“Nós depositamos nossas esperanças na eleição de Barack Obama, acredito que foi uma reconciliação dos EUA com o seu próprio povo. Foi um adoçamento das relações da potência imperial com os países do mundo. Mas as últimas medidas tomadas acabam, tristemente, nos revelando que elas são muito mais as medidas do Partido Republicano do que medidas que mudam a realidade”.
“A proposta que elaboramos é que não se aceite redução de salário, compressão de salário mínimo, pelo contrário, que a valorização do salário seja uma política definitiva. Falta também financiamento. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi pelo caminho certo na questão salarial, provocando uma sensível recuperação do salário mínimo do País. Quebra o depósito compulsório, flexibilizando o valor que os bancos poderiam colocar em circulação. Mas os bancos continuavam nos princípios de Basiléia. Acreditavam e acreditam muito mais na sua própria liquidez e situação financeira do que em soluções financeiras para os problemas econômicos. O que aconteceu com a flexibilização dos depósitos compulsórios? Nada mais que a aplicação em Letras no Tesouro”.
“Foi proposta a estatização de todo o recurso derivado da flexibilização do depósito compulsório, que deverá ser entregue ao Brasil através dos bancos públicos. Outro problema sério: a flutuação do câmbio ao sabor da mão invisível do mercado. Empresas brasileiras, modernas, têm uma dificuldade brutal para formar um preço, porque o dólar oscila o dia todo e se torna impossível estabelecer o preço, por exemplo, de um computador da Positivo, que tem a maior fábrica de computadores do Brasil e trabalha com 85% de insumos importados. Daí surge a proposta da fixação do câmbio, não de uma maneira estática, mas como já foi no passado, flexibilizado dentro de uma faixa máxima e mínima”.
“Investimentos duros e maciços do Estado para compensar a falta de investimentos e falta de geração de empregos por parte da iniciativa privada. Esperamos o anúncio da ministra Dilma Roussef sobre o investimento para a construção de um milhão de casas, que mobilizará a construção civil no País. Nós sabemos que a construção civil é uma das maiores geradoras de empregos no País. O primeiro ainda é a panificação, e em seguida vem a construção civil”.
“Outra medida sugerida no seminário passado foi a desvinculação das moedas internacionais, do dólar, da libra, e a ampliação e otimização de uma moeda da América do Sul. Aqui no Paraná, pequenas e micro empresas não pagam impostos. E ainda, lembrando uma frase de Roosevelt na crise americana, nós passamos a investir na agricultura. Roosevelt tinha duas frases mobilizadoras à população desesperada com a falta de emprego. Uma delas era: “se as cidades queimarem, os campos se levantarão e construirão as cidades. Se os campos queimarem as cidades morrerão de fome”. E a outra: “Em cada panela uma galinha, em cada propriedade um poste de energia elétrica”.
Ele estava concluindo que o ciclo econômico da agricultura é extraordinariamente mais rápido que o da indústria, que precisa de anos para ser projetada. Joga-se uma semente à terra, ela germina, logo depois, em seis meses, ela está sendo processada industrialmente. “Uma galinha em cada panela” era um apelo à introdução da pecuária de pequeno porte, como produtora de proteína. O poste de energia elétrica sinalizava a modernidade. As pequenas propriedades, privilegiadas com crédito, cresciam. O agricultor se capitalizava e, capitalizado, ele consumia. As prateleiras do comércio se esvaziariam e o comércio faria encomendas à industria. Esta não ficaria ociosa, contrataria mais trabalhadores, mais salários”.
“No Brasil, a crise começou quando o presidente que havia escrito um livro sobre a teoria da dependência assumiu o comando do País. Acreditavam que não tínhamos mais empresários capazes de dominar entraves administrativos. Eles propunham a vinculação com a economia global, leia-se, a economia norte-americana, como instrumento de desenvolvimento econômico. Aquilo que nós não mais podíamos fazer seria realizado através da entrega da nossa economia, da desnacionalização do País, oferecido a grupos estrangeiros.
Aí teve início um grande processo de desnacionalização de empresas públicas e a entrada do capital estrangeiro se deu em uma intensidade indesejada. Os EUA comandando todo o processo de desenvolvimento do mundo, e a tese liberal de que a mão invisível do mercado supriria todas as necessidades de emprego, desenvolvimento e crescimento econômico. Eu remonto ao pós-guerra, quando os EUA, vencedor absoluto único no planeta, reúne a conferência de Bretton Woods, onde estabelece que a moeda global seria o dólar, com uma condicionante: o dólar seria emitido com uma contrapartida em ouro”.
“Os EUA, no entanto, nos governos de Nixon e de Reagan, começaram unilateralmente a quebrar o que foi condicionado. Uma dificuldade momentânea fez com que passassem a emitir moeda sem nenhum controle ou contrapartida. Até o ponto em que o papel significou dez vezes o PIB dos EUA e do mundo. Foi posto em circulação, não pela reserva ouro, mas pelo indiscutível poderio militar norte americano. Com a força de um país vencedor, as empresas passam a abraçar todo o conhecimento tecnológico e científico do mundo, com pequenas mudanças a fim de garantir patentes e o crescimento das empresas. Mas os salários dos trabalhadores são congelados”.
“Precisamos de alguma medidas duras. Eu não diria que o governo do Brasil está errado, mas está tratando uma pneumonia com aspirina. Não está aprofundando as intervenções. Nós não sairemos disso isolados. A crise tem que ser superada com um conjunto de países que possam criar um mercado, estimular a criação de moedas próprias, abrir seus mercados e criar possibilidades para concorrer com os grandes mercados do mundo. Nós temos a crise e, diante da crise, a oportunidade. Todos os economistas conservadores a serviço do mercado e das idéias neoliberais que nos jogaram na situação em que estamos, propondo medidas como esta última barbaridade feita por Obama. Comprando lixo tóxico das financeiras com dólar. A moeda de lastro nas economias do mundo inteiro. Trocando o dólar por lixo, com a condição de que será pago por todos nós”.
“Queremos enfrentar esta crise das perspectivas nacionais, do Brasil, do Chile, do Uruguai, da Bolívia, do Equador, da Venezuela. Porque a grande contradição que vivemos no momento é a contradição entre estado e nação. Entre nação e mercado. O mercado se mobiliza com um único objetivo, o do lucro. Ele movimenta quantias fantásticas com a velocidade da internet e leva o país ao desespero e à falência, da noite para o dia. A nação tem outros compromissos. Ela tem o espaço histórico da conquista do território com seu suor e sangue. A nação só vive através do amor e da solidariedade. E este compromisso de amor e solidariedade é o compromisso com a sua população”.
“O mercado só pensa no lucro, na dominação. E nós vamos especular sobre alternativas. Principalmente numa crise como esta, nós descobrimos que aqueles que falavam na autonomia dos bancos centrais nunca nos disseram que o banco central norte americano nada mais é que um banco fundado contra a pátria. A contradição vale o espírito nacional e solidário, vale a pampazia tola do mercado que desmoronou na crise em que vivemos. É desta forma que a partir de amanhã estaremos abrindo os debates”.