidos por alguns, representam um dos fatores que mais atrapalharam nossa área nas últimas décadas e até hoje impedem a disseminação da tecnologia. Dirigentes ainda vêm o Geo como caro, oneroso, complicado e demorado. É melhor deixar para lá. Enquanto isso, mundo afora, os “system for systems” avançam, Google Earth, EOS, GSDI... Resolvidas estas questões do preconceito, vem a pergunta crucial: mas existem sistemas “de verdade” desenvolvidos com estes softwares? Imagine um programa de Governo que é desenvolvido nos 399 paranaenses, com dados atualizados diariamente na fonte, agregando informações on-line de outras secretarias de Estado e de órgãos federais, integrado e monitorado e por meio de uma aplicação Geo. Pense em todos os imóveis que são requeridos diariamente no Instituto Ambiental do Paraná para receberem a licença ambiental, integrados em uma base única e a eles somados os dados do meio físico. E os barracões da avicultura paranaense, todos georeferenciados e com funcionalidades desenvolvidas para a detecção de possíveis focos da gripe aviária. O que dizer então da Defesa Civil do Estado que possui um sistema com todas as ocorrências de acidentes e alterações climáticas, dados de prevenção de incêndios florestais gerados diariamente no SIMEPAR e disponibilizados on-line. Na Casa Civil as questões políticas do Estado são monitoradas por meio de uma aplicação Geo. E o Programa Paraná Biodiversidade integrando e disponibilizando os dados gerados em uma só aplicação. Os pais, alunos e cidadãos localizando as escolas estaduais nos mapas do munícipios, vendo as fotos da escola, conhecendo o nome do diretor, o número de vagas. E o parque de hardware do Estado que em breve a Celepar está inventariando e apresentando em uma base geográfica? E a sala de situação da Secretaria de Saúde, que está em fase de definição dos requisitos, bem como o Departamento Penitenciário do Estado? Certamente todas estas aplicações desenvolvidas pela Celepar- Informática do Paraná, são “de verdade”. Funcionam. Estão implementadas e sob constante uso pelas diversas secretarias de Estado e pelos cidadãos. Sistemas simples? Não. Múltiplas bases de dados e múltiplas plataformas de desenvolvimento. Dados geográficos produzidos por diferentes organizações em diversos formatos. Dados atualizados on-line. Imagens de satélites. E o software livre lá firme e forte. E os resultados? Para nós desenvolvedores, excelentes. Para nossos clientes? Bem, é melhor perguntar diretamente a eles e conferir o seu crescente grau de satisfação (www.celepar.pr.gov.br). Aliás, para finalizar, o nome deste artigo deveria ser “Software Livre & Comercial”. Cyntia Mara Costa A autora é engenheira cartógrafa e analista de sistemas de informações geográficas da Celepar – Informática do Paraná