O aumento de participação da Copel no capital social do consórcio Dominó, que detém 34,7% do capital social da Sanepar, vai ser um negócio “vantajoso e rentável” para a estatal de energia, além de atender ao interesse público por conferir poder de veto à Copel nas decisões estratégicas da empresa de água e saneamento.
Detalhes da operação foram expostos e explicados ontem aos deputados na Comissão de Constituição e Justiça da Assembléia por diretores da Copel, atendendo a um convite formulado pelos parlamentares. O presidente da Companhia, Rubens Ghilardi, mostrou aos deputados que a compra dos 30% de participação da Sanedo na Dominó, elevando a participação da Copel dos atuais 15% para 45%, será também “um bom negócio” do ponto de vista do investimento. “Nas avaliações que fizemos, concluímos que a compra é vantajosa, com rentabilidade líquida de 9,5% - bastante superior ao retorno proporcionado pelos investimentos que vimos fazendo em energia”, disse.
O VALOR - Ghilardi também explicou que o valor da negociação, de R$ 110 milhões 114 mil – ou o equivalente a 42 milhões de euros – reflete os 30% mantidos pela Sanedo no patrimônio líquido da Dominó, mais o equivalente a 495 mil euros referentes à parte da Sanedo no caixa da holding. “As versões divulgadas, que falam de R$ 75 milhões como sendo o valor justo para a operação, tratam unicamente da fração da empresa no capital social da Dominó, não considerando investimentos feitos na Sanepar desde a constituição do consórcio, as reservas de lucros – que são ativos de valor – e os direitos societários”, sublinhou o presidente. “Claro que tudo isso vale bem mais que o capital escriturado”.
Depois de historiar aos deputados todas as conversações entre Copel e Sanedo desde o seu início, no final de junho passado, Ghilardi afirmou que no entendimento da Diretoria Jurídica da Companhia a negociação não necessita de prévia autorização legislativa, uma vez que a Copel seguirá sendo minoritária no âmbito da Dominó Holdings. “Não existe lei que proíba a Copel de ser ou de continuar sendo minoritária nas sociedades em que já participe”, explicou o presidente. “Estamos amparados pela Constituição do Estado e por outras leis, que nos sujeitam a ter autorização prévia da Assembléia apenas nas parcerias onde a Copel seja a sócia majoritária”.
Acompanharam Ghilardi à audiência pública na Assembléia Legislativa o presidente do Conselho de Administração da estatal, João Bonifácio Cabral Jr e os diretores jurídico, Zuudi Sakakihara, e de finanças, Paulo Roberto Trompczynski.
DESÁGIO - O valor que a Copel se dispõe a pagar pelos 30% de participação da Sanedo na Dominó Holdings foi avaliado e auditado pela KPMG, uma das maiores e mais respeitadas organizações do ramo no mundo, e tido como “viável e vantajoso” pela estatal. “Caso os valores de compra tomassem por base o valor de mercado, ou seja, a cotação das ações da Sanepar em bolsa de valores, iríamos desembolsar R$ 16,2 milhões a mais que nossa oferta”, argumentou Rubens Ghilardi. “Isso quer dizer que estamos comprando as ações da Sanepar por valores inferiores aos de mercado e, considerando o patrimônio líquido da Dominó, estamos adquirindo a participação da Sanedo com um deságio de quase 40%”.
Além do aspecto econômico e financeiro da operação, o presidente da Copel destacou que a posição atual da Companhia dentro da Dominó, com 15% de participação, não lhe confere nenhum direito. “Não temos voz e nem voto na situação atual”, enfatizou Ghilardi. “Mas se somarmos à nossa parcela os 30% da Sanedo, o Acordo de Acionistas nos garantirá o poder de interferir no orçamento anual e nos planos de investimentos da Sanepar com o poder de veto, importantíssimo para assegurar que a Sanepar siga atuando no interesse da população do Paraná e cumprindo as finalidades sociais para as quais, a exemplo da Copel, havia sido constituída”.
HISTÓRICO - As negociações da Copel visando adquirir da Sanedo sua participação de 30% das ações no consórcio Dominó começaram em 27 de junho de 2007 quando a Sanedo comunicou aos seus sócios existir interesse da empresa Brasil Saneamento em adquirir a sua parte pelo valor de 42 milhões de euros. Poucos dias depois, em 4 de julho, a Sanedo informou que a proposta da Brasil Saneamento não era firme, pois dependeria da realização de uma auditoria para ser confirmada. Em 26 de julho, a Copel manifestou aos acionistas da Dominó que teria interesse em comprar a participação de interessados em alienar suas posições.
No dia 6 de agosto, a Andrade Gutierrez – uma das acionistas da Dominó – manifestou interesse de fazer uma venda em bloco sem informar preços, o que não interessou à Copel. “Comprar em bloco torna a operação sensivelmente mais cara, contrariando a boa gestão dos recursos públicos”, ilustrou o presidente Rubens Ghilardi aos deputados. Por isso, em 10 de agosto a Copel manifestou interesse em exercer o Direito de Preferência para adquirir os 30% de participação da Sanedo, que no dia seguinte comunicou que a Brasil Saneamento havia desistido definitivamente da sua intenção de compra e propôs à Copel vender sua parte na Dominó pelos mesmos 42 milhões de euros, acrescidos de 578 mil euros correspondentes à sua parcela de 30% no caixa da Dominó.
Estudando a contabilidade da holding, a Copel não encontrou esse valor no saldo de caixa que caberia à Sanedo mas 495 mil euros, que somam-se aos 42 milhões de euros constantes da proposta firme apresentada à Sanedo em 5 de novembro e que, por item do Acordo de Acionistas, aguarda manifestação dos demais sócios com respeito ao exercício do Direito de Preferência.