De acordo com estimativa da Polícia Militar, até o início da noite de sexta-feira (15), aproximadamente 5 mil pessoas passaram pelo Palácio das Araucárias para acompanhar o velório do corpo de Zilda Arns, fundadora da Pastoral da Criança. Desde às 8 horas da manhã, uma fila se formou para dar adeus à médica e sanitarista.
A dona de casa Mariaolina Aparecida foi a primeira a chegar. “Zilda Arns nos ensinou a viver, amando e respeitando os outros, trabalhando com muita garra. Tenho certeza que de onde ela estiver vai continuar incentivando a gente a viver melhor com mais amor e carinho”, disse.
Vários ônibus vieram do interior e de outros Estados trazendo pessoas que queriam se despedir de Zilda Arns. Helio Nunes, voluntário da Pastoral da Criança em Aquidauna, no Mato Grosso, contou como uma visita de médica mudou a sua vida “Eu a conheci quando ela visitou a minha mãe que estava doente. Ela me ensinou como tratar dela e despertou em mim a vontade de ajudar os necessitados”, disse.
Para o mecânico Jair do Patrocino, morador da Vila Hauer, a maior qualidade de Zilda era despertar a iniciativa das pessoas. “Às vezes, as pessoas mais humildes não têm coragem de reagir, de enfrentar os seus problemas. O trabalho da Pastoral faz as pessoas acreditarem em si mesmas”, disse. “Ela era uma pessoa de uma sensibilidade invulgar, uma pessoa que acreditava na vida. Me ensinou que transformando a vida das pessoas mais necessitadas você transforma a sua própria vida”, ressaltou.
O aposentado Pedro de Paula, morador de Ponta Grossa, que está em tratamento medico no Hospital de Clinicas em Curitiba, fez questão de comparecer ao velório. “É uma perda irreparável. Tomara que o povo tenha força para continuar o trabalho que ela começou”, disse.
Alguns grupos rezavam e cantavam enquanto aguardavam a chegada do corpo. O clima não era de tristeza, mas de uma reverente esperança. Para o projetista Paulino Lucas, morador de Pinhais, o trabalho realizado pela Pastoral merece o reconhecimento da Santa Sé. “Eu vim ajudar a santificar esta pessoa iluminada. Hoje o mundo todo sabe quem é esta mulher”, disse.
Esmeralda Aparecida Tricossi, moradora do bairro Sítio Cercado, ressaltou o trabalho ecumênico da pastoral. “Ela não olhava para classe, social gênero e religião. Era baseado no amor e na fraternidade”. Para Esmeralda, voluntária na Pastoral há mais de dez anos, o trabalho iniciado por Zilda Arns vai continuar. “O exemplo de vida dela vai motivar muita gente. As ações da Pastoral não vão parar mesmo com a perda da nossa grande líder”, disse.
Muitas pessoas que compareceram ao velório tiveram oportunidade de conviver com a médica. Maria Galvão, que trabalha há 15 anos na Associação dos Amigos da Pastoral da Criança, destaca uma preocupação fundamental do trabalho assistencial desenvolvido pela associação. “Ele não fazia apenas caridade, ela ensinava as pessoas a viver melhor. Mostrava a família o valor da educação”, comentou.
A dona de casa Maria Aparecida dos Santos, moradora do bairro Santa Quitéria, veio acompanhada de sua sobrinha Natalia, de 11 anos, dar o adeus a Zilda Arns. “Eu aprendi admirar esta mulher pela sua obra, mesmo sem conhecê-la. Fico orgulhosa de ser paranaense e brasileira como ela”, disse. (Zilda Arns era catarinense, mas morava há muitos anos em Curitiba).
“A Dra. Zilda foi minha pediatra, na década de setenta. Desde aquela época era uma pessoa muito atenciosa. Ela se preocupava pessoalmente com cada paciente. Inclusive ajudou a nossa família a vir de Alagoas com passagens, roupas e alimentos”, explicava Maria Salete da Silva, moradora da Vila Uberlândia. “O segredo da Dona Zilda é que ela preparou muita gente. Ensinou as mães a cuidarem da família mesmo em condições precárias”, completou.
Maria Neusa Rosas chorava emocionada, enrolada em uma bandeira do Brasil. “Ela foi uma heroína brasileira que ensinou a amar as pessoas e o país”, disse.
Zilda Arns Neumann, médica pediatra e fundadora da Pastoral da Criança, morreu as 75 anos vítima do terremoto que atingiu o Haiti na terça-feira (12). Ela estava na capital, Porto Príncipe, onde fazia palestra sobre o trabalho da Pastoral da Criança.
No sábado (16), Dom Geraldo Majela Agnello irá celebrar uma missa de corpo presente, com participação restrita a familiares. A cerimônia começa às 14 horas será transmitida ao vivo pela TV Paraná Educativa. O corpo de Zilda Arns será enterrado no Cemitério Municipal da Água Verde – a cerimônia também será restrita aos familiares.