O professor Carlos Lessa defendeu a centralização do câmbio como suporte para a construção de um projeto nacional para o Brasil superar a crise. Na avaliação dele, a superação da crise econômico-financeira mundial depende de vontade política para fazer do Brasil uma grande nação no período de dez anos. Lessa participou do painel conclusivo do seminário Crise –Rumos e Verdades, que nesta quinta-feira (11) explorou como tema “O Brasil e o Projeto Nacional Frente à Crise”.
Para Lessa, a combinação de investimentos públicos e privados vai permitir a execução de grandes programas de infra-estrutura. Ao detalhar seu projeto, ele defendeu a centralização do câmbio, com o Banco Central fazendo o orçamento cambial para ser a peça-chave no projeto nacional brasileiro. Para facilitar essa medida, sugeriu a união dos bancos estatais brasileiros, como o Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), num só banco estatal, forte.
Como suporte a esse projeto, Lessa destacou três grandes empreendimentos que devem ser devidamente avaliados. Primeiro, combinar um conjunto de investimentos públicos e privados em infra-estrutura de energia, logística e no pré-sal. Em segundo lugar, Lessa destacou a necessidade alterar a matriz de transporte. O predomínio do modal rodoviário, sobre o ferroviário e aquaviário, aumenta os custos e inviabiliza o choque de produtividade na economia de que o Brasil tanto necessita.
Em terceiro lugar, Lessa defendeu a modernização das cidades brasileiras como forma de aumentar a produtividade do trabalhador brasileiro, que atualmente gasta cerca de 25% de seu tempo somente no deslocamento casa-trabalho-casa. “Temos que fazer um programa gigantesco de investimentos em transporte sobre trilhos nas grandes cidades”, sugeriu.
Para que o País tenha essas condições, Lessa sugeriu o aumento dos recursos fiscais, mas sem aumento de impostos. Na sua avaliação, o Banco Central deveria utilizar os recursos aplicados no pagamento dos juros “obscenos” da dívida pública em pesados investimentos em habitação popular e saneamento.
Lessa lembrou dos riscos a que está exposta a economia brasileira. Entre eles, apontou a possibilidade de estouro de uma “bolha tupiniquim” gerada pelo crédito consignado farto concedido desde 2005. “Essa coisa espantosa de vender automóveis em 90 prestações sem entrada criou uma bolha que pode estourar a qualquer momento com a decisão do Banco Central de manter as taxas de juros em patamares elevados”, disse.
Para Lessa, a combinação do endividamento das camadas populares com a alta de juros e o aumento do spread bancário pode causar uma terrível crise de liquidez, que vai aumentar muito o volume de endividamento e de insolvências. “É bom avisar que quem tem automóvel financiado que ele é fiel depositário e não o proprietário do veículo”, disse.
Sobre insolvência, Lessa chamou a atenção para o efeito mais mortal da crise econômico-financeira no Brasil que é a insolvência das empresas brasileiras, com a Sadia, Votorantim e Araracruz Celulose anunciando perdas com investimentos em derivativos. Lembrou também da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), que perdeu os lucros de um trimestre inteiro na especulação financeira, e as perdas da agroindústria do Centro-Oeste brasileiro.
“Esse efeito ainda não foi avaliado corretamente, porque não há condições nesse momento de avaliar o grau de solvência das empresas brasileiras”, afirmou. Segundo Lessa, houve tanta convicção de que o real era moeda forte pela combinação das taxas de juros mais elevadas do planeta e a permanente entrada de moeda estrangeira no País, valorizando o real, que os exportadores incomodados com a baixa taxa de câmbio passaram a especular contra o dólar e tiveram perdas.
Segundo Lessa, nem o Banco Central sabe o tamanho dos compromissos financeiros que empresas e bancos brasileiros assumiram com os derivativos no mercado financeiro, porque não há registro dessas operações. Seu temor é de que ocorra um ataque especulativo contra o real e as reservas acumuladas, hoje avaliadas em US$ 207 bilhões, num minuto podem desaparecer.