O cientista político César Benjamin ressaltou o espaço para discutir diferentes estratégias econômicas como principal destaque do seminário internacional Crises- Rumos e Verdades. “Contrariamos aqui uma idéia que vem sendo martelada há muitos anos junto à opinião pública, de que não há alternativas, essa visão de que só uma política econômica é possível e todas as outras são sonhadoras ou utópicas”, afirmou durante o debate entre participantes nessa quinta-feira (11) pela manhã.
Benjamim advertiu que as políticas econômicas do governo brasileiro, utilizadas no momento de ascensão do mercado financeiro internacional, não funcionarão nesse momento de crise. “Não podemos ficar nessa reação errática, de tentar gerenciar a crise, fazer pequenos ajustes. Essa macroeconomia de curto prazo contém a hegemonia da visão neoliberal, pois somente responde às demandas do capital estrangeiro, que é fluído, móvel e contrário à idéia de nação”, disse.
“A política de desenvolvimento deve ser de longo prazo, essa é a grande questão. Mas o Estado brasileiro caiu numa armadilha de interesses de natureza supranacional - dos rentistas detentores das dívidas, que são defendidos no Banco Central, e interesses sub-nacionais, como por exemplo do agronegócio, escolas privadas, construção civil, grandes financiadores da campanhas. Nenhuma grande política econômica jamais foi criada somente defendendo esses interesses,” afirmou.
A transferência do crédito da especulação para setores produtivos foi defendida pelo engenheiro Darc Costa. “O que interessa são os bens físicos, montanhas de papéis podem ser queimadas, fábricas não. Ao menos perdemos, nessa crise, a idéia da inexorabilidade do mercado, de uma mão invisível controlando tudo. Agora devemos reconstruir, de acordo com a nossa vontade, um plano de desenvolvimento de longo prazo”, afirmou.
TECNOLOGIAS - As formas de desenvolver tecnologias no Brasil também foi tema de discussão entre os especialistas. Na visão de Ricardo Carneiro, economista da Unicamp, o projeto de desenvolvimento econômico no Brasil passará necessariamente por dois planos diferentes, sendo que é um deles é independente do dólar e o outro deverá ser internacionalizado.
“Poucos países no mundo podem pensar em sistema sem influência do dólar. Mas nós temos uma economia e territórios grandes, mercado interno importante e instituições consolidadas. Nesse sentido, podemos fazer um programa de infraestrutura social e econômica independente amplíssimo”, afirmou. “No entanto, somos um país periférico e com tecnologia atrasada. A maior inovação dos últimos 20 anos aconteceu no setor de material de telecomunicações, em que não temos, por exemplo, nenhum domínio, nenhuma fábrica de semi-condutores. Esse desenvolvimento deverá ser internacionalizado e temos que ter uma estratégia para isso”, disse.
O economista Carlos Lessa, ex-presidente do BNDES, defendeu que outras opções são possíveis, como a utilização de ferrovias e hidrovias. “Quero relativizar esse tema. O Brasil tem uma vasta fronteira para desenvolvimento que ainda não incorporou: é a matriz de transporte. Se mudarmos o nosso transporte diminuímos os fretes, o que representará um ganho de produtividade enorme para nossa competitividade”, argumentou.
Lessa citou exemplos de tecnologias únicas desenvolvidas no Brasil. “A Petrobrás é líder em extração de petróleo em águas profundas. Nós dominamos também completamente o ciclo do urânio, no qual só existem três maneiras de se fazer e o país tem a forma mais barata. Como não vamos aprender a fazer chips ou centrais telefônicas?” questionou.
JUROS BANCÁRIOS – Lessa, ao responder uma pergunta de um telespectador, classificou os juros bancários brasileiros como uma “exploração de proporções colossais”. “A diferença entre as taxas cobradas e pagas é abismal. O cheque especial cobra 9% ao mês e uma aplicação paga, no máximo, 1%. O banco dá a linha de crédito e conhece as curvas de gastos das pessoas, mas no momento de aflição faz chantagem cobrando as mais brutais taxas”, disse.