Casa Andrade Muricy encerra o ano com duas exposições

“Espirais do Tempo” que destaca os bens tombados pelo Patrimônio Cultural do Paraná ao longo de mais de 50 anos, com registros do fotógrafo Carlos Roberto Zanello de Aguiar. Outra que reúne obras de cinco artistas singulares do Paraná
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05/12/2006 - 16:47
Editoria
Para encerrar o calendário de exposições de 2006 com chave de ouro, a Secretaria da Cultura por meio da Casa Andrade Muricy (CAM), abre na nesta quinta-feira (07), a partir das 19 horas, com duas mostras: Espirais do tempo e outra que reúne obras de cinco artistas, C. L Salvaro, Érica Kaminishi, Giba, Tatiana Stropp e Vera Bagatoli. A exposição “Espirais do Tempo” destaca os bens tombados pelo Patrimônio Cultural do Paraná ao longo de mais de 50 anos, com registros do fotógrafo Carlos Roberto Zanello de Aguiar. A filosofia do tombamento de um patrimônio está associada a uma homenagem, em vários aspectos: histórico (mantém-se vivo o passado e a história), turístico (a cidade vira uma atração a ser visitada), cultural (a memória é preservada) e econômico (uma vez que a economia gira com o fluxo de turistas). Dessa forma, cabe ao poder público oferecer os meios necessários para a conservação de um bem de valor histórico e cultural. Desde 2003, apenas nesta gestão, foram 16 os tombamentos históricos no Paraná, que somam 165 ao longo da história. A Coordenadoria de Patrimônio Cultural, da Secretaria de Estado da Cultura, é a responsável por avaliar e resguardar esses bens. A exposição “Espirais do Tempo” – Bens Tombados do Paraná traz o resultado do trabalho da equipe. É importante lembrar que a preservação não ocorre apenas num imóvel de natureza singular, mas, também, num bem maior, que são as reservas naturais. Pouca gente sabe que a Serra do Mar - que passa pelos municípios de Antonina, Campina Grande do Sul, Guaraqueçaba, Guaratuba, Matinhos, Morretes, Paranaguá, Quatro Barras e Tijucas do Sul - também faz parte da relação de bens tombados. A legislação estadual que cuida dos tombamentos dos bens é pioneira e foi criada na metade do século passado. Antes disso, muito se demoliu em nome da modernidade. O Paraná foi um exemplo para o Brasil, conquistando sua própria lei de proteção e passando a cuidar diretamente da preservação do seu acervo material e imaterial. Artistas - O contraste entre determinados materiais é a marca dos trabalhos de Cleverson Luiz Salvaro. O artista plástico, de 26 anos de idade, realiza exposições desde 2001. Já no início da carreira foi premiado no 58° Salão Paranaense, em seguida participando de mostras em Belém, Florianópolis e São Paulo. Na CAM, Salvaro traz seis objetos que, segundo ele, “só devem ser analisados a partir do embarque na própria arte”. Cada visitante tirará suas conclusões ao observar a combinação dos materiais nas peças, como o alumínio e o chumbo. Ao longo do seu trabalho nas artes plásticas, Érica Kaminishi desenvolveu uma intensa pesquisa sobre a poética e a simbologia da palavra. A escrita é o principal meio de composição de seus desenhos e objetos. As peças apresentadas na mostra são resultado de uma pesquisa realizada no Japão sobre as obras de diversos artistas e cientistas japoneses do período da Era Meiji (1868 – 1912). Litografias, aquarelas e fotografias possuem também um valor científico, pois são os primeiros desenhos descritivos sobre a flora daquele país. Os desenhos possuem formas orgânicas e amorfas, são longos e retangulares, como pergaminhos japoneses - emakimono - que, sobrepostos, formam uma grande instalação. A escrita é feita com caneta tinteira sobre papel. A palavra Amorphous – poeplantswords também possui um significado. Num período sem fronteiras de culturas, povos e idiomas, poeplantswords – poetic, plants, words – surge como uma palavra híbrida, que demonstra o movimento e a universalidade contemporânea. Gilberto Kosiba é um artista paranaense que se dedica a arte visual desde 2001. Giba, como é conhecido, já teve seus trabalhos expostos em eventos locais como a Mostra João Turin e em espaços públicos como no Memorial de Curitiba. Suas obras mesclam conceitos e técnicas de desenho, pintura, gravura e colagem em composições de duas ou três dimensões. A temática dos trabalhos aborda as ações do tempo sobre a memória de fatos - como o surgimento da vida e da morte - e são povoadas por imagens resignificadas a partir dos valores agregados das lembranças do próprio artista. As peças tratam de assuntos como individualidade e partilhar histórico, buscando um diálogo com o inconsciente, subvertendo a racionalidade e a interpretação literal. Textos em polonês – língua do universo familiar do artista – e números são aplicados como elementos visuais e lembranças de fatos vividos. Texturas e cores surgem como fragmentos da memória visual dos cenários onde ocorreram esses fatos. Por fim, as molduras funcionam como formas de valorizar os acontecimentos presenciados. Chapa de alumínio, tinta à óleo, cor, pinceladas contínuas e verticais, incisão com buril, grade: Tatiana Stropp recorre a estes elementos para impulsionar sua produção artística. A pintura da artista aparece como uma grade junto à superfície opaca do alumínio. O suporte aproxima fisicamente um gesto que não esbanja expressividade. De um único fôlego, a pincelada escorrega, sem interrupções, verticalmente de cima a baixo pela chapa. O colorido é dado tanto pelo cinza do suporte como pela escolha minuciosa de cada tom. A cor torna-se acinzentada ao ser misturada com sua complementar: no vermelho coloca-se um pouco de verde; no amarelo, roxo; no azul, laranja. Justapostas e sobrepostas, criam-se também novos tons na própria superfície. Gera-se opacidade, transparência e veladura. A artista plástica natural de Jaraguá do Sul (SC), Vera Bagatoli irá expor nesta mostra uma série de trabalhos iniciada em 2002, na qual o corpo é o elemento central da produção. Buscando a maior proximidade entre a realidade material do corpo e sua imagem, Vera iniciou o processo criativo a partir de imagens fotográficas do próprio corpo da artista. Ao eleger a lente da câmera para percorrer o corpo, a artista transferiu para a máquina o ofício de capturar e investigar as diversas formas anatômicas humanas: seus relevos, suas superfícies, os contornos que o delimitam e as marcas contidas na pele. O corpo é revisitado em suas particularidades e apresentado a partir de fragmentos. Em um segundo momento as imagens sofrem interferências por meio da manipulação digital e do espelhamento. A articulação de imagens muito próximas, mas não idênticas, para a construção de falsos duplos, cria possibilidades de percepções de um mesmo corpo e não um simples reflexo ou cópia. A forma construída remete a um corpo estranho, por vezes monstruoso. Desta forma, leva o público a inquietação na busca de elementos familiares a constituição física humana. O estranhamento possibilita distintas percepções e interpretações do corpo. Serviço: Casa Andrade Muricy Alameda Muricy, 915 De terça a sexta-feira, das 10 às 19h, sábado, domingo e feriado das 10 às 16h. As exposições permanecerão abertas até 11 de fevereiro de 2007.

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