Data: 12/01/2007 - Artigo assinado pelo sociólogo e diretor da Biblioteca Pública do Paraná,Cláudio Fajardo - “O Paraná está pronto para receber o FMS”

Artigo assinado pelo sociólogo e diretor da Biblioteca Pública do Paraná,Cláudio Fajardo
Publicação
12/01/2007 - 18:40
Editoria
Será uma honra ao Paraná abrigar o Fórum Social Mundial. O fórum que congrega as entidades mais representativas e combativas de nosso povo mostra para todos nós o quanto foi importante ter lutado pela democracia. Pois, nos tempos de ditadura qualquer reunião, encontro, não seria possível. E o FMS está fazendo exatamente o que imaginávamos que fariam as lideranças de nosso povo em situação de liberdade: a reunião de pessoas e entidades para deliberarem sobre a conquista de condições mais justas para toda a sociedade. Direitos sociais, inclusão social, justiça, solidariedade e fraternidade. São sonhos e ideais que os corações dos melhores seres humanos acalentam durante longos séculos. O mundo passou, nos últimos 300 anos por muitas transformações. Revolução industrial, revoluções políticas, revoluções nos costumes, revoluções científicas, revoluções socialistas e tecnológicas. Mas, se em alguns lugares a vida se tornou melhor, em muitas partes do mundo a sociedade não se tornou mais justa. Hoje no Paraná, se reúnem pessoas e entidades que querem trazer a próxima reunião do Fórum Social Mundial para Curitiba e o fórum congrega entidades e pessoas de todo o mundo que expressam os melhores sentimentos da humanidade. Não faz muito tempo que se reunia em Porto Alegre a primeira versão do fórum. Lá, naquela ocasião, o fórum era a busca de um contraponto ao Fórum Econômico Mundial que reunia os chefes de governos dos países mais ricos e, sob a batuta de um sistema imperial ditavam os horrores da política neoliberal para o resto do mundo. Falava-se, então, logo depois da queda da União Soviética, que o mundo se tornara unipolar e que somente uma nação lideraria o mundo, os EUA. Que aquele país ditaria as regras para a administração e organização do resto do planeta. Predominava, durante esse período, a idéia de que a mão invisível do mercado regularia a vida produtiva do mundo. Falava-se ainda que as nações perderiam poder de autodeterminação em vista do processo de globalização. Não se demorou muito tempo para que as pessoas de bem, os intelectuais e os movimentos sociais e políticos percebessem que o que se passava era um processo de forte recrudescimento do imperialismo. Percebessem que as lideranças norte-americanas forçavam a mão contra qualquer indício de independência. O resultado disso foi o mais brutal exercício de tirania que o mundo já vira. A agressão à ex-Iugoslávia, a pressão sobre a América Latina, a Guerra do Iraque, o desrespeito à ONU, a pressão sobre a Coréia do Norte e Irã, em fim, para manter o controle os EUA passaram a fazer o uso extensivo da violência. Mas, isso fez com que o poder estadunidense se isolasse no mundo cada vez mais. É exatamente aí que a América Latina começa a eleger novas lideranças, gente altiva como Luiz Inácio da Silva, Hugo Chaves, Kirchner, Evo Morales, Tabaré, Bachelet e Rafael Correa. Com essas lideranças a América Latina começa a tornar realidade o sonho de sua integração. Além e por causa disso, a América Latina começa a ser vista pelo mundo como uma possibilidade alternativa de sociedade. E aqui, especificamente no Brasil, já convivíamos com a idéia de que seremos o berço de uma nova civilização, mais justa, mais fraterna, mais generosa e libertária. Pelas riquezas materiais que possuímos, pela cultura multiétnica que formamos, pela generosidade do nosso povo, e isso pode-se dizer também dos outros povos latino-americanos, temos tudo para construir uma sociedade bem diferente dos modelos provindos do velho mundo e de seus congêneres em outros continentes. E aqui no Estado do Paraná, modesta mas firmemente, nós estamos dando enfrentamento aos transgênicos, nós temos denunciado a manipulação da mídia, nós queremos que a moradia deixe de ser um caso de polícia para ser um caso direito social. Nós queremos viver numa sociedade em que não se degrade o meio ambiente. Esses são princípios que tem regido os encontros do Fórum Social Mundial. Por isso é justo que proponhamos que em 2009 se realize aqui. Gente! O mundo está nos olhando com esperanças e aqui sentimos que a humanidade pode ser diferente. Venham, organizadores do Fórum, escolham a América Latina, escolham o Brasil, escolham o Paraná, escolham Curitiba. Cláudio Fajardo é sociólogo e diretor da Biblioteca Pública do Paraná