Conferencistas defendem a ruptura da maioria dos modelos econômicos


“O momento é de sepultar medidas neoliberais e de se construir respaldo popular para sustentar os governos que optarem por políticas de enfrentamento do sistema financeiro e de defesa dos interesses nacionais, populares”
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26/03/2009 - 15:00
Editoria
A necessidade de romper drástica e definitivamente com os atuais modelos econômicos e políticos esteve presente nas propostas apresentadas pelos conferencistas do período da manhã do primeiro dia do seminário “Crise – desafios e soluções na América do Sul”, que ocorre em Foz do Iguaçu. Na avaliação dos conferencistas, o momento atual é a oportunidade para se sepultar as medidas macroeconômicas neoliberais e de se construir respaldo popular suficiente para sustentar os governos que optarem por decisões políticas de enfrentamento do sistema financeiro e de defesa dos interesses nacionais, populares. COLASPO - O economista e professor José Carlos de Assis, assessor da presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), foi o que se demonstrou mais otimista quanto à existência dessa tomada de caminho rumo ao fim do neoliberalismo. “A ideologia neoliberal está em colapso. Não que deixarão de existir neoliberais por aí pregando suas ideias, mas a prática neoliberal morreu”, apontou Assis. “Ninguém aceita mais essa história de Estado mínimo, privatizações.” O esgotamento do modelo também é constatado pelo economista Nildo Ouriques, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Ele, todavia, não considera que esse esgotamento esteja levando a mudanças profundas. “O debate intelectual e político ainda se restringe a dois ou três modelos de políticas econômicas, o que é inaceitável. É preciso uma ruptura com esse modelo”, disse. O rompimento radical como imprescindível também foi salientado pelo presidente do PC do B, Renato Rabelo. “Nós precisamos é de ruptura, e não de políticas ‘meia-sola’”, declarou. Esse posicionamento mais firme em busca de mudanças pode ser aplicado na política de integração sul-americana, conforme exemplificou Rabelo. “A integração é fundamental, mas para isso o Brasil deve abrir mão de certos meios, recursos, ajudar os países em condições inferiores às nossas.” É a opinião do presidente do Banco Alba (Alternativa Bolivariana para as Américas), Bernardo Alvarez, que participou também como representante do Governo da Venezuela. “Fala-se em integração, mas ainda há muita retórica, e pouco se avança.” De acordo com o venezuelano, este momento de crise deve ser aproveitado para a implantação de mudanças profundas. “Nós [da esquerda] precisamos ter capacidade política para promover alternativas, se não a direita virá com as suas”, advertiu. ESTRUTURAIS - O economista Wilson Cano, da Universidade de Campinas (Unicamp), citou a crise de 1929 como exemplo em que foi possível se implantar mudanças estruturais. “Temos que olhar as lições da Crise de 29, quando nós também éramos um Estado liberal e o país reagiu e tomou atitudes. Atitudes para defender a economia, defender o emprego. Hoje essas atitudes estão muito pequenas, muito modestas. Não são nem a sombra da ousadia e da audácia das ações tomadas para enfrentar em 1930”, comparou. “Foram feitas profundas modificações estruturais como: a integração do mercado nacional, modificação da legislação trabalhista e social. Conseguimos construir um processo de industrialização, um processo de desenvolvimento econômico com forte presença intervencionista do Estado”, acrescentou. O seminário “Crise – desafios e soluções na América do Sul” foi aberto na tarde de quarta-feira (25) e se encerra na sexta-feira (27). O evento está sendo realizado no Espaço das Américas, no Marco das Três Fronteiras – no encontro das águas dos rios Iguaçu e Paraná.

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