Companhia de Dança e Música de quilombolas estréia no Guairinha

A Companhia de Música e Dança Afro Kundun Balê vai mostrar nesta sexta-feira (29), às 20h30, no Guairinha, a contribuição do negro na formação do folclore brasileiro e um pouco da cultura popular preservada pela comunidade quilombola Paiol de Telha. A entrada é de graça
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25/08/2008 - 19:00
Editoria
A Companhia de Música e Dança Afro Kundun Balê vai mostrar nesta sexta-feira (29), às 20h30, no Guairinha, a contribuição do negro na formação do folclore brasileiro e um pouco da cultura popular preservada pela comunidade quilombola Paiol de Telha. A entrada é de graça. Composto por crianças e adolescentes que vivem no quilombo Paiol de Telha, interior de Guarapuava, na região centro-oeste do Estado, o Kundun Balê – que na língua africana Conde significa “aquele que realiza” -, chega a Curitiba com o show Acorda Raça! Depois da estréia no Guairinha, a Companhia vai cumprir agenda em vários municípios paranaenses, com participação em aberturas do Festival de Arte da Rede Estudantil (FERA) e em universidades do Paraná. O Acorda da raça!, segundo o diretor do Kundun e responsável pela direção geral do show, o percussionista Orlando Silva (ex-Utamaduni), inaugura um novo conceito em shows de cultura negra ao mesclar música, teatro e dança. Durante a apresentação os bailarinos permanecem no palco o tempo todo. “As colagens entre uma coreografia e outra, a troca de adereços, as informações ao público, tudo é feito cenicamente”, descreve Orlando Silva. Numa seqüência coreográfica e musical, o espetáculo procura resgatar a auto-estima dos descendentes africanos e as diversas formas de sincretismo oriundas daquele continente. Além da pesquisa e coreografias de Orlando Silva e dos integrantes do Kundun Balê, sobressai-se o trabalho cenográfico e de iluminação feito pela Companhia de Teatro Arte & Manha, também de Guarapuava. Os rituais africanos são coreografados pelo Kundun através de diversos números de danças, a começar pelo “Senhor dos Ventos”, que abre o caminho para a apresentação dos passos de Ogum, o orixá do ferro; Oxóssi, o deus das matas; Ossain, o orixá das plantas medicinais; o “Facho de Fogo”, em referência a Xangô e ao fogo da justiça. Com a recuperação da lenda do folclórico boitatá, o purificador dos pecados. As diversas faces da mulher quilombola são apresentadas na “Recomenda”, manifestação religiosa de encomenda das almas, feita na Sexta-Feira Santa através de procissão que percorre casa por casa. Os afazeres cotidianos da mulher do Paiol de Telha também estão presentes neste número. Outros números completam o show: a “Kimzombajé”, ou a Festa do Espírito, mostra o encontro festivo dos deuses africanos. O Katurê Mautu, é a encenação dos costumes da nação africana habitada por sábios guerreiros. O Wella Kundun exalta os protetores da natureza e o Maculelê, tradicional dança de capoeiristas, substitui os bastões de madeira por afiados facões. História – A Companhia de Dança Kundun Balê é formada por crianças, adolescentes e jovens que vivem na comunidade quilombola Paiol de Telha, localizada na Colônia Socorro (Distrito de Entre Rios), há 40 quilômetros de Guarapuava.A implantação do projeto que criou a Companhia deu início a um processo de transformação pessoal e coletiva dos integrantes e de grande parte da comunidade Paiol de Telha, formada por famílias de baixíssimo poder aquisitivo. A história dessa comunidade começa em 1860, quando a latifundiária Balbina Siqueira deixou de herança para seus 11 escravos, 3,6 mil alqueires de terra na Invernada Paiol de Telha, também conhecida como “Fundão”. Na época a área estava localizada no interior de Guarapuava, no então distrito de Pinhão. Com o passar dos anos aconteceram vários desmembramentos e, hoje, a invernada pertence ao município de Reserva de Iguaçu. Com o passar do tempo os descendentes de escravos foram expulsos da terra. A maioria foi parar nas favelas de Guarapuava, outros permaneceram trabalhando em fazendas no município de Pinhão. A área foi vendida a uma cooperativa da região e legalizada por usucapião. Em 1993, um total 63 famílias de herdeiros ocupou a área pela primeira vez. Desde então aconteceram várias ocupações, acampamentos e disputas judiciais. Em 1985, as primeiras 63 famílias de acampados foram assentadas pelo Incra, sob o regime tradicional, numa fazenda na Colônia Socorro. Outras famílias permanecem, há mais de 12 anos, à beira do barranco, aguardando o desfecho de ação judicial que tramita na 6ª Câmara em Brasília. As dificuldades são muitas. A renda “per capita” é inferior a um salário mínimo. Não há geração de renda. Muitas famílias são beneficiárias do Bolsa Família. Com produção insignificante, o plantio é para consumo próprio. Não existe telefonia pública e a energia elétrica chegou somente até a agrovila próxima. O transporte coletivo acontece três vezes por semana e a escola mais próxima fica na Colônia Vitória. O único barracão disponível serve de escola para alfabetização de adultos, consultório médico, depósito e espaço para reuniões. Em 2003, os descendentes de escravos da Invernada Paiol de Telha foram reconhecidos como quilombolas pelo presidente Lula. É a primeira comunidade negra do Paraná a ter esse reconhecimento. Os contatos do percussionista Orlando Silva, com a comunidade Paiol de Telha, começou em 2005 durante a organização de um desfile étnico que escolheu a representante da comunidade para o concurso Rainha dos Produtores Rurais de Guarapuava. A representante quilombola venceu o concurso. O dia do concurso também marcou a estréia da Companha Kundun Balê. O trabalho da Companhia trouxe de volta à comunidade muitos adolescentes que estavam na periferia de Guarapuava, vulneráveis a toda sorte de delinqüência. Um trabalho que começa a ter reflexos entre os adultos, que formaram uma associação comunitária e participam ativamente das atividades do grupo. Sem espaço e nem condições apropriadas para os ensaios do grupo, o Kundun se vira como pode. O trabalho dos músicos e professores é voluntário. Mesmo assim, o Acorda Raça! é o segundo show da Companhia, que está com agenda fechada até janeiro de 2009. Um espetáculo que o público curitibano poderá conferir nesta sexta-feira. Serviço: Show Acorda Raça! Dança e Música Afro Dia 29/Ago – Sexta-Feira – 20h30

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