A Polícia Militar conseguiu angariar seu primeiro grande parceiro na luta contra os trotes ao serviço 190. A operadora de telefonia fixa Brasil Telecom está lançando um lote de 250 mil cartões telefônicos com uma mensagem educativa de apoio à PM, já que das cerca de 9 mil ligações recebidas pelo serviço, aproximadamente 60% são trotes. Os cartões foram apresentados nesta sexta-feira (04), em uma cerimônia acompanhada pelos secretários de Justiça e Cidadania, Aldo Parzianello, e de Comunicação, Airton Pissetti, além de diretores da empresa e comandantes da PM.
O trote é crime, sujeito a uma pena de dois a seis meses de reclusão, segundo o artigo 266 do Código Penal. A maioria deles é feita a partir de telefones públicos, que permitem o anonimato e dificultam a identificação do autor. É por isso que a PM espera obter bons resultados com a iniciativa da Brasil Telecom, que representa uma excelente oportunidade de memorização da mensagem. Cada cartão emitido com a orientação tem 40 créditos, que permitem até 80 minutos de conversação. Pela estatística da companhia telefônica, esse cartão fica em média 25 dias com o usuário e é retirado do bolso pelo menos 15 vezes.
“Ficamos gratos a esta iniciativa educativa, que é de grande valia em nossos esforços para prestar um bom serviço”, disse o coronel David Pancotti, chefe do Estado-Maior e sub-comandante da PMPR. “Esperamos que esta iniciativa contribua com a PM e com a comunidade paranaense, porque atinge justamente o público alvo que utiliza os 66 mil telefones públicos instalados no Paraná”, afirma Antonio Stefanski, gerente de mercado de telefonia pública da Brasil Telecom para o Paraná. A empresa vende em torno de 100 mil cartões por dia. Os cartões devem estar à venda em todo o Paraná, exceto em Londrina e Tamarana, a partir deste sábado (05).
De acordo com o major Jorge Costa Filho, chefe do Centro Integrado de Emergências (CINE), responsável pelo serviço 190, os casos de trotes mais comuns são em aparelhos situados próximos a escolas, nos horários de entrada e saída das aulas, perto de postos de saúde, pela manhã, e perto de bares, à noite. Para tentar combater o problema, a Polícia Militar também está fazendo um apelo aos professores das escolas da rede estadual e municipal de ensino para conscientizar seus alunos a não passar trotes na polícia.
A PM se dispõe inclusive a promover palestras nas escolas para orientar os professores e transformá-los em multiplicadores de informação. No momento este trabalho já vem sendo feito no Programa Educacional de Resistência às Drogas (Proerd), desenvolvido há três anos pela Polícia Militar em parceria com a Secretaria da Educação, que até julho deve atender 60.000 alunos de 9 a 12 anos da rede pública de ensino estadual. “Estamos lançando instruções específicas neste programa, para que as crianças aprendam a utilizar o 190”, explicou o coronel Pancoti. O Proerd é ministrado em forma de curso, com 17 aulas ao longo de um semestre.
Atendimento comprometido
Por causa do número absurdo de trotes recebido pelo serviço 190, quem precisa de auxílio da Polícia Militar em alguns horários encontra dificuldades em ser atendido e muitas vezes desiste de chamar a polícia. O telefone 190 concentra todos os pedidos para situações de emergências, tanto da polícia militar, bombeiros ou acidentes de trânsito. Ao todo são quase 9 mil ligações diárias, em média, mas apenas 12% a 17% ligações geram atendimento a um pedido de socorro.
“Em 37,6% dos casos são pessoas brincando ao telefone, falando besteira, xingando o atendente ou informando ocorrências inexistentes, trotes. Em 20% das ligações a pessoa é atendida, mas não fala nada”, afirma o major Jorge Costa Filho, coordenador do CINE. Outro tipo de mau uso do 190 é o pedido de informação que não se refere a emergência. São pessoas à procura de endereços ou telefones de outros órgãos públicos, às vezes para reclamar. Chega a 19% dos casos.
O problema é maior nos horários de pico de movimento para a polícia, entre 15 horas e 1 hora da madrugada, durante a semana. Às sextas e sábados o problema se estende das 17h às 3h da madrugada. Nesse período, forma-se uma fila com pelo menos dez pessoas à espera de atendimento. Em momentos críticos chega a 18. Em menor escala, também causa transtorno o não cancelamento de chamados quando a situação é resolvida antes da chegada da polícia. “Por causa de situações como essa, pode levar horas até que a viatura chegue ao local para levar socorro a alguém que realmente precisa de ajuda”, lamenta o major Costa. “É uma situação desconfortável, que nos deixa impotentes”.