O modelo de computador multiterminal, utilizado pelo Governo do Paraná no programa Paraná Digital, é uma das opções de aplicação dos recursos do Fundo de Universalização de Sistemas de Telecomunicações (Fust). ”Esses recursos poderiam impulsionar o desenvolvimento desse modelo tecnológico e trazer enormes avanços nos programas de inclusão digital, na gestão dos serviços públicos e na informatização das escolas”, diz Marcos Mazoni, presidente da Celepar, a Companhia de Informática do Paraná, um dos defensores da proposta.
Os recursos do Fust são formados por uma contribuição mensal de 1% da receita operacional bruta das empresas de telecomunicações e por parte do dinheiro arrecadado pela Anatel com a venda de licenças. Criado em 2001 no processo de privatizações do sistema brasileiro, o Fundo tem R$ 5 bilhões acumulados. Pouco foi gasto até agora. Existem muitas divergências entre as operadoras, o governo e empresas do setor, sobre como gastar esta verba de maneira eficaz.
O próprio presidente da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Plínio de Aguiar Júnior, durante um seminário sobre a universalização da internet realizado na Câmara Federal na semana passada, defendeu a necessidade de se modificar a legislação de telecomunicações sobre utilização dos recursos do Fust. Para ele, a banda larga é o novo grande negócio de telecomunicações no país.
Ele avalia, no entanto, que a lógica do mercado não atende à necessidade de se levar internet às escolas brasileiras, como instrumento de educação. “O Brasil carece de um programa de banda larga. Esse programa é fundamental para que todas as escolas sejam atendidas”, afirmou.
Para viabilizar a utilização do dinheiro do Fust há dois caminhos, na opinião de Plínio: ou modifica-se a lei que criou o Fundo para permitir que outras empresas utilizem os recursos e não só as concessionárias de telefonia fixa, ou o governo edita um decreto com a regulamentação do uso do dinheiro do Fust.
Este também é o sentido da proposta do presidente da Celepar Marcos Mazoni ao sugerir o modelo de computador multiterminal como forma de alavancar a modernização dos serviços públicos, entre eles a educação pública.
Paraná Digital - O projeto Paraná Digital está criando laboratórios multiterminais em 2 mil escolas públicas do Paraná. O projeto foi idealizado por técnicos da Companhia de Energia Elétrica do Paraná – Copel e desenvolvido pelo Centro de Computação Científica e Software Livre (C3SL) da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Além disso, a Copel disponibiliza as redes de fibra ótica para a conexão dos computadores à internet e a Celepar desenvolve os sistemas de software livre dos portais e dos multiterminais. Outro apoio importante vem do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), responsável pelos editais e pela transparência de todo o processo licitatório.
Os laboratórios terão multiterminais four-head rodando Debian (distribuição Linux). Um multiterminal ou multi-estação é um (único) computador que pode ser utilizado por múltiplos usuários ao mesmo tempo localmente. A configuração envolve um monitor, teclado e mouse para cada usuário. Algumas implementações permitem também fones de ouvido.
Com o aumento da capacidade de processadores e memória, um grande número de tarefas pode ser feito sem deixar o computador mais lento. Entretanto, usando a configuração padrão só é possível haver um usuário utilizando o computador ao mesmo tempo, e isso limita a utilização do sistema, que fica ocioso a maior parte do tempo. Com um multiterminal, vários usuários podem dividir o mesmo computador, então uma maior parte de sua capacidade é explorada.
Uma outra grande vantagem dos multiterminais é o preço: não há necessidade de comprar placas-mãe, microprocessadores, memória RAM, disco rígido e outros periféricos para cada usuário. Só é necessário comprar um bom hardware. Por exemplo, comprar um processador bom geralmente custa menos do que comprar mais de um processador mediano. O custo de hardware é 50% menor do que o preço normal e não há custo com software.
O projeto ainda não terminou, mas os benefícios de multiterminais com software livre são promissores. Mais de 1,5 milhão de usuários serão beneficiados quando o projeto terminar, e haverá mais de 40 mil terminais em funcionamento.
Quem quiser conhecer melhor essa tecnologia, terá uma grande oportunidade na Conferência Latino-Americana de Software Livre – Latinoware 2006 onde o Programa Paraná Digital será uma das atrações. A Latinoware acontecerá na próxima semana, nos dias 16 e 17, no Parque Tecnológico de Itaipu, em Foz do Iguaçu, numa realização conjunta da Hidrelétrica Binacional e da Celepar.