O economista Carlos Lessa, ex-reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro e ex-presidente do BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, disse nesta sexta-feira (5), ao participar da terceira edição do seminário “Crise – Desafios e Estratégias”, no Canal da Música, em Curitiba, que a crise mundial está longe de acabar e que seus efeitos serão sentidos por muitos anos. “Eu diria que a crise, como foi previsto desde o seu início, será duradoura. Vai ser muito difícil superá-la. A nível mundial eu diria que a crise continua se desenvolvendo. Algumas das medidas que o Brasil assumiu, tiveram o efeito de mitigar consequências, porém nós não conseguimos ainda construir os anticorpos em relação aos efeitos da crise e a prova disso é o surgimento destes movimentos alucinados que a taxa de câmbio vem fazendo no País”, disse.
Quanto ao fato de a taxa de desemprego nos Estados Unidos em maio ter aumentado menos que o previsto – a previsão era que mais de 500 mil postos de trabalho seriam fechados e ficou em 350 mil –, Lessa afirmou que “não existem pequenas saídas ou saídas mágicas para a crise”. “A crise tem seus altos e baixos. A cotação das ações em Wall Street somente recuperou os níveis pré 1929 em 1952. As empresas, principalmente as de grande porte, sofreram muito com esta crise e vão demorar muito para se recuperarem”, disse.
Em relação ao Brasil, Carlos Lessa destacou que o País adotou até agora medidas, muitas delas corretas, para diminuir o impacto da crise. “No entanto, não adotamos ainda nenhuma política para superar a crise e construir um projeto brasileiro de desenvolvimento. Isto não fizemos”, apontou.
A grande preocupação do economista continua sendo as reservas cambiais, que segundo ele tiveram uma redução de cerca de 25% desde que foi deflagrada a crise mundial. “Fico preocupadíssimo com este movimento espasmódico da taxa de câmbio, que impedem qualquer planejamento adequado da atividade produtiva. De certa maneira é como se estivéssemos abertos às emanações da especulação financeira mundial. Já queimamos muito desta reserva. Ninguém sabe ao certo quanto foi gasto. Eu calculo em torno de 25%, mas as reservas brasileiras ainda são robustas”, disse.
Lessa continua achando que o País deve aproveitar suas reservas cambiais para investir em obras de infraestrutura e assim gerar empregos: “Essas obras são fundamentais. É importante melhorar a matriz logística de transporte, que é o atual ponto fraco da economia brasileira. Temos uma matriz predominantemente rodoviária e o custo do transporte rodoviário é quatro a cinco vezes mais alto que o ferroviário e hidroviário. Isto vem tirando a produtividade da economia brasileira. Portanto, se nós remontássemos a nossa matriz de transportes poderíamos fazer uma verdadeira revolução de produtividade no País e melhorar e muito o padrão de vida da população”.
Por último, Carlos Lessa fez questão de ressaltar que o Brasil deve enfrentar a presente crise de olho no futuro, preservando suas reservas cambiais e o petróleo da camada pré-sal. “A coisa mais importante para o Brasil é o seu futuro. É a questão do pré-sal e da economia do petróleo, que representam para o Brasil uma grande fronteira de expansão. Mas que também representam uma grande ameaça para a Nação. Seria terrível se o Brasil se tornasse exportador de petróleo. Agora, se o utilizarmos para desenvolver forças produtivas do Brasil, temos aí uma frente espetacular de expansão que pode levar o País rapidamente a ocupar um posto relevante a nível mundial e permitir a adoção de políticas sociais adequadas. Portanto, acho que o Brasil pode ser um dos primeiros países a superar a crise e encontrar uma trajetória própria de expansão”, finalizou.