Cooperação entre países é a única saída para a crise


José Carlos de Assis diz que globalização conecta os mercados e força a cooperação entre os países
Publicação
08/12/2008 - 18:14
Editoria
O presidente do Instituto Desemprego Zero e assessor da presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), José Carlos de Assis, afirmou nesta segunda-feira (8) que a crise não se limita às questões econômicas, mas aponta para mudanças de paradigmas em vários setores. Segundo o economista, a crise atual não é uma simples repetição de crises anteriores, como a de 1929, e se difere, principalmente, pelo contexto atual da globalização, que, por interconectar os mercados, força a cooperação entre os países. De acordo com o presidente do Instituto Desemprego Zero, a globalização “empurra” os países para políticas integradas de enfrentamento da crise. “Nenhum dos países vai escapar se agir por conta própria, por mais poderoso que seja sua economia. Isso ficou claro nos primeiros movimentos dos EUA, quando (George W.) Bush tentou se mover isoladamente, mas viu que não dava. Então buscou articulação com a União Européia, que por sua vez buscou articulação com a China. E assim vai ser”, afirmou. Assis é economista, jornalista e escritor, e participou na tarde desta segunda-feira (8) do painel “Crise e Sistema Financeiro Mundial”, no seminário “Crise – Rumos e Verdades”, promovido pelo Governo do Paraná, em Curitiba, até quinta-feira (11). Para ele, a cooperação entre os países se configura como a principal saída para a crise, porque as mudanças de paradigmas “criam uma condicionante para a economia, assim como a economia cria condicionantes para outras esferas. É uma interação”. Assis disse que a cooperação implica na construção de um processo de segurança, e não na promoção da guerra. “Numa situação em que o mundo está nuclearizado, com cinco potências de primeira linha, três de segunda e algumas candidatas, não se pode fazer a guerra. Não adianta os EUA terem capacidade de explodir o mundo ou a Rússia, com metade do poderio americano. A capacidade de destruição é a mesma. O poderio nuclear, bioquímico, eletrônico, tudo o que tem nos arsenais como destruição de massa se tornou inútil”, disse. PARADIGMAS – De acordo com Assis, as questões ambientais e de desenvolvimento científico, inclusive sobre técnicas genéticas, são alguns dos paradigmas que levam os países às políticas de cooperação. Dentro desse contexto, ressaltou Assis, cria-se um outro processo de democracia, chamado “democracia de cidadania ampliada”, que diz respeito não apenas ao comando da maioria, mas ao comando apoiado pela minoria. “Este processo de democracia, para o qual caminhamos, nos leva a idéia da cooperação”, afirmou. Assis disse ainda que esse processo de cooperação e de democracia são baseados no contexto de liberdade. Segundo o economista, para cooperar, os países precisam ser livres, mas a cooperação impõe limites. “A idéia de liberdade do início da Idade Moderna, que era de liberdade ilimitada, se antepunha ao poder absoluto dos reis e estados opressores. No momento atual, não é apenas a liberdade dos mercados, o livre-comércio, a idéia da auto-regulação, é a própria idéia da liberdade sem limites. Mas, no momento em que se instalar a nova idéia de cooperação entre os povos, isso tende a desaparecer”, disse. EMPREGOS – Para Assis, essas questões convergem para o retorno das idéias de Keynes – investimentos do Estado para gerar empregos, adaptados à realidade de cada país. “Nesse sentido, Brasil e China ocupam posições privilegiadas. Podemos recorrer a políticas clássicas keynesianas de expansão da demanda agregada através da expansão dos gastos públicos, sobretudo em serviços públicos fundamentais. Os EUA terão grande dificuldade porque seu mercado de trabalho é diferenciado e especializado. Então terão que inventar algo”, disse. Para Assis, se a ênfase do investimento for passada para o setor público e ele investir em políticas públicas básicas, será criada uma “âncora vigorosa para reforçar a demanda e através da demanda reforçar o investimento, e, com o investimento, o emprego, e entrar num circulo virtuoso”, afirmou. O presidente do Instituto Desemprego Zero ressaltou que, nessa linha, as políticas adotadas pelo Paraná podem aliviar os impactos da crise. “Isso é importante porque, em uma crise de demanda, como vai se verificar, em que a renda cai, o Estado adquire um papel central e, no Paraná, o Estado já vem desempenhando um papel importante”, afirmou. O economista destacou também que já está em discussão o desenvolvimento de uma política de pleno emprego. De acordo com ele, a idéia já vem sendo aplicada na Índia, Argentina e África do Sul e seria um caminho, sobretudo, para reestruturar as metrópoles brasileiras, e se configura como uma oportunidade criada pela crise. “Todos os desempregados que estiverem dispostos a trabalhar por um salário-mínimo em sete meses, têm o emprego garantido. Esse trabalho será aplicado na reestruturação urbana de favelas, equipamentos públicos e casas dos favelados”, explicou Assis. O economista contou ainda que o programa precisaria de R$ 40 bilhões por ano. “Em cinco anos, não teríamos mais favelas e enfrentaríamos um problema secular”, comentou. BRETTON WOODS – Assis disse ainda que os países caminham para um novo Bretton Woods (acordo realizado em 1944 que regulamentou transações financeiras, determinou o dólar como moeda-padrão e criou o FMI e o Banco Mundial. “Independente dos neoliberais, (o novo Bretton Woods) vai ser forçado pelas circunstâncias. Aliás, a crise começa com a ruptura desse acordo e, um pouco antes, quando os bancos, como os ingleses, tentam escapar da regulação bancária norte-americana. Vamos voltar a discutir uma regulamentação, e que funcione tão bem quanto a de Bretton”, disse.

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