Cooperação entre os países deve substituir o fim do neoliberalismo

Para o professor José Carlos de Assis, o neoliberalismo acabou e a única solução para o enfrentamento da crise global é a cooperação entre os países para reorganizar a economia
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26/03/2009 - 15:10
Editoria
A cooperação entre os países é a solução inevitável para o enfrentamento dessa crise global que está superando a grande depressão de 1929/30 em profundidade e extensão, disse o professor José Carlos de Assis, presidente do Instituto do Desemprego Zero e assessor da presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Para Assis, o momento é de mudança de paradigma com o fim do neoliberalismo como modelo de desenvolvimento. Na avaliação de Assis, embora os efeitos colaterais da crise sejam evidentes, o mesmo não se pode dizer da realidade pós-colapso. Ele destacou que da crise vai emergir uma nova globalização a partir da soberania dos países. “Estamos entrando na idade da cooperação porque os grandes desafios serão enfrentados pela negociação, o que é o oposto do neoliberalismo”, afirmou. O professor acentuou que o mercado auto-regulado não pode fazer cooperação. A avaliação foi feita durante o Seminário “Crise – Desafios e Soluções na América do Sul”, que na manhã desta quinta-feira (26) explorou o tema A Crise e o Continente Sul Americano. Para o professor, a nova globalização será marcada pela proteção estratégica às indústrias, maior cooperação entre as nações e maior restrição à especulação financeira. “A globalização financeira vai mudar completamente. Os países vão vigiar suas economias porque sabem que não dá mais para dar espaço à especulação. O princípio da globalização pós-crise será a cooperação”, avalia Assis. O professor de Economia acredita que o mundo só vai sair da crise quando os vários pacotes de socorro já lançados pelos países forem coordenados. Só aí - projeta - a roda da economia vai voltar a girar. Otimista, prevê que isso deverá começar no próximo ano. Aliás, para o economista, 2010 será melhor que este ano, mas a recuperação das indústrias, dos bancos, do mercado financeiro, das empresas e do emprego só virá mesmo em 2011. “Já vivemos uma forte retração neste ano. Em 2010 não vamos crescer, mas também não vamos cair. O início da recuperação se dará em 2011” disse. “As medidas adotadas até agora estão muito concentradas. Será necessário um “New Deal” mundial. Aliás, será a primeira vez na história do mundo que a cooperação será o imperativo para a superação”. “Hoje o mundo está conectado e a débâcle foi geral. Na Ásia, a queda no comércio internacional vai até 60% e a situação é de desespero vai continuar assim enquanto Estados Unidos e a Europa não se recuperar”, avisou. Contêineres de países como Coréia do Sul, Malásia e outros estão navegando com apenas 10% de capacidade ocupada. Para Assis, o sistema neoliberal não tem mais volta. Isso ficou muito evidente quando a opinião pública norte-americana se levantou contra a farra dos bônus. “Isso era um sistema real dos Estados Unidos que entrou em colapso”, afirmou. Esse mesmo colapso está atingindo o principio de liberdade individual ilimitada, que levou à dilapidação do meio ambiente, sistema que também entrou em colapso – acrescentou. Em outras épocas uma crise dessa desembocaria numa guerra, o que não está acontecendo agora por causa do imperativo nuclear em muitos países. Portanto, para a segurança dos povos o melhor a fazer é cooperar, coisa que está sendo feito pelos EUA. Exemplo disso – apontou Assis - é a negociação já iniciada com o Irã para evitar o desenvolvimento da bomba atômica naquele país. O princípio da cooperação e que vai reordenar o mundo daqui para frente. As elites políticas devem se render a essa realidade porque o mundo inteiro hoje, com exceção da China, tem o sistema democrático que pressiona. A opinião pública é que vai empurrar os países e a elite política para a negociação. O professor destacou a necessidade de blindar as conseqüências da crise no curto prazo que está gerando conseqüências dramáticas como o desemprego, onde as taxas divulgadas pelo Ministério do Trabalho podem ser ainda mais altas daqui para frente ou com ganhos mínimos. Isso leva tensão social grande se não for enfrentado - avisou. No Brasil, Assis defendeu como único caminho viável a ativação da demanda do mercado interno. Com crise de crédito no mundo todo não há como ativar as exportações e também não há como estimular os bancos emprestarem dinheiro para a expansão das empresas, disse. “E a expansão do mercado se faz pela política fiscal, caso contrário podemos ficar em recessão quase por até 60 anos”, observou. Para Assis, o problema é que o governo brasileiro está fazendo o contrário, ou seja, está cortando o orçamento num momento que precisava expandir o gasto e também o déficit público. O governo não faz a expansão e utiliza argumentos que não têm mais razão na atual situação. A preocupação é com a desclassificação das agências de risco ou com a inflação. “Ora, quem levará a serio essas avaliações se o crédito desabou? E depois estamos em risco de entrar em deflação, que é o pior que pode acontecer”, alertou. Segundo o economista, todos estão fazendo política fiscal expansiva, a China, Europa e os Estados Unidos. Só Brasil está na contramão. Na sua opinião, o déficit público é a única forma de enfrentar a queda da atividade econômica porque aumenta o gasto, recupera a receita e ela reconstitui o orçamento. Outra alternativa para aquecer a economia é seguir exemplos da Argentina e da Índia que adotaram programas de expansão fiscal e de emprego garantido. A mão-de-obra disponível deve ser usada para reestruturar as periferias metropolitanas em forma de mutirão remunerado e de serviços comunitários. Isso pode ser o link dos programas sociais de todos os países da América do Sul, sugeriu Assis, onde 1,5% do PIB dos países pode ser aplicado para garantia dos empregos na América Latina. E aí entra um projeto de integração para valer a exemplo que aconteceu na Europa na década de 50, quando fizeram acordos para desenvolver a indústria básica e de energia. Na América Latina podemos fazer um projeto energético, de infra-estrutura comum mas articulado a um projeto industrial e de rede de consumo. Também pode ser feito um projeto de energia nuclear comum. “Por fim o projeto da moeda única”, resumiu.

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