Carlos Lessa: mundo vive crise
da superestrutura financeira

A crise financeira que o mundo atravessa é a crise da superestrutura financeira criada ao longo de 25 anos, disse neste domingo (7) o economista Carlos Lessa, ex-presidente do BNDES e ex-reitor da UFRJ.
Publicação
07/12/2008 - 22:55
Editoria
A crise financeira que o mundo atravessa é a crise da superestrutura financeira criada ao longo de 25 anos, disse neste domingo (7) o economista Carlos Lessa, ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e ex-reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Lessa explicou que o mercado financeiro movimenta 130 trilhões de dólares em ativos primários e outros prováveis 540 trilhões de dólares em derivativos financeiros. É um volume assustadoramente descolado da riqueza acumulada pela economia real — a soma dos Produtos Internos Brutos de todos os países soma apenas 60 trilhões de dólares. “Diante disso, faço uma pergunta — Essa crise deixará que tipo de organização financeira para o mundo? E ainda outra — como o mundo tratará geopoliticamente essa crise? Haverá organizações de cooperação internacional sólidas e equipadas, ou haverá pelo contrário o renascimento de projetos nacionais?”, questionou o economista, um dos idealizadores do seminário “Crises — Rumos e Verdades”, organizado pelo Governo do Paraná no Canal da Música, em Curitiba. “Só faz sentido discutir a crise pensando no futuro do País. A crise de 1929 nos atingiu de forma brutal. E fomos capazes de enfrentá-la e de sairmos dela numa posição muito melhor, porque fomos capazes de ousar. Quando se dizia que tínhamos de cortar gastos, o governo federal comprava café para queimar. Ao fazer isso, construiu as bases para formarmos uma indústria. A razão desse seminário é pensarmos no nosso futuro. Porque as crises passam, mas o Brasil vai ficar”, falou o engenheiro Darc Costa, co-idealizador do seminário e ex-vice-presidente do BNDES. Leia a seguir os principais trechos das intervenções de Carlos Lessa, Darc Costa, do vice-governador Orlando Pessuti, do presidente da Federação das Associações Comerciais e Industriais do Paraná (Faciap) Ardisson Akel, do diretor financeiro do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) Renato de Mello Viana, e do presidente do Sistema Fecomércio, Darci Piana, no primeiro dia do seminário “Crise — Rumos e Verdades”. Carlos Lessa, economista, ex-presidente do BNDES “Essa é a crise do mundo da globalização financeira, de uma superestrutura financeira que se criou ao longo de 25 anos, em que o produto de todos os países soma 60 trilhões de dólares, mas temos 130 trilhões de dólares em ativos primários e se crê em 540 trilhões em derivativos financeiros. Nenhum banco importante de investimentos sobreviveu? Essa crise deixará que tipo de organização financeira para o mundo? Posso dizer que não será uma solução lampedusiana. Não haverá reprodução desse espetáculo surrealista que foram os 30 anos de construção dessa enorme bolha que explodiu. Qual será o sistema financeiro que sobreviverá? A segunda — como o mundo tratará geopoliticamente essa crise? Enormes crises foram resolvidas por guerras mundiais. Temos certeza de que guerra mundial não haverá. Mas um problema geopolítico está colocado. Haverá organizações de cooperação internacional sólidas e equipadas, ou haverá pelo contrário o renascimento de projetos nacionais? Iremos revitalizar o conceito de nação ou haverá uma mobilização mundial para a cooperação entre povos? São algumas perguntas que esse seminário não poderá responder, mas espero que forneça munição para as discussões que precisamos fazer se imaginamos que a humanidade tem futuro.” Darc Costa, engenheiro, ex-vice-presidente do BNDES “Só faz sentido discutir a crise pensando no futuro do País. Ele se inseriu no mundo após uma grande crise, a de 1929. Nos primeiros anos do século 20, éramos exportadores de café, e assim nos inseríamos na economia mundial. A crise nos atingiu de forma brutal. E fomos capazes de enfrentar aquela crise e saímos numa posição muito melhor do que quando entramos nela. E fizemos isso porque fomos capazes de ousar. Quando se dizia que tínhamos de cortar gastos, GV comprava café para queimar. Ao fazer isso, construiu as bases para formarmos uma indústria, criando as bases de um País diferente, urbano. A razão desse seminário é pensarmos no nosso futuro. Porque as crises passam, mas o Brasil vai ficar.” Orlando Pessuti, vice-governador do Paraná “Aqueles que criticam (a realização do seminário) na verdade deveriam é estar aqui, neste momento em que o crédito começa a desaparecer, quando discutimos formas de baixar os juros. Aqueles que estão criticando ainda podem vir participar, contribuir, trazer suas idéias e sugestões. O Governo do Paraná está fazendo a sua parte (no enfrentamento da crise), com políticas públicas de desenvolvimento.” Ardisson Akel, presidente da Faciap “Percebemos a preocupação dos empresários. A partir de janeiro, a tendência é que as vendas caiam. As elevadas taxas de juro preocupam a tomada de novos negócios. Num momento em que se pretende incentivar a economia, é preciso abir cada vez mais espaço para o crédito mais barato.” Renato de Mello Viana, diretor-financeiro do BRDE “Mais do que nunca, o BRDE busca uma solução para a redução dos juros. Isso é fundamental para que possamos repassar recursos para nesse momento de crise, para desenvolver programas para que micro e pequenos empresários se saiam bem da crise. E, nisso, o BRDE, a exemplo de outros bancos de fomento, tem um papel fundamental.” Darci Piana, presidente do Sistema Fecomércio “Trata-se de uma avalanche que chega ao nosso País. Precisamos estar preparados. A iniciativa de reunir economistas é fundamental para que possamos discutir profundamente a crise. Vamos passar este final de ano bem, mas teremos problemas a partir de janeiro. Há uma previsão de que 145 mil pessoas percam o emprego. O comércio a partir de janeiro tará dificuldades, e é ele que mais emprega. A agricultura também não vai bem. Até há dois meses, o etanol e o açúcar valiam ouro; e hoje, vemos o preço do açúcar cair 50%”.

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