Os governos do Brasil e dos países da América Latina devem tirar lições da história para combater a crise econômica – sobretudo das ações tomadas na década de 30 para superar os efeitos da depressão de 1929. “É incrível como estão ignorando a história e a boa doutrina econômica”, afirmou o economista e professor da Universidade de Campinas, Wilson Cano, na rodada de debates da manhã desta quinta-feira (26) no seminário “Crise - Desafios e Soluções na América do Sul”, promovido pelo Governo do Paraná, em Foz do Iguaçu.
Entre as saídas para a crise, Cano confirmou aquilo que já havia citado no primeiro ciclo de debates promovido pelo Governo do Paraná, no final do ano passado, em Curitiba: o enfretamento da crise pelo Brasil passa por um projeto de desenvolvimento, com fortes investimentos de longo prazo feitos pelo Estado em habitação, saneamento, transporte, saúde e educação. “É impossível prever a duração desta crise, já que não é só econômica, mas sistêmica. Contudo, aqui no Brasil e na América Latina a manutenção das políticas fiscal, cambial, monetária e do crédito acabam dificultando a tomada de decisões que combatam efetivamente a crise”, finalizou.
“Temos que olhar as lições da Crise de 29, quando nós também éramos um Estado liberal e o País reagiu e tomou para defender a economia e o emprego. Hoje essas atitudes estão muito pequenas, muito modestas. Não são nem a sombra da ousadia e da audácia das ações tomadas para enfrentar em 1930”, afirmou.
O economista recordou que países como o Brasil, Argentina, México, Colômbia e Chile aproveitaram aquele momento para romper com suas atuações políticas e econômicas. “O Brasil foi pioneiro e junto com esses países tomou atitudes audaciosas e ousadas para enveredar no caminho da industrialização, já que não era mais possível depender da exportação de café, cacau, algodão etc”, disse.
“Foram feitas profundas modificações estruturais como a integração do mercado nacional, modificação da legislação trabalhista e social. Conseguimos construir um processo de industrialização, um processo de desenvolvimento econômico com forte presença intervencionista do Estado”, acrescentou.
AGILIDADE - Fundador da Escola de Economia da Unicamp e um dos economistas mais respeitados do País, Cano criticou a falta de agilidade na reação das lideranças políticas, empresariais e intelectuais progressistas dos países latino-americanos. “Eles precisam acordar. O projeto de avanço do desenvolvimento brasileiro e o da integração latino-americana estão fortemente ameaçados”, salientou.
Segundo Cano, deve ser quebrado o paradigma de que as grandes reações só vêm à medida que as crises se agravam. “A crise está entre nós, em toda a América Latina. Desaceleração, queda de preços e desemprego manifestaram-se nos países”, observou. “Os países precisam tomar consciência da gravidade da situação e necessitamos que apareçam lideranças latinoamericanas para tentar conduzir um esforço conjunto dessas nações”, reiterou o economista.
Cano defende investimentos estatais em habitação, saneamento, transporte, saúde e educação
Economista Wilson Cano participou na manhã desta quinta-feira (26) do seminário “Crise - Desafios e Soluções na América do Sul”
Publicação
26/03/2009 - 14:11
26/03/2009 - 14:11
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