Era uma vez uma aldeia onde, para alcançar o principal centro de comércio para seus produtos, o povo tinha que circundar uma enorme cadeia de montanhas, o que levava muitos dias e muitos gastos, empobrecendo sua gente. Certo dia, um dos homens, inconformado com aquela situação, fez um chamamento à população da vila, para que fizessem um mutirão e cavassem uma trilha entre as montanhas, encurtando em muito as viagens. Pobre coitado! O povo pôs-se a rir e achar ridículas as idéias daquele visionário. “Como que eles, com pás e picaretas iriam vencer a montanha? Impossível!”, diziam.
Desapontado, o homem fez sua mochila e com poucas ferramentas dirigiu-se à montanha; foi iniciar a obra sozinho. Passados alguns dias, o povo da vila, à distância, observava com uma luneta o solitário escavador da trilha, transformado em assunto preferido nas conversas da praça. Mas, dois outros homens resolveram ir ao encontro do homem para ajudá-lo na obra.
Passado mais de um mês, os habitantes já podiam ver a olho nu um pequeno corte na montanha, era a trilha que aparecia timidamente. Mais cinco homens juntaram suas ferramentas e foram pra montanha. Já eram oito homens trabalhando, enquanto que nos dias seguintes, outros iam lentamente aderindo ao mutirão que se formava. Meses depois, os voluntários atingiram o topo da serra, para deslumbramento geral do povo, que definitivamente se engajaram na obra. Assim, em pouco tempo a vila alcançara seu velho sonho: sua trilha através da montanha. A felicidade foi geral. A população agradecida, mas envergonhada por ter sido descrente, homenageou aquele homem visionário que acreditou nos seus sonhos e daqueles que se acovardavam diante do imenso desafio.
Quando vejo o que já foi realizado nos portos do Paraná nestes últimos três anos, e para o que será realizado ainda este ano, me relembrei desta fábula dos livros infantis, mas que contém inúmeros exemplos na história: das pessoas que se arriscam ao fracasso e às incompreensões para realizar o seu sonho e os de seu povo. Fico pensando que a última obra pública importante realizada no Porto de Paranaguá foi em 1975 com a inauguração do nosso bom e velho “Silão”, que em breve terá um irmão 30 anos mais jovem aos seu lado, duplicando a capacidade de armazenamento do nosso “ouro verde” que é a soja. Incrível pensar que a cidade ganhou 25 quilômetros de avenidas pavimentadas pela Administração do Porto, uma reivindicação de décadas nunca antes atendida. Pensar que nosso cais ainda tem suas pedras lisas pisadas por gerações de trabalhadores portuários e instalações sanitárias insalubres, e agora estão sendo revestidas por modernas pavimentações de concreto e novas instalações adequadas aos portuários. Isto sem falar nos novos terminais de líquidos e minerais que surgirão na paisagem da cidade, da revitalização do pátio de triagem e da avenida portuária, onde as famílias agora poderão mostrar aos amigos e freqüentar com orgulho o seu porto. “Este porto está um caos!”, grita um opositor ao atual Governo, enquanto isso, os três últimos anos dão de goleada nos anos anteriores dos saudosistas, seja qual for a forma de comparação: movimentação de carga, receita cambial, eficiência de acostagem (a maior entre os portos vizinhos), aumento da carga geral, aumento de embarque de soja, automóveis, contêineres, navios atracados,
Ufa! É muita coisa. Tudo isso com dinheiro vindo de Brasília? Não. Tudo com recursos próprios, gerados e gerenciados honestamente neste curto espaço de três anos. É, meu caro Eduardo Requião, pode anotar tudo isso na sua biografia, pois você já superou a montanha, a trilha já está aberta. E parafraseando o poeta Drummond que dizia: “e agora José?” chamo aqueles que queiram se unir ao nosso mutirão para decolar de vez o nosso porto: é agora José!
Daniel Lúcio de Souza
Economista e superintendente em exercício da Appa
Data: 02/02/2006 - Artigo assinado pelo superintendente em exercício da Appa, economista Daniel Lúcio de Souza: “A montanha e o porto”
Artigo assinado pelo superintendente em exercício da Appa, economista Daniel Lúcio de Souza
Publicação
02/02/2006 - 17:19
02/02/2006 - 17:19
Editoria