Curso forma monitores de internet para atender comunidades isoladas

Índios, negros descendentes de quilombolas e assentados rurais são o público-alvo das aulas de informática oferecidas pela Secretaria de Estado de Assuntos Estratégicos
Publicação
22/07/2008 - 15:10
Editoria
Eles têm em comum o fato de viverem em comunidades isoladas, afastadas dos grandes centros, que não têm nenhum sistema de comunicação. Nessas comunidades, a luz elétrica chegou há pouco tempo. Eles são índios, descendentes de quilombolas e assentados rurais que sobrevivem do trabalho agrícola voltado basicamente para a auto-sustentação. Não faz muito tempo eles sequer imaginavam chegar perto de um computador. “No começo foi aquela tremedeira”, conta o índio guarani Nilson Karai Tataendy Florentino, 35 anos, que a exemplo de outros trinta representantes comunitários se prepara agora para ser monitor de telecentro. O índio é um dos participantes do curso de capacitação em informática promovido pela Secretaria de Estado de Assuntos Estratégicos (SEAE), Comitê Gestor do Programa Luz Para Todos (Eletrobrás/Eletrosul) e Companhia de Informática do Paraná (Celepar). Nilson mora na aldeia índigena Palmeirinha do Iguaçu, que pertence à Reserva de Mangueirinha, no município de Chopinzinho, onde vivem 93 famílias de guaranis e caigangues. A reserva é uma das contempladas pelo Programa de Inclusão Digital do Governo do Estado, que instalou na localidade um telecentro Paranavegar com 8 computadores. A internet deve chegar à aldeia até o final do ano através do satélite da rede de Governo Eletrônico – Serviço de Atendimento ao Cidadão (GESAC), do Governo Federal. O ponto de presença na aldeia só não foi instalado agora por estarmos em período pré-eleitoral. Mesmo assim, Nilson Karai está entusiasmado com o que já aprendeu. Seu primeiro contato com um computador ocorreu recentemente em Guarapuava onde participou de um curso sobre fotografia digital promovido por uma ONG italiana. Agora ele está aprendendo como manusear alguns programas, como a suíte de escritório BrOffice, que possui editor de texto, cálculos e planilha. Com a internet, sua expectativa é conhecer a sua própria cultura ancestral e manter contato com outras tribos. QUILOMBOLAS - As 7 famílias da comunidade negra Manoel Ciríaco dos Santos, no interior de Guaíra, na região Oeste, só tiveram contato com um computador no início de abril com a instalação de um Telecentro Paranavegar na comunidade. Ali vivem 50 pessoas descendentes de quilombolas. O ensino é até a 4ª série. Para concluir a 8ª série é preciso ir até a Vila Maracaju, há 5 quilômetros. Mesmo assim, Cleuzilene Aparecida Gonçalves, 19 anos, já conseguiu completar o segundo grau. Enquanto a oportunidade para frequentar uma universidade não chega – ela quer ser assistente social -, pretende ser professora na própria comunidade. Na comunidade Manoel Ciríaco dos Santos a internet chegou junto com o telecentro. São seis computadores interligados em rede, onde todos os moradores, indistintamente, podem fazer pesquisas, trabalhos escolares, elaborar documentos e enviar e-mails. “Agora a gente vê o mundo. Mudou tudo em nossa vida”, diz Cleuzilene, que também integra o grupo de monitores que participa do curso da SEAE que se estende até o próximo final de semana. Segundo ela, a média de acesso por pessoa é de 6 a 7 horas por semana. “Estamos diante da oportunidade da criação de uma rede horizontal solidária de cooperação, que possibilite maior intercâmbio de informações, oportunidades para melhoria da vida, geração de cultura e de negócios”, enfatizou o secretário de Assuntos Estratégicos e presidente da Celepar, Nizan Pereira. Para Gilnei Dias Machado, do Comitê Gestor Estadual do Programa Luz Para Todos, graças a esses novos canais de comunicação, a implementação de projetos e políticas públicas na área social podem ser mais eficazes. No Paraná, já são mais de 137 comunidades beneficiadas com telecentros, dos quais 56 localizados junto às bibliotecas cidadãs. O programa conta com os esforços das secretarias de Assuntos Estratégicos, Cultura, Celepar, prefeituras, Banco do Brasil e outras organizações não-governamentais.

GALERIA DE IMAGENS