Costumes tropeiros que influenciaram o Sul são apresentados em Castro

Os peões tropeiros gostavam muito de usar metáforas substantivas em seu linguajar que até hoje se mantêm como: cair do cavalo / dar com os burros n´água / negar o estribo
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22/07/2005 - 17:10
Editoria
A força do passado tropeiro paranaense está expressa em tudo o que se faz, festeja e se diz. Essa afirmação é consenso entre os três palestrantes do terceiro dia do I Encontro Paranaense de Cultura Popular que encerra no domingo( 24), em Castro. O evento é organizado pela Secretaria de Estado da Cultura em parceria com a Prefeitura Municipal. De acordo como o pesquisador Henrique Paulo Schmidlin, da Coordenadoria do Patrimônio Cultural da Secretaria, o movimento tropeiro foi responsável pela conquista do Sul do Brasil, uma vez que, pelo Tratado de Tordesilhas, este território pertenceria à Espanha e não a Portugal. "Os tropeiros eram responsáveis por todo o transporte de mercadorias. Eles foram o que hoje são os caminhões de carga. Portanto, nas rotas dos tropeiros formaram-se as cidades e todos os serviços dos quais os tropeiros precisavam", enfatiza. De Viamão (RS) a Sorocaba (SP) os tropeiros levavam os “muares semoventes” (mulas que se movem por si mesmas), e por mais de 200 anos percorreram este caminho. "As mulas são extremamente fortes e têm uma capacidade de equilíbrio muito grande, por isso atravessavam caminho difíceis com muita carga e passividade", observou o palestrante Francisco Filipack, professor de Teoria Literária e autor do Dicionário Sócio-lingüístico Paranaense. Os tropeiros e seus peões gostavam muito de usar metáforas substantivas em seu linguajar. De sua pesquisa, o professor Filipack listou algumas para apresentar em Castro: cair do cavalo / dar com os burros n´água / negar o estribo / cavalo dado não se olha os dentes / tirar o cavalo da chuva / forrara a guaiaca / crescer como rabo de cavalo / bater estribo / andar no cabresto / bater bruaca / estar de pito acesso / amarrar o burro / cor de burro quando foge / procurar chifre em cabeça de cavalo / fazer uma vaquinha / endireitar a cangalha / ir para a barroca. Para a professora Lea Maria Cardoso Vilela, todo o artesanato feito em madeira, como as mulinhas com balaios, em argila, palha de milho, taquara, lã de carneiro, vime e nó de pinho, é herança dos tropeiros, que formaram verdadeiros corredores culturais por onde passaram. "Em Castro, ainda hoje, mantemos grande parte dessas tradições. Toda a nossa literatura oral, brincadeiras infantis, festas religiosas, adivinhas, anedota e histórias de assombração têm referência no tropeirismo", reforça. (Box) Influência negra na cultura brasileira é debatida em Castro “Somos um povo negro. A melodia da nossa língua é negra. A nossa religiosidade é negra. A habilidade para trabalhos manuais também herdamos dos negros escravos. O samba como sabemos são africanos”, lembrou o professor José Flávio Pessoa de Barros, antropólogo e professor das universidades Estadual e Federal do Rio de Janeiro, durante o I Encontro Paranaense de Cultura Popular Para o debatedor e coordenador de Incentivo à Cultura da Secretaria da Cultura, Glauco Souza Lobo, também participante do Encontro, a cultura negra está enraizada em todos os brasileiros, sejam eles descendentes de índios, europeus, orientais ou negros. “Só para dar alguns exemplos quando dizemos “isso faz a minha cabeça”, ou quando nos referimos à quantidade “trocentos”, ou ainda nas palavras com sílabas duplicadas como mamãe, papai, bumbum, bebê, estamos usando expressões africanas.” Desta forma, a cultura negra que chegou ao Brasil trazida por escravos apontados como pessoas sem alma e sem cultura, e que não foram em nenhum momento respeitados pelos colonizadores, teve influência definitiva na formação do povo brasileiro. “No entanto, a força da cultura negra, que possibilitou a sua sobrevivência durante a escravidão, continua viva e latente”, afirmou Pessoa de Barros. Para que o público pudesse sentir o que estava falando, o professor José Flávio trouxe discos e livros sobre a cultura negra. E para terminar esta etapa do Encontro, o público assistiu a uma apresentação da Congada da Lapa e ao Coral Sorriso Negro, de Tibagi. Nos intervalos o Grupo Espaço Cultural Muxirão, de Castro, mostrou suas habilidades na capoeira.

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