Brasil precisa de um projeto de desenvolvimento para enfrentar a crise


A idéia foi apresentada pelo economista e professor da Universidade de Campinas, Wilson Cano, na rodada de debates da tarde desta quarta-feira (10), no seminário “Crises: Rumos e Verdades” promovido pelo Governo do Paraná
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10/12/2008 - 18:26
Editoria
Para enfrentar a crise o Brasil necessita de um projeto de desenvolvimento, um plano de soberania nacional com fortes investimentos de longo prazo feitos pelo Estado em habitação, saneamento, transporte, saúde e educação. A idéia foi apresentada pelo economista e professor da Universidade de Campinas, Wilson Cano, na rodada de debates da tarde desta quarta-feira (10), no seminário “Crises: Rumos e Verdades” promovido pelo Governo do Paraná. “Nenhum país desenvolvido conseguiu avançar sem uma inequívoca presença intervencionista do Estado Nacional. Tanto em termos internos – seja como produtor, indutor ou estimulador – seja no plano externo por meio de sua diplomacia, de sua moeda ou de sua força armada”, disse. “É uma ilusão pensar que é possível crescer e se desenvolver sem a presença decisiva do Estado”, acrescentou. O economista, que foi um dos criadores da escola de economia da Unicamp, lembrou que esse processo já ocorreu entre as décadas de 30 e 80 quando o país soube aproveitar o espaço deixado pelas economias centrais depois da Crise de 1929, com a quebra da Bolsa de Nova York, e da Segunda Guerra Mundial. “Nós soubemos aproveitar, inteligentemente, as oportunidades. O grau de soberania nacional aumentou consideravelmente nos permitiu avançar e construir um processo de industrialização com êxito em termos de América Latina”. Contudo, alertou Cano, esse projeto passa por uma série de desafios internos e externos que devem ser estudados, aprofundados e abordados. “Desenvolvimento econômico não é restrito ao campo da economia, pertence em grande parte ao campo da política”. DESAFIOS – A retomada do crescimento e desenvolvimento do Brasil como um Estado soberano passa pela eliminação do déficit habitacional (estimado hoje em 8 milhões de domicílios), por mais investimentos em saneamento básico, em saúde, educação e transporte urbano. De acordo com Cano, o cálculo das demandas mostra que não há dinheiro para investir em todos os setores ao mesmo tempo. “São demandas históricas e não há dinheiro para tudo. Portanto é necessário priorizar, selecionar e escalonar os investimentos no tempo e no espaço”, reiterou. Já nos desafios externos está a necessidade do reposicionamento do Brasil frente às políticas comerciais na América do Sul. “Tem que deixar de pensar apenas em saldos comerciais. Todo mundo quer ter saldo. Mas se quer realmente fazer o processo de integração sul-americana deve ampliar a cooperação entre os países”. Outro problema apontado, inclusive como urgente, é a necessidade da revisão da política comercial com o governo chinês. Cano alerta que a China já se estabeleceu na África com o objetivo de garantir novos mercados para compra de matéria-prima e alimentos. “Os negócios com a China já terminaram. A China se preparou para a crise e desbravou novos mercados. Avançou sobre o continente africano e ali encontrou uma nova fonte de fornecimento de matéria-prima e alimentos que vai concorrer com a América Latina e pressionar os preços para baixo”, completou.

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